Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre em 1936 e passou a infância nos Estados Unidos enquanto o pai, Erico Verissimo, dava aulas nas universidades de Oakland e Berkley. O autor é celebrado por seus textos de humor e crônicas, publicadas em diversos jornais do país, e suas obras foram traduzidas para mais de 15 países.
Um dos principais trunfos do filme é conseguir transmitir para o espectador a "aura" de Verissimo e, de certa forma, transformar um escritor, visto como ídolo, em um homem comum. O filme de Angelo Defanti contrapõe a pessoa reclusa e quieta, como é a personalidade do autor, com uma pessoa cuja obra é aclamada publicamente e que precisa participar de eventos públicos.
Defanti afirma que a personalidade de Verissimo poderia ter lhe rendido um anti-filme. "Quando um escritor está trabalhando, ele está sentado num computador. E quando o Verissimo não está trabalhando, ele também está sentado. Como que se filma um sujeito desse? Na verdade, fui percebendo que onde havia muita ausência, isso na verdade mostrava muito sobre quem ele é", comenta o diretor, em entrevista ao PublishNews.
O interesse de Defanti pela figura do escritor passava justamente pelo desejo de capturar como se dava a dinâmica familiar. O diretor afirma que depois de vários dias na casa da família havia coletado cerca de 100 horas de material, e que Verissimo é uma pessoa introspectiva em meio às pessoas extrovertidas na sua casa. O som do filme é utilizado para ilustrar essa relação, em que se observa na tela o silêncio do escritor, em contraponto ao barulho das conversas, das músicas, de objetos e das outras pessoas.
O cineasta já conhecia a família Verissimo antes da produção do documentário. Ainda que o conteúdo do filme fosse uma ''aposta'', de certa forma, ele tinha uma ideia do que poderia encontrar por já saber mais da personalidade do autor. A obra do escritor marcou a trajetória de Defanti, que já havia adaptado outros dois contos de Verissimo em produções estudantis.
Para além de desmistificar imagens de idolatria, Verissimo trabalha também uma visão não romântica da rotina de um escritor. O longa mostra muito de ‘’nada” acontecendo, enquanto Luis Fernando digita lentamente em seu computador, ou até mesmo jogando paciência em seu escritório.
Ao mesmo tempo em que o filme opta pela exposição do ordinário, ele se constrói em torno da grande quantidade de homenagens e aparições públicas do autor nos dias próximos ao seu aniversário. As poucas palavras ditas por ele fazem o humor do filme, e deixam para o leitor a possibilidade de pensar sobre o intercâmbio de mundos entre realidade e literatura. Tudo isso a partir de um autor de certa forma contido e introspectivo na realidade, mas que tem como principal talento a efervescência de ideias e de mundos.
Confira o trailer de Verissimo:
