Mercado de livros infantis e juvenis em pauta na Jornada
PublishNews, Maria Fernanda Rodrigues, 24/08/2011
Dolores Prades, Miriam Gabbai, Julia Schwarcz e Ieda de Oliveira abriram a programação do Simpósio Internacional de Literatura Infantil e Juvenil

A responsabilidade do editor de literatura infantil, o desenvolvimento do setor a partir da institucionalização dos programas de compras do governo, o ciclo de vida do livro infantil e as novas possibilidades que se abrem com a popularização do livro digital foram alguns dos temas abordados por Dolores Prades, Miriam Gabbai, Julia Schwarcz e Ieda de Oliveira no Simpósio Internacional de Literatura Infantil e Juvenil, que tem a coordenação de João Luis Ceccantini e é um dos eventos paralelos da Jornada Nacional de Literatura.

Na literatura infantil e juvenil, há sempre alguém dizendo o que deve ser lido e o editor pode ser o primeiro mediador, comentou Dolores Prades, curadora da Babel Jr., coordenadora do projeto Conversas ao Pé da Página e colunista do PublishNews. “O que está disponível no mercado e o que se lê ou o que não se lê vêm de uma decisão de um editor”, completou. E ele pode apostar em histórias mastigadas ou na literatura que preza a inteligência da criança, que sabe ler o silêncio e aquilo o que não está escrito.

Dolores destacou ainda que este é um dos únicos gêneros onde nem autor, nem ilustrador e nem editor tem relação igualitária com o leitor e que por isso a leitura é sempre mediada. Lembrou também que o livro tem data de nascimento e morte, especialmente no caso das grandes editoras, e Julia Schwarcz, editora da Companhia das Letrinhas, comentou que os livros para adultos nos Estados Unidos têm quatro meses para acontecer. “Não decolou, é incinerado”. Isso seria precipitado no caso de livros infantis por aqui, já que, segundo Julia, a venda em livraria acontece muito lentamente.

E por falar em livraria, Julia comentou que há 10 anos as lojas não tinham espaço exclusivo para esse tipo de livro, mas que hoje elas já viraram ponto de encontro de pais e filhos nos finais de semana. Outro fator que mostra o desenvolvimento desde segmento editorial é que até pouco tempo, segundo Julia, os profissionais que cuidavam dos livros infantis nas editoras eram os últimos a falar em uma reunião de planejamento. Hoje, os infantis já garantem a sobrevivência das editoras.

Isso tudo por causa dos programas de compras do governo. “Esses programas mudaram as coisas e geraram uma nova postura dentro das empresas. Ninguém sobrevive sem as compras de governo”, disse Julia. “Além do texto, o projeto gráfico e qualidade de impressão contam na hora da escolha, que é feita por grupos de universidades”, explicou. Para ela, essa seleção é transparente e a editora sempre recebe os pareceres, com indicação dos erros e comentários.

Miriam Gabbai, diretora da Callis, falou sobre e-books e assegurou que “o mundo digital vai conseguir conquistar leitores”. Ela comentou sobre a experiência de sua editora com o projeto Biblioteca Callis e também a da Unesp, que criou uma editora para transformar teses em livros eletrônicos. Quanto à disseminação dessa ideia nas escolas, Miriam comentou que um dos empecilhos é que a tecnologia ainda não chegou à sala de aula. “Mas para o jovem tanto faz se o livro está em papel ou não. Vamos conquistar leitores que hoje não lêem. O mundo digital vai conseguir chegar pela facilidade e simplicidade de comprar um livro e vai chegar aonde o livro impresso não chega”. “O mundo digital é como uma piscina. Todos os alunos estão dentro e temos que dar maiô aos professores”.

Ainda sobre a responsabilidade de se produzir livros infantis e juvenis, Ieda Oliveira falou do ponto de vista do escritor. Não basta sentar e escrever, ou editar. É preciso ter em mente que “literatura infantil e a literatura adulta são completamente diferentes e que os livros para crianças necessitam atingir um nível de excelência estético”, comentou.

O seminário será realizado até a sexta-feira, dia 26. Nesta quarta-feira, Gustavo Bernardo, Fanuel Diaz e Roger Mello conversaram sobre o tema “A literatura além do verbal”. Confira a programação dos próximos dias.

[24/08/2011 00:00:00]