Queda do interesse pelo Scandi Crime?
PublishNews, Pasi Loman, 22/07/2013
Nordic Noir vs French Noir

“O fenômeno cultural da região que nos deu séries como The Bridge, Borgen e The Killing não mostra nenhum sinal de desaceleração”, escrevem Paul Bignel e Paul Gallagher na edição de 17 de junho de 2013 do jornal britânico The Independent em um artigo sobre livros, filmes e séries de TV dos países nórdicos. Então por que, apenas um mês depois, o mesmo jornal, em artigo divulgado pelo PublishNews, afirma que há ldquo;uma queda no interesse por histórias de detetives e crime nórdicos...”? Porque a última afirmação foi feita por pessoas que buscam promover romances policiais franceses: uma editora, um tradutor de francês-inglês e a chefe do departamento de livros do Instituto Francês. De fato, é do interesse destes afirmar que o “Scandi Crime” esteja em declínio e que a ficção policial francesa trará a próxima onda de sucessos.

Claro que é possível que mais autores franceses de romance policial estejam surgindo. Porém, apenas o fato de que o autor francês Fred Vargas tenha ganho o prêmio CWA não pode ser visto como evidência de uma “nova onda”, especialmente se considerarmos que esta é a terceira vez que ele o ganha. De qualquer maneira, o sucesso de autores franceses não significa que os autores escandinavos sofram com tal sucesso.

Na verdade, livros, filmes e séries de TV do Scandi Crime continuam a ser extremamente populares, como mostra o artigo de 17 de junho no The Independent. É evidente que pessoas que trabalham com o Scandi Crime, como eu, podem ser acusadas de ser tão parciais quanto os franceses. Devo, assim, apontar alguns fatos e estatísticas. Por trás dos fenômenos mundiais como Stieg Larsson, Henning Mankell e Jo Nesbo, há inúmeros autores escandinavos de romances policiais cujas obras foram traduzidas em 10, 20 ou mais idiomas, muitos dos quais venderam milhões de cópias e apareceram em listas de mais vendidos. Alguns exemplos incluem: Anna Jansson, editada em 14 países com mais de 1 milhão de livros vendidos; Viveca Sten, publicada em 12 países com 1,2 milhões livros vendidos somente na Suécia (população de 9 milhões); Hakan Nesser, publicado em mais de 20 países com mais de 3 milhões de livros vendidos; Leena Lehtolainen, editada em 29 países com mais de 2,3 milhões de livros vendidos (o primeiro livro da Lehtolainen, Meu Primeiro Assassinato, será lançado no Brasil na Bienal do livro pela Vertigo, um novo selo da Autêntica, que também publicará em breve o norueguês Gunnar Staalesen e os irmãos dinamarqueses Hammer & Hammer e está avaliando outros autores nórdicos). Tamanho é o talento e popularidade que a agência literária Vikings of Brazil, especializada em literatura nórdica, frequentemente se recusa a representar autores nórdicos de romances policiais que tenham sido vendidos em “apenas” 5 a 10 países.

Outra evidência do sucesso contínuo do Scandi Crime, ou Nordic Noir, são os eventos internacionais organizados em torno do tema. No mês passado aconteceu a Nordicana na Inglaterra e no mês que vem haverá um festival de Scandinavian Crime Cinema nos EUA, na American Film Institute (AFI) Silver Theatre. Praticamente todos os filmes no festival são baseados em livros, e obviamente os filmes ajudam vender mais livros e vice-versa.

Tambémé importante notar que o sucesso do Scandi Crime não depende de autores já estabelecidos. Novos autores são descobertos continuamente, que rapidamente conquistam o mundo com seus romances de estreia. Destes, podem ser mencionados sucessos recentes como Erik Axl Sund, vendido para 33 países (inclusive o Brasil), e Jacob Melander, vendido para 9 países (ainda disponível no Brasil). A conclusão é que não há queda no interesse pelo Scandi Crime, o gênero continua a vender extremamente bem e há fortes indícios que sugerem que seu sucesso internacional continuará por muito tempo.

Pasi Loman é agente literário, sócio da Vikings of Brazil Agência Literária e de Tradução Ltda. & representante do Instituto Ibero-Americano da Finlândia no Brasil.

[22/07/2013 00:00:00]