O que o Google disse aos livreiros e editores
PublishNews, Roberta Campassi, 08/12/2011
Em apresentação oficial, empresa chamou atenção para o mercado de e-books, divulgou serviços e abriu as portas para negociações – mas não deu detalhes sobre modelo de negócios

Já faz algum tempo que o Google vem conversando com editores e livreiros brasileiros, mas hoje de manhã a empresa marcou sua presença oficialmente, ao reunir, em São Paulo, potenciais parceiros para apresentar suas ferramentas e loja digital voltadas ao mercado de livros. Num momento em que gigantes como a Amazon e a Apple têm interesse declarado pelo Brasil, o Google acelera a busca por editores e varejistas para conseguir colocar seu modelo de negócios em pé no país.

Num evento que reuniu cerca de 150 pessoas, o Google apresentou seus serviços em linhas gerais e respondeu perguntas dos participantes. Mas manteve-se calado, pelo menos publicamente, sobre os detalhes do modelo de negócios e de remuneração. “Todas essas informações serão discutidas individualmente, caso a caso” repetiu algumas vezes Newton Neto, responsável no Brasil por desenvolver as parcerias no mercado de livros. Já se sabe, porém, que o padrão usado pelo Google nos Estados Unidos determina que ele retenha 65% do valor das transações quando atua como distribuidor, e depois divida essa fatia com os varejistas, em proporções que não foram mencionadas.

Em resumo, o Google apresentou suas principais ferramentas e citou vários números para convencer os participantes de que o crescimento do mercado de e-books é um caminho sem volta. De acordo com Tom Turvey, diretor de parcerias estratégicas para serviços de busca do Google, as receitas de editoras americanas com livros digitais, que eram de apenas 0,5% e 6,2% em 2010, já chegam a 23% em 2011. “A migração é inevitável. Vocês podem lutar contra ou investir para fazer parte. É o que falamos no Google: você pode ficar na frente do ônibus ou dentro dele.”

Uma das ferramentas apresentadas, já mais conhecida por editoras e livreiros, é o Google Preview, onde as editoras parceiras disponibilizam trechos digitalizados de seus livros. Por meio dessa ferramenta, os livros passam a fazer parte dos resultados da busca tradicional do Google (sem que as editoras tenham que pagar por isso) além de poderem ser visualizados no site de varejistas e também no Google Books.

O Google Books é um serviço de busca para livros, em que o internauta digita um termo e encontra as obras que têm ligação relevante com a palavra. A ferramenta permite a compra do exemplar do livro físico redirecionando o usuário para o site de um varejista parceiro. No mundo, o serviço está disponível em cem países e tem 40 mil editoras participantes com dois milhões de livros cadastrados. No Brasil, são 200 editoras e 30 mil livros no total.

Mas o Google Books também passará a incluir e-books, e esse é o grande interesse da companhia e de onde virá a maior parte de suas receitas no negócio de livros. A aba “e-books” ainda não está disponível no Brasil, mas à medida que as parcerias forem fechadas ela será criada.

No esquema do Google eBooks, as editoras deverão entregar os arquivos dos seus livros digitalizados – em PDF ou ePub – ou então entregarão os livros físicos ao Google, que vai digitalizá-los gratuitamente “de forma mais rápida e com mais qualidade do que qualquer outra empresa”, afirma Chris Palma, responsável pelo desenvolvimento de parceiros estratégicos do Google. Os livros digitalizados ficarão na nuvem do Google, ou seja, não haverá “download” de arquivos, e sim acesso a eles.

Uma vantagem? A editora pode passar a ter seu acervo digitalizado sem custo nenhum. Uma desvantagem? O arquivo digitalizado não é entregue à editora e fica exclusivamente na nuvem do Google.

É a editora quem decidirá, ao se juntar à empresa americana, em quais territórios os e-books podem ser vendidos, os aparelhos em que podem ser acessados e quanto do livro pode ser “copiado e colado” ou impresso.

O Google não terá apenas editoras como parcerias, mas também livrarias, que poderão passar a utilizar a ferramenta do Google para fazer a venda de e-books. Vale para os varejistas que ainda não têm uma plataforma de venda do produto, e também para quem já tem. “Uma das vantagens da plataforma do Google é que ela tem recursos tecnológicos que a nossa ainda não oferece”, afirmou Mauro Widman, responsável pela área de e-books da Livraria Cultura, ao PublishNews.

No mundo, o Google tem 600 livrarias parcerias, praticamente todas independentes. “Mas não vemos isso acontecendo no Brasil. Gostaríamos de trabalhar com os líderes de mercado aqui, funcionando como distribuidores para eles”, afirmou Neto.

Um dos itens que o Google oferece é a sincronização de leitura dos títulos comprados em diferentes dispositivos – seja tablet, smartphone, e-reader, PC etc. Por outro lado, uma das desvantagens para a livraria, segundo Widman, é que a proposta do Google prevê que a compra seja finalizada em seu ambiente. Para simplificar, o carrinho de comprar não é da livraria, e sim do Google, o que reduz o controle que a varejista tem sobre o que o cliente está comprando. É algo a ser observado na medida em que o Google avança nas conversas aqui no Brasil.

O Google também pretende lançar a sua Google Store no país, acessível pela web ou por aplicativos, que funcionam no sistema operacional Android e outros, inclusive o iOS da Apple.

Segundo Newton Neto, a loja no Brasil será lançada ainda em 2012 – já há lojas em funcionamento nos EUA, Canadá, Austrália, Inglaterra.

Quanto o Google vai ganhar com tudo isso? Vários participantes fizeram a pergunta e a resposta repetida foi que serão feitas negociações individuais – e elas começam já. Mas, segundo Chris Palma, em declaração ao PublishNews, o Google tem um padrão estabelecido nos Estados Unidos: fica com 65% do valor quando atua como uma distribuidora (e depois divide essa porção com a varejista parceira) e com 55% quando atua diretamente como varejista.

[08/12/2011 01:00:00]