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Máquinas de fazer livros, distribuição e impressão sob demanda
PublishNews, 18/09/2012
Máquinas de fazer livros, distribuição e impressão sob demanda

Quando a Xerox lançou a Docutech, há quase vinte anos, anunciou a nova máquina como uma “fábrica de livros”. Ainda não era: a capa tinha que ser impressa em máquinas planas e o acabamento exigia complementos ou devia ser feito por métodos tradicionais. Não era uma “fábrica de livros”, mas era o início de um caminho que parece estar chegando a uma etapa de amadurecimento definitivo.

Da Docutech em diante muitos outros modelos apareceram, inclusive para a produção de capas a cores em papel com gramatura adequada. Os sistemas POD – impressão sob demanda em inglês – tornaram-se componente da cadeia produtiva do livro, eliminando em grande medida a formação de onerosos estoques. Tanto a Amazon quanto as cadeias de livrarias e distribuidores dos EUA também usam esse sistema para oferecer a seus clientes, em tempo recorde, livros que, em outras eras, já estariam esgotados há muito tempo.

Na época do lançamento da Docutech, alguns futuristas imaginavam máquinas semelhantes instaladas em livrarias, produzindo os livros recebidos em formato eletrônico para atendimento de seus fregueses. Pois bem, essa realidade se aproxima com celeridade.

Semana passada a Publisher’s Weekly – a revista da indústria editorial dos EUA – anunciou que a empresa On Demand Books estava desenvolvendo parcerias com outras duas: a Reader’s Link e a Kodak Pictures Kiosk. O objetivo: levar verdadeiras fábricas de livros, produzidas pela On Demand para cerca de 24.000 pontos de vendas espalhados nos EUA. Sim, leram bem: vinte e quatro mil pontos de venda fabricando livros na hora para seus clientes.

Vamos por partes.

A On Demand é uma empresa originária de uma série de conferências feitas em 1999 na Biblioteca Pública de Nova York por Jason Epstein, que foi Diretor Editorial da Random House e um dos fundadores da The New York Review of Books, criador da Anchor Books, que fez uma verdadeira revolução na área dos paperbacks, fundador da Library of America – que edita clássicos em edições de bolso – e pioneiro das vendas de livros online. Um autêntico visionário e inovador da indústria editorial americana, pelo que foi agraciado com o Curtis Benjamin Award, da Associação dos Editores dos EUA.

Nessas conferências Epstein delineou o futuro da impressão sob demanda: uma máquina completamente automática que pudesse ser colocada nos bairros, nas livrarias, cafés, bancas de revista, bibliotecas, hoteis, supermercados, aeroportos, etc.

Sem que Epstein soubesse, já existia um protótipo desse projeto, criado na oficina de Jeff Marsh, em St. Louis. Em 2003, Epstein e seu sócio Dane Neller fundaram a On Demand Books (ODB) para desenvolver o equipamento de Marsh e integrá-lo ao mundo digital. Uma doação da Alfred P. Sloan Foundation proporcionou recursos para que a ODB desenvolvesse, testasse e construísse a primeira versão da máquina, que foi instalada na World Bank Infoshop, em Washington, imprimindo na hora os livros editados pelo Banco Mundial. Uma segunda máquina foi instalada na nova Biblioteca de Alexandria, no Egito, para imprimir livros em árabe. E logo estabeleceram uma parceria com a Xerox, cuja força de vendas trabalha com o equipamento. A Docutech, transformada agora na Espresso Book Machine, chegou à maturidade.

A máquina é impressionante. Produz um paperback com qualidade, em aproximadamente cinco minutos, a partir do arquivo digital. E produz integralmente: imprime, compagina, imprime a capa, cola o miolo e a capa e refila o produto final. O vídeo demonstrando isso pode ser visto aqui.

Os dois recentes empreendimentos da empresa é que permitirão, segundo a PW, que a On Demand “cresça exponencialmente”.

A primeira é a com a Reader Link que é a maior distribuidora de livros (em todos os formatos) para canais de venda que não sejam livrarias dos Estados Unidos, inclusive cadeias de supermercados e outras cadeias de lojas. A companhia se orgulha de atender a 24.000 pontos de venda a varejo, semanalmente, em todo o país. Oferece também serviços complementares de logística, análises de desempenho (compilando e analisando metadados, pessoal!). A empresa trabalha desde o desenvolvimento do estoque de oferta (adaptado a cada tipo de loja), layout do departamento, design do mobiliário de exposição, sinalização dos pontos de venda, logística reversa (devoluções) e tudo mais envolvido em imensas operações de distribuição. Entrega os pedidos em dois dias úteis.

Pode-se imaginar o que isso já representa para a indústria editorial dos EUA. Aqui, as poucas vendas para supermercados e outros pontos de venda não tradicionais mostram o quanto estamos atrasados nessa área. E note-se que, lá como aqui, esses pontos também vendem principalmente livros mais baratos, com desconto, bestsellers, livros de “literatura feminina” e artigos do mesmo gênero. E o que esse setor pode ser impulsionado com a instalação de Espresso Book Machines.

Mas a iniciativa da On Demand não se limitou à associação com a distribuidora. A editora está desenvolvendo uma parceria com os quiosques de fotografia da Kodak para integrar os dois sistemas. Quem for revelar fotos digitais pode aproveitar o tempo para comprar seu livro sob demanda.

Para coroar a iniciativa, a On Demand assinou um protocolo de parceria com a American Booksellers Association – ABA, para facilitar a instalação das Espresso Book Machines nas livrarias independentes,

uma movimentação que tem suas semelhanças com o acordo que a ABA assinou com a Kobo para a venda de e-readers e distribuição de livros eletrônicos.

Todas essas associações estão ainda em desenvolvimento, mas é esperado que os sistemas integrando os três parceiros, com a adaptação de software ligando o produto da Kodak com a Espresso Book Machine e demais questões de logística já estejam em plena operação por volta do próximo Natal.

Um grupo significativo dos clientes da Espresso Book Machine certamente são os chamados “autores independentes”, que terão à sua disposição mais um canal para impressão de seus livros em baixíssimas tiragens. O grande desafio, evidentemente, é convencer as grandes editoras a disponibilizarem os arquivos digitais dos lançamentos e bestsellers, além do catálogo de fundo. O que não é difícil em um empreeendimento encabeçado por Epstein e que abre tantas perspectivas.

Essas iniciativas enfatizam duas qualidades da indústria editorial americana que muitas vezes fazem falta por aqui: coragem de inovação e, principalmente, exploração de todos os segmentos de mercado, sem desprezar quem compra livros baratos, não frequenta livrarias e gosta de ler quando encontra oportunidade de ter acesso aos livros que deseja.

Mandei e-mail para a On Demand Books, perguntando se tinham planos para chegar ao Brasil e sobre os custos operacionais da máquina. Devem ter achado que sou mais maluco que eles em pensar nisso, pois ainda não responderam. Se o fizerem, conto para vocês.

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro, pela Summus Editorial. Mantêm o blog www.oxisdoproblema.com.br. Em sua coluna, Lindoso traz reflexões sobre as peculiaridades e dificuldades da vida editorial nesse nosso país de dimensões continentais, sem bibliotecas e com uma rede de livrarias muito precária. Sob uma visão sociológica, ele analisa, entre outras coisas, as razões que impedem belos e substanciosos livros de chegarem às mãos dos leitores brasileiros na quantidade e preço que merecem.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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