A cerimônia foi realizada na Sala Vermelha do Itaú Cultural na Av. Paulista. Agustoni – suíça naturalizada brasileira – explicou um pouco do processo de criação do seu livro, que nasceu a partir do impacto dos crimes ambientais em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. "A ideia de um rio que morre nunca tinha atravessado minha imaginação. Vendo as imagens naquelas semanas, senti um profundo movimento de silenciamento interno, e pensei que através da poesia poderia tentar trazer a palavra para dar alguma luz, foi um processo de regeneração pela palavra. A poesia foi o caminho que encontrei para recuperar uma voz de algo que tinha sido silenciado", explicou.
Joaquim Arena não estava presente, mas também falou ao vivo durante o evento – primeiro, por uma chamada de vídeo que não deu certo, e depois por uma ligação telefônica conduzida com simpatia pela atriz Fernanda D’Umbra e pelo Cônsul-Geral de Portugal em São Paulo, António Pedro Rodrigues da Silva.
O seu romance, ainda sem publicação no Brasil, conta a história de uma amizade ficcional entre dois personagens reais: Charles Darwin e Siríaco, um desconhecido homem negro, ex-escravizado, que nasceu no Brasil, foi educado em Portugal e, por ter a pele marcada por vitiligo, integrou a chamada “corte exótica” da Rainha Dona Maria I.
"Tudo parte de um quadro em que aparecem os anões da Rainha Dona Maria I, Mascarada nupcial. Depois, eu estava vivendo em Portugal, e voltei a Cabo Verde trabalhar com o presidente. Do meu gabinete, eu olhava para a Baía e eu imaginava Darwin ali. Imaginava como seria o encontro dele com a Ilha de Santiago. Siríaco e Darwin coexistiram na mesma época… imaginei um encontro. Cada vez que ia para a janela, imaginava esse encontro", explicou, por telefone.
"O movimento das pessoas sempre fez parte da nossa literatura", completou. "O Brasil é isso também. As histórias são momentos vividos por pessoas que se deslocam. Os povos foram misturando-se, vem daí toda a experiência da língua portuguesa", concluiu.
O Oceanos
Pela primeira vez, as inscrições no Oceanos foram divididas entre prosa e poesia e foram formados dois júris diferentes. Entre 1.188 inscritos de poesia foram selecionados 21 semifinalistas e depois, entre esses, cinco finalistas. Entre 1.466 de prosa, foram selecionados 20 semifinalistas e depois, entre esses, cinco finalistas. Em 2023 o Prêmio recebeu seu recorde de inscrições.
A cerimônia desta quinta-feira foi conduzida pela atriz Fernanda D’Umbra e teve performance da slammer Luz Ribeiro e apresentação do escritor Santiago Nazarian, também jurados desta edição do Prêmio. Selma Caetano, diretora da Oceanos Cultura, responsável pela gestão da premiação, abriu a cerimônia.
“O Prêmio Oceanos é um trabalho coletivo constante de promoção da língua portuguesa, e existe para colocar os leitores diante da produção literária da geração contemporânea de escritores do idioma – geração esta que é muito bem representada pelos 10 livros finalistas de 2023”, diz Selma. “Títulos que, sem exceção, nos arrancam da imobilidade ao reconhecer e denunciar traumas passados e recentes, e apontar novas perspectivas”, completa.
Para chegar ao resultado de prosa, um júri foi composto pelos brasileiros André Sant'Anna, Eliane Robert Moraes, José Castello, Schneider Carpeggiani, pelo moçambicano Nataniel Ngomane e pela portuguesa Clara Rowland leu os cinco romances finalistas. O júri para chegar à vencedora de poesia foi formado pelos brasileiros Célia Pedrosa, Maria Esther Maciel, Tatiana Pequeno e pelos portugueses Carlos Mendes de Sousa e Golgona Anghel. Ao todo, participaram do processo de avaliação 159 jurados de quatro diferentes países.