Cenário atual das livrarias de Norte a Sul
PublishNews, Matheus Perez, 28/08/2013
Convenção da ANL reuniu livreiros de todo o país para falar dos desafios

Um dos objetivos da 23ª Convenção Nacional de Livrarias, que está acontecendo entre ontem e hoje, em Copacabana, no Rio de Janeiro, é garantir o intercâmbio de experiências e dicas entre os livreiros de todo o país. Para isso, a ANL promoveu a mesa “Cenário atual das livrarias de Norte a Sul”, na qual um livreiro de cada região do país teve a oportunidade de falar sobre os desafios em sua região e também sobre seu negócio. A mesa foi mediada por Vitor Tavares, diretor da ANL (Associação Nacional de Livrarias), vice-presidente da CBL (Câmara Brasileira do Livro) e gestor da distribuidora e livrarias Loyola.

Antonio Bentes Valle Junior, dono da livraria Saber, em Roraima, expôs os desafios de uma livraria no Norte do país, mas também mostrou como ele tenta compensar isso em sua empresa. O principal desafio é a logística. Segundo Antônio, os pedidos levam de 30 a 45 dias para chegarem até sua livraria depois de terem sido enviados. Além disso, o frete normalmente é muito caro e faz com que os preços dos livros sejam muito maiores do que no restante do país. Outro problema é a falta de mão de obra qualificada. Existe uma rotatividade muito alta de funcionários. Ele tenta compensar isso na variedade de títulos oferecidos e de áreas atendidas. Na capital do estado há apenas duas livrarias.

Na região Nordeste, Helio Ricardo, dono da livraria O Mundo de Sofia explicou que também sofre com a logística. Embora os pedidos demorem um pouco menos para serem entregues, muitas vezes sua livraria já teve que reembolsar o cliente porque as distribuidoras e editoras simplesmente não entregaram o pedido. Helio afirmou que algumas livrarias tem uma relação especial com algumas editoras e isso acaba prejudicando a distribuição na região. Além disso, a falta de investimentos de todas as esferas do governo em cultura e educação dificulta o mercado livreiro, já que a leitura de livros está intimamente ligada aos índices de educação.

Marcus Teles, diretor da rede de livrarias Leitura e diretor da ANL, detalhou em números a presença de livrarias na região Centro-Oeste e mostrou como a presença de livrarias lá está abaixo da média nacional. O único estado da região em que os índices de livraria por habitante estão acima do restante do país é o Distrito Federal, onde existe uma livraria a cada 33,9 habitantes. No país esse índice é de 62,4 habitantes por livraria. Ele indicou ainda que as capitais dos estados da região estão muito bem servidas de livrarias, e que o número de megastores (lojas acima de 800 m²) é maior do quem em algumas capitais do sudeste, considerando a população. Marcus concluiu apontando que existem muitos outros pontos de vendas de livros que não estão contabilizados nos índices, que chegam a mais do que triplicar os pontos de acesso aos livros.

A região Sudeste foi representada por Milena P. Duchiade, da livraria Leonardo da Vinci, no Rio de Janeiro. Ela revelou que, embora haja uma maior concentração de livrarias na região Sudeste do que no restante do país, alguns dos desafios enfrentados são muito parecidos ao de outras regiões do país. Principalmente a logística e ineficiência das editoras e distribuidoras em atender as pequenas livrarias da região. Muitas vezes a editora fica na mesma cidade do que a loja e o pedido demora mais de quinze dias para ser entregue. Ela denunciou ainda o fato de que o governo, as editoras e as distribuidoras costumam dar atenção especial às maiores redes e ignoram o pequeno livreiro, que não tem força e capital para concorrer com o grande, mas também é um ponto de acesso à cultura. Milena afirmou que toda a cadeia precisa lembrar de que “o livro se escreve devagar, se lê de vagar, e se vende devagar” e, por isso são necessárias políticas que auxiliem os livreiros independentes nesse processo. Ela concluiu mostrando como as zonas metropolitanas das grandes cidades da região continuam desprovidas de livrarias e o índice de livraria por habitante é muito abaixo do nacional.

Paulo Roberto Post, da Livraria Midas, em Joinville, focou sua apresentação nos desafios enfrentados por sua empresa em particular. Desafiou os livreiros a se reinventarem e disse que não vê problema em oferecer outros produtos como games, brinquedos e papelaria em sua loja. Ele afirmou que o mercado está muito desafiador para as livrarias hoje no país, e que os livreiros precisam tomar as rédeas da situação e fazer de tudo para garantir a sobrevivência de seus negócios.

[28/08/2013 00:00:00]