Discreto, Gonçalo M. Tavares encanta em Passo Fundo
PublishNews, Maria Fernanda Rodrigues, 26/08/2011
Depois de valter hugo mãe na Flip, foi a vez de Gonçalo M. Tavares arrebatar os brasileiros

Gonçalo M. Tavares é desses escritores que dão trabalho ao editor. O caso mais extremo foi quando pediu que segurassem a impressão de um livro porque ainda não estava satisfeito com o prefácio. O editor acatou e as duas páginas viraram quatro linhas. É que Gonçalo tenta seguir a metodologia do Padre Antonio Vieira, que no final de uma carta escreveu: "Peço desculpas por esta carta tão longa, mas não tive tempo de fazê-la mais curta”. Para ele, concisão é imprescindível. “Se eu puder dizer uma ideia em sete palavras não vou dizer em 10 para não gastar o tempo do leitor. Quando somos muito exaustivos não respeitamos o leitor e não deixamos espaço para a interpretação”, comentou durante sua passagem pela Jornada Nacional de Literatura, em Passo Fundo.

Ele participou do evento em dois momentos. No palco principal, falou sobre identidade e globalização ao lado de Luiz Costa Lima, Maria Esther Maciel, Nilson Luiz May, Tatiana Salem Levy e Arthur Martins Cecim. Na sequência, ele foi até o Centro de Convivência da Universidade de Passo Fundo, uma espécie de shopping dentro do campus com praça de alimentação e uma grande filial da Livraria do Maneco, para uma conversa mais informal mediada por Ignácio de Loyola Brandão.

Ele contou que tenta não planejar muito seus livros e que quando começa a escrever não faz nem ideia de quantos personagens criará para aquela história. “E quando tenho uma coisa já estruturada na cabeça, não quero mais escrever”. Ele contou que seus livros têm um tempo de maturação. “Nunca publico um livro depois de escrever. Sempre guardo por dois ou três anos. É um pouco louco, mas é meu processo”. Neste intervalo ele consegue esquecer por completo da obra e pode fazer a leitura com o olhar do leitor.

Gonçalo escreve todos os dias, sempre pela manhã. Às vezes produz 20 páginas em um só dia, e depois leva um mês para transformá-las em quatro. “Cortar contos é que é dramático”, disse. Gonçalo comparou seu processo de produção em alguns dias com o estado de embriaguês e contou que quanto mais erro de digitação tiver no texto mais satisfeito ele fica. “Quanto mais rápido escrevo, melhor sai. Isso é estranho. É quase uma embriaguês. No dia em que as coisas vão bem as letras estão fora do lugar e é daí que saem as melhores páginas”.

A escolha dos títulos dos livros e do nome de seus personagens é a parte mais irracional do trabalho do escritor português. “É uma coisa instintiva. O romance Jerusalém só poderia ter aquele nome mesmo que ele não recorra a nada que tenha a ver com Jerusalém”. Por este livro, vencedor do Prêmio José Saramago em 2005 e do Portugal Telecom em 2007, Gonçalo recebeu elogios do próprio Saramago: “Gonçalo M. Tavares não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos: dá vontade de lhe bater!”

Quem perdeu a Jornada de Passo Fundo ainda tem a chance de ouvi-lo no dia 4 de setembro na Bienal do Rio de Janeiro. Sua palestra “O autor e a busca da expressão justa e a aventura da metáfora” começa às 14h e será mediada por Suzana Vargas.
[26/08/2011 00:00:00]