Com grande alegria, recebi há alguns meses a notícia de que fui selecionada e aprovada para participar do programa de convidados da conferência de livreiros e editores em Sharjah. Fui escolhida para compartilhar sobre a iniciativa da Árvore no mercado editorial e toda a inovação que temos implementado e disponibilizado para o mercado educacional.

Logo após a alegria, vieram os medos... Nunca havia ido para um país com uma cultura tão diferente da minha. Não sabia como me comportar, como não ofender. Sempre que tenho contato com uma cultura tão diferente da minha, meu único pensamento é evitar ofender. Não é sobre ser alguém que não sou... mas sempre que possível, escolho não causar desconforto.

Os preparativos para a viagem foram marcados por medo e preocupação... Muitos preconceitos estavam embutidos na bagagem, por puro desconhecimento. Falo isso sem receio dos preconceitos que tinha em relação à cultura muçulmana. Não por me sentir superior ou julgar, mas sim por falta de conhecimento e exposição a países e povos dessa cultura.

Cheguei em Sharjah de madrugada, um dia antes da conferência. Foi uma experiência única. O povo árabe sabe receber como ninguém. Desde a saída do avião até o hotel, recebi 100% de ajuda e acompanhamento. Ao passar por Dubai, olhei pela janela do táxi. Era como ver uma cidade do futuro. Muita infraestrutura e limpeza. Mal podia acreditar que poucos dias antes haviam enfrentado um grave problema climático.

No primeiro dia da conferência, vi mais preconceitos sendo derrubados. Mulheres fortes, diretoras de grandes grupos e muitas editoras e livreiras, não apenas dos Emirados, mas de todo o Oriente. Deliciei-me com palavras encorajadoras e trocas de experiências em gestão. Diferentes países compartilhando um ambiente de gentileza. Livreiros cujas lojas foram destruídas em guerras civis se reerguendo e contando histórias de sucesso. Incrível, não?

O formato da conferência me fascinou. Tive a oportunidade de apresentar a Árvore, bem como ouvir experiências de outras empresas em um estande, onde nossa marca se destacou para os participantes da conferência. Muitas trocas e keynotes extremamente fascinantes: desde uma mulher forte que lidera um grande grupo nos Emirados até livreiros da Itália e do Líbano compartilhando suas vulnerabilidades sem nenhum constrangimento. A imprensa presente no evento foi muito bem tratada e informada.

No comando deste evento, havia muitas mulheres fortes: Emma House - curadora, e Sheika Bodour Al Qasimi, que além de antropóloga e arqueóloga, é presidente da Universidade Americana de Sharjah. Ela também está à frente da PublisHer - que já visitou o Brasil e promoveu encontros no mercado focados no empoderamento e na divulgação de mulheres autoras e editoras.

Devo admitir que sim, há muito dinheiro envolvido aqui, mas a maestria da organização e a gentileza ultrapassam qualquer poder econômico.

Nos meus dois dias livres, pude conhecer rapidamente Dubai em seus pontos turísticos, a maravilhosa Biblioteca em Sharjah (House of Wisdom) e tudo isso com o olhar de uma estrangeira maravilhada. Minha mente foi completamente desconstruída. Preconceitos derrubados. Vi uma biblioteca lotada de mulheres, dentro e fora do espaço reservado para elas. Este espaço reservado, com camas e nichos para ler e trabalhar confortavelmente, estava repleto de livros feministas clássicos e modernos. Foi durante o tour que descobri que o parlamento tem 40 cadeiras, sendo 20 reservadas para mulheres, e que o Emirado está em 24º lugar no ranking de equidade de gênero (o Brasil está em 78º). 70% dos alunos nas universidades são mulheres. Um país que sabe aplicar muito bem suas riquezas. Raramente me senti tão segura em um país estrangeiro como me senti lá.

Na volta, trouxe muitas conexões, editores e autores que escapam do mainstream ocidental. Trouxe coisas que apenas me ajudarão na luta pela bibliodiversidade nas escolas. África, América Latina, Europa, Ásia... Que experiência maravilhosa!

Até breve, Sharjah! Saí de lá com a certeza de que um dia voltarei. Agradeço pela gentileza e carinho.