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Preços de e-books no Brasil. Conquista de mercado e indiferença
PublishNews, 23/07/2013
Preços de e-books no Brasil.

Há alguns dias fiz uma pesquisa de preços para comprar um livro que me interessava. Queria ler The Financial Lives of the Poets, de Jess Walter. Sabia que havia uma tradução e resolvi verificar se leria o livro em inglês ou na tradução, e se havia disponibilidade dessa tradução em e-book, fosse no formato ePub ou Kindle.

Havia. A Benvirá, editora no Brasil, vendia (exclusivamente) na loja da sua matriz, a Saraiva,o livro em formato ePub. O preço de capa do livro impresso era R$ 39,90, adquirido na Saraiva saía por R$ 33,90 e o e-book... custava R$ 35,90! (Isso até o dia 22/07. No dia 23/07, o site apresentou uma mudança significativa: passou a vender os dois formatos pelo mesmo preço de R$ 35,90).

Ou seja, a Benvirá dava 15% de desconto para quem comprasse o livro na Saraiva, mas quem o adquirisse para ler no aplicativo da cadeia de livrarias ou em algum Kobo ou tablet, ganhava apenas 10%. A Saraiva, como se sabe, não vende nenhum e-reader próprio. Apenas disponibiliza aplicativo para quem quiser ler nos desktops ou em tablets.

À surpresa seguiu-se a perplexidade. Quem seria idiota o suficiente para comprar um e-book, depois de ter gasto no mínimo mais R$ 259,00 (Kobo mini) ou R$ 299,00 (o Kindle mais barato), para pagar mais caro que o livro impresso? Afinal, quem tem ou pensa em comprar um e-reader (ou um tablet, que é mais caro, mas é multiuso) sabe perfeitamente que a grande vantagem dos e-books está no preço, e que um leitor assíduo amortiza rapidamente o investimento com o que economiza no preço dos livros.

Eu não acompanho de perto a evolução dos preços de e-books no Brasil. Acompanhei o processo de chegada do Kobo e do Kindle, e as notícias sobre sua presença aqui, e a expectativa de que a evolução da participação de e-books no mercado tivesse evolução similar à que aconteceu em outros países. Diante da surpresa, resolvi fazer uma brevíssima pesquisa de preços. Nada científico nem sistemático. Simplesmente peguei alguns títulos de três editoras (Benvirá, Record e Companhia das Letras) para “sentir” como os preços se comportavam.

No site da Benvirá aparecem as indicações de preço (com os livros impressos referidos à loja virtual da Saraiva) e uma aba para o e-book. No site da Record, a indicação de que existe uma versão em e-book remete às lojas que a vendem, e no da Companhia das Letras aparecem os preços de capa e de e-books (oficiais), mas nem sempre está assinalado o preço do e-book.

Como se tratava apenas de uma “percepção”, procurei os preços dos e-books apenas na Amazon (Kindle) e na Kobo. Deixei de lado as demais lojas. Para ter uma referência sobre o preço praticado por cadeias de livrarias (se teriam ou não descontos), fui ver os preços no site da Livraria Cultura. Mais uma vez repito. Não pretendia destacar nem as editoras nem as livrarias. Só queria ver se o comportamento da Benvirá se repetia.

O resultado está abaixo:

Nota: Os preços de A Vida Financeira dos Poetas no Kindle e no Kobo são das edições em inglês.

Efetivamente, pelos preços verificados, o braço editorial da Saraiva, a Benvirá, mostrou que pouco se importa com a venda de e-books. E que não usa todos os canais de venda disponíveis: nenhum de seus livros com edições eletrônicas estava disponível na loja Kindle ou na loja Kobo. Só podiam ser comprados na Saraiva.

O único livro com um desconto significativo na versão e-book foi o Deserto, do Luís Krausz, que pode ser adquirido com 50% de desconto. Nos demais, o desconto padrão era de 10% sobre o preço de capa oficial da edição impressa, e que às vezes resultava em um preço maior para o e-book vis-à-vis o preço do impresso ofertado pela Saraiva.

Nas outras editoras fica clara a existência de várias estratégias de precificação dos e-books. O livro mais conhecido da Lya Luft (Record), teve sua versão e-book ofertada com 69% de desconto no Kindle e 67% na Kobo. Já um livro em domínio público, com a tradução já paga e formato de bolso (Mansfield Park, da Jane Austen) teve apenas 5% de desconto na versão eletrônica. E assim por diante.

A grande interrogação que sobra disso, por enquanto, é sobre as intenções da Saraiva em relação aos livros eletrônicos. A empresa vende seus e-books apenas em suas lojas próprias. Não posso afirmar de modo absoluto, mas tudo indica que não vende através das outras livrarias eletrônicas. Também não dispõe de um e-reader, apenas do aplicativo. Seus livros, portanto, só podem ser lidos nos e-readers dos demais (exceto no Kindle). E a precificação é o que vimos.

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro, pela Summus Editorial. Mantêm o blog www.oxisdoproblema.com.br. Em sua coluna, Lindoso traz reflexões sobre as peculiaridades e dificuldades da vida editorial nesse nosso país de dimensões continentais, sem bibliotecas e com uma rede de livrarias muito precária. Sob uma visão sociológica, ele analisa, entre outras coisas, as razões que impedem belos e substanciosos livros de chegarem às mãos dos leitores brasileiros na quantidade e preço que merecem.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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