O que se lê no metrô?
PublishNews, Fernando Alves, 27/01/2010
A leitura dos passageiros do Metrô de São Paulo recai sobre muitos e variados temas. É uma sala de leitura eclética e democrática.

Muito além dos vampiros de Stephenie Meyer e do bruxo Harry Potter, a leitura dos passageiros do Metrô de São Paulo recai sobre muitos e variados temas. É uma sala de leitura eclética e democrática. Ao longo de um mês, acompanhei, atento e curioso, meus companheiros de viagem entre as estações Santana (onde moro) e Vila Madalena (onde trabalho... ou seria o contrário?), observando o que liam.

Um panfleto com orientações sobre o cultivo de cogumelos, embalagem de perfume, cartão de aniversário, catálogos da Avon e da Natura, o verso de um crachá... Muito se engana quem pensa que livros, revistas e jornais são as únicas leituras no Metrô de São Paulo. O universo de documentos aí lidos é muito, muito amplo mesmo. É bem verdade, porém, que livros, revista e jornais - nessa ordem - são os preferidos. Mulheres lêem mais livros. Homens lêem mais jornais. E ambos dividem a preferência pelas revistas.

Nesse período, observei cuidadosamente o que liam os viajantes do mais eficaz meio de transporte paulistano: eu olhava as pessoas no vagão em que eu seguia, dentro dos trens em sentido contrário, andando nas plataformas, subindo e descendo nas escadas rolantes, sentados nos poucos bancos dispostos nas estações: cada canto do Metrô é povoado de leitores!

Falando de livros: a coleção de Stephenie Meyer publicada pela Editora Intrínseca, em seu conjunto (Eclipse, Lua Nova, Crepúsculo, Amanhecer), é a campeã de leitura no metrô, seguida à distância pela coleção do bruxinho mais querido das crianças, adolescentes e... adultos! Dos leitores de Harry Potter identificados, ninguém com menos de 20 anos. Isoladamente, todavia, a Bíblia é o livro mais lido no vaivém dos paulistanos pelos trilhos do metrô.

Ainda a respeito dos livros, merecem menção - pela frequência de leitores - as obras 1808 (Gomes, Planeta), A cabana (Young, Sextante), O caçador de pipas (Hosseini, Nova Fronteira), O monge e o executivo (Hunter, Sextante), O vendedor de sonhos (Cury, Academia de Inteligência). Naturalmente, eu não pude ler as capas de todos os livros - ponto para aquelas cuja tipologia mais legível, associada ao equilíbrio de elementos figurativos, divulgava, ela mesma, o livro. Só não sei por que, ao carregar os livros, as pessoas os tragam junto ao peito com a capa virada para si, impossibilitando os outros de enxergarem o que lêem. Tive ganas de pedir para virarem o livro... mas me contive.

Algo similar acontece com as revistas: seus leitores as dobram ao meio, mas sempre com a capa voltada para dentro... E por falar em revistas, reinando solitariamente, a Veja é, de longe, a mais lida. Dela só chegam perto as clássicas palavras-cruzadas Coquetel. Igualmente isolada na liderança, agora na seara dos jornais, está a Folha de S. Paulo, acompanhada, ainda que de longe, pelo esportivo jornal Lance! Isso sem contar, claro, com o campeão de leitura - mais do que todos os livros, revistas, jornais e demais documentos somados: o jornal Metro, distribuído gratuitamente.

Curiosamente, o número de leitores de jornal é praticamente igual ao número de leitores de... cópias reprográficas! E, mais curiosamente ainda, são as mulheres as campeãs do xerox: elas carregam dois terços do material copiado ilegalmente (em geral, jovens que lêem cópias de livros-textos). Não sabem o que perdem... Agora que acabei a pesquisa, volto à minha leitura - de livros - diária, nos 45 minutos (na ida e na volta) que separam a estação Santana da estação Vila Madalena!
[27/01/2010 01:00:00]