Livraria mais antiga do Brasil lança loja virtual
PublishNews, Carlo Carrenho, 18/11/2010
A campista Ao Livro Verde, que já vendeu até rapé, adapta-se aos novos tempos e quer inaugurar seu site ainda este ano

Corria o mês de junho de 1844. E foi na quinta-feira, dia 13 daquele mês, que a livraria Ao Livro Verde abria suas portas na então rua da Quitanda, nº 22, na cidade fluminense de Campos dos Goytacazes. O empreendimento foi inaugurado pelo português José Vaz Correia Coimbra. “Havia na época um porto importante na região – o Cais do Imperador na foz do no rio Paraíba do Sul –, que trouxe muitas famílias portuguesas para cá”, explica Ronaldo Sobral, atual proprietário da loja. “Graças a isso, havia uma demanda por livros importados de Portugal”.

Cento e sessenta anos depois, o cais não existe mais, as famílias portuguesas se tupinicanizaram e o Brasil já produz seus próprios livros, mas a livraria Ao Livro Verde continua de portas abertas na rua Governador Teotônio Ferreira de Araújo, nº 66. Mudou de endereço, pensariam os mais incautos. Mas não – foi a rua que mudou de nome e de numeração. A livraria segue onde sempre esteve e é a mais antiga livraria do Brasil em funcionamento.

É bem verdade que possui uma grande área dedicada a produtos de papelaria e oferece uma gama de produtos bastante variada e nem sempre diretamente ligada ao livro. Mas a realidade é que a Ao Livro Verde já nascera assim e, em tempos de desafios para as livrarias independentes, parece encontrar em suas origens uma forma de sobreviver. Como o jornal O Monitor Campista noticiou na época da abertura da loja, o estabelecimento oferecia, além de livros, “...perfumarias, miudezas, livros pautados e em branco, um lindo sortimento de jóias do último gosto, drogas medicinais e para pintura...”, além de comercializar, como não podia deixar de ser, “o verdadeiro rapé Bernardes”, que supria, nos idos de 1844, a falta do similar Princesa de Lisboa.

Mas Ronaldo Sobral, cuja família é proprietária da livraria há 80 anos, não olha apenas para o passado. “Nossa loja virtual sai ainda este ano no ar”, explica o livreiro, ao lado do cyber café que já existe na loja física e de olho no futuro. Até já existe algum movimento no www.aolivroverde.com.br, embora o catálogo ainda não esteja no ar. Mas o que importa é que lá no alto da página já estão publicadas, com muito orgulho, as palavras “Desde 1844”.

Abaixo republicamos a íntegra da notícia sobre a abertura da livraria Ao Livro Verde publicada em O Monitor Campista. Mantivemos a grafia da época:

" Loja do livro verde, rua da Quitanda n. 22

José Vaz Correia Coimbra e C.ª, annuncião ao respeitável publico que acabão de abrir sua casa de negocio, com a denominação acima especificada, na qual se acha para vender o seguinte: um variado sortimento de obras e mais pertences para escolas de instrucção primariae secundaria de latim e francez, bem como novellas, historias e romances; musica de cantoria e para pianno, e vários instrumentos de corda e sopro; papel almço e de peso de differentes qualidades, dito de Hollanda, e outros accessorios para escriptorio; perfumarias, miudesas, livros pautados e em branco, um lindo sortimento de jóias do ultimo gosto, drogas medicianaes e para pintura, broxas e papelão de números sortidos, o verdadeiro rapé Bernardes, que já supre a falta do princesa de Lisboa, excellente chá hisson, bem como outros muitos artigos que se hão de annunciar. Os annunciantes se propõem a servir e por preços razoáveis, as pessoas que queirão honrar com sua confiança."

O Monitor Campista, ed. 419, 2/7/1844

[18/11/2010 01:00:00]