DRM pode não evitar a pirataria, mas pode proteger as vendas
PublishNews, 26/01/2011
DRM pode não evitar a pirataria, mas pode proteger as vendas

Existe muita discussão sobre a pirataria e DRM entre pensadores do espaço editorial. Este post vai expressar alguns pensamentos sobre os dois, mas, acima de tudo, é um pedido para não juntar as duas coisas na mesma discussão. Na verdade, o fato de que pirataria e DRM são parte da mesma discussão é tão controverso quanto o fato de que a pirataria é uma ameaça às editoras e de que o DRM deve ser empregado em tudo.

Primeiro, vamos definir alguns termos. Faço uma distinção (que não é universalmente aceita) entre pirataria – que eu definiria como deixar disponível um arquivo com direitos autorais para livre acesso a qualquer um que o encontre – e “troca casual”. Troca casual acontece entre pessoas que se conhecem; pirataria acontece entre estranhos.

Foi observado durante muito tempo que o DRM faz pouco para evitar a pirataria, que é normalmente executada através de sites que hospedam versões desprotegidas de conteúdo. Foi demonstrado que o DRM pode ser facilmente “quebrado” (tenho dois amigos que rotineiramente a quebram por esporte: um nos EUA que não está no mercado editorial e outro no Brasil que está. Nenhum deles já vendeu ou transferiu os arquivos destravados, mas eles tiram a proteção só para provar que podem. E dizem que sempre conseguem). Na verdade, livros que nunca existiram em edições digitais, como a série Harry Potter, existem em todos os sites de pirataria.

É possível escanear um livro impresso e criar um arquivo digital em pouco tempo. Recentemente foi apresentado um gadget que é capaz de automatizar isso. Mas você pode comprar conversão de conteúdo comercialmente criando um arquivo de e-book a partir de um livro impresso por poucas centenas de dólares a cada título. Então eu concordo enfaticamente que DRM faz pouco ou nada para impedir um pirata com um mínimo de determinação de fazer um arquivo de e-book pirateado, com ou sem DRM; independente de já existir um e-book!

Mas troca casual é outra questão, pelo menos para mim. As pessoas compartilham material publicado o tempo todo através de e-mail, normalmente enviando um link para algo que querem que outra pessoa veja. Mas às vezes anexam um arquivo ou copiam um texto ou imagens no corpo do e-mail. Algumas pessoas (minha esposa entre elas) mantêm listas de e-mail de pessoas que devem alertar sobre uma coisa ou outra. Esse tipo de seleção pessoa-a-pessoa é o novo boca-a-boca ajudado pela automação e que se transformou num componente crítico da comunicação moderna.

Agora minha posição. Não faço ideia se a pirataria ajuda ou atrapalha as vendas, mas independente do que for, não consigo ver como o DRM pode evitá-la. Mas acho que o DRM evita a “troca casual” (com certeza, ela me impede; e acho que a maioria das pessoas são mais parecidas comigo do que como esses meus amigos que destravam e-books por esporte). E acredito, baseado na fé, não em dados, que permitir a troca casual atrapalharia as vendas de e-books, principalmente para os best-sellers.

As grandes editoras sobrevivem com base no desempenho de seus maiores livros. Agentes sobrevivem com base nas vendas de seus maiores autores. Então as grandes editoras e os grandes agentes, se pensarem como eu, estariam a favor de DRM mesmo que isso não ajude em nada a evitar o tipo de pirataria que tentam resolver com pedidos de fechamento de sites.

Há muitas boas razões para não gostar de DRM. Ele pode fazer com que o ato de comprar ou usar seja um pouco mais difícil. É aparentemente responsável pela maior parte dos custos do e-book. Pode frustrar o uso legítimo por um comprador legítimo. E custa dinheiro além de acrescentar complicações. No geral, quanto mais confortável você se sentir com a tecnologia, mais provavelmente o DRM o incomodará.

Mas fico louco quando as pessoas atribuem a crença de que DRM protege contra a pirataria a todo mundo que entende o sentido de usá-la.

Então, com isso como pano de fundo, peguei um link do começo dessa semana de um entrevista na O’Reilly Radar com meu companheiro de escritório (mas um cara que tem sua própria empresa) Brian O’Leary com o título de “Qual é o impacto atual da pirataria na indústria editorial?” Brian está tentando há quase três anos medir o real efeito das edições pirateadas (não a troca casual) sobre as vendas. Seu método é acompanhar os sites de pirataria para a aparição de livros e depois medir as vendas das semanas anteriores e posteriores. Se a pirataria está canibalizando as vendas, alguém deveria esperar um declínio após a aparição da edição pirata. Se a pirataria está estimulando as vendas através de mais boca-a-boca, deveríamos esperar um aumento nas vendas.

Claro, os dados para fazer essa análise só podem vir dos editores, mas estes, apesar da tão falada preocupação com a pirataria (e sua aparente disposição a gastar muito dinheiro para combatê-la), não estiveram dispostos no geral a participar nos esforços de Brian para medir seu impacto. Mas o que ele viu (principalmente através dos dados da O’Reilly, que é uma editora sem DRM) sugeriu que a pirataria podia aumentar as vendas mais do que atrapalhar.

Na entrevista, Brian apresenta pontos bastante bons, mas depois eu encontrei isso:

“Estou bastante contra o DRM: Ele não tem nenhum impacto na pirataria. Qualquer bom pirata pode desabilitá-lo em questão de segundos ou minutos. Um pirata também pode escanear uma cópia impressa com a mesma simplicidade.” (Concordo quando fala nos “bons piratas”, mas a declaração de “nenhum impacto” baseia-se em dados? Duvido.) Mas então:

“DRM só é realmente útil para evitar que as pessoas compartilhem uma cópia, algo que fariam se ela não existisse.” Então, ele é contra o DRM apesar de concordar que evita o compartilhamento casual. E não sei de ninguém, nem mesmo Brian, que já tenha tentado medir o impacto do compartilhamento casual.

Isso é interessante porque nós dois temos exatamente a mesma opinião sobre o que DRM pode e não pode fazer, mas não temos a mesma opinião sobre se deveria se aplicada!

A questão que Brian levanta e que eu levo a sério, no entanto, tem a ver com tentar basear as opiniões em dados sempre que possível em vez de usar conjeturas. Muitos dos seus companheiros na luta contra o DRM atribuem sua continuidade à ignorância e a ideias erradas: editores e agentes que, de alguma forma, são levados a pensar que usando DRM poderão restringir a pirataria. Ao mesmo tempo, a preocupação sobre o compartilhamento casual ou é ignorada ou eliminada.

Se juntar dados sobre o verdadeiro efeito da pirataria é difícil e sobre os verdadeiros efeitos do compartilhamento de livros comerciais é impossível, estou numa boa posição para juntar dados sobre o que os executivos editoriais e os agentes mais poderosos pensam sobre a pirataria, compartilhamento casual e DRM.

Então, criei uma pesquisa informal para descobrir.

Fiz três perguntas:

1. Você acha que DRM é necessário para proteger as vendas de e-books dos títulos populares?

2. Você acha que DRM é eficiente contra a pirataria?

3. Você acha que o principal benefício do DRM é prevenir a troca casual de livros?

Perguntei a executivos em grandes editoras e agentes que trabalham com os principais autores. Nove executivos e quatro agentes (mais da metade do número de entrevistados) foram gentis o suficiente para me responder (até agora). Vou informar sobre minhas descobertas no próximo post.

[25/01/2011 22:00:00]