Alexandre Alliatti e Mariana Salomão Carrara vencem o Prêmio São Paulo de Literatura 2023
PublishNews, Guilherme Sobota, 28/11/2023
Cerimônia na Biblioteca Parque Villa-Lobos reuniu finalistas, membros do júri e autoridades; livros das editoras Patuá e Todavia foram premiados

Alexandre Alliatti e Mariana Salomão Carrara | © Ricardo Matsukawa / SP Leituras
Alexandre Alliatti e Mariana Salomão Carrara | © Ricardo Matsukawa / SP Leituras
Mariana Salomão Carrara e Alexandre Alliatti são os vencedores do Prêmio São Paulo de Literatura 2023, a maior premiação individual do setor literário brasileiro em valores financeiros. Eles foram anunciados em uma cerimônia na noite desta segunda-feira (27), na Biblioteca Parque Villa-Lobos, na capital paulista. Carrara levou pelo romance Não fossem as sílabas do sábado (Todavia), na categoria melhor romance de 2022, e Alliatti, pelo livro Tinta branca (Patuá), na categoria melhor romance de estreia de 2022.

Mariana contou no palco que encontrou, depois de ser anunciada finalista, um e-mail antigo de sua mãe para Cristovão Tezza, autor que era seu concorrente nesta edição do Prêmio, em busca de dicas para a filha. Um dos conselhos que o escritor deu naquela ocasião, 10 anos antes de ela lançar seu primeiro livro por uma editora, em 2009, foi ter paciência. "Foi o conselho que funcionou", brincou Mariana.

Mariana Salomão Carrara, vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura 2023 | © Ricardo Matsukawa / SP Leituras
Mariana Salomão Carrara, vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura 2023 | © Ricardo Matsukawa / SP Leituras
"Foi só com o Se Deus me chamar não vou (Nós, 2019) que eu entendi o que é completude de ser escritora com leitores", disse a autora no seu discurso de agradecimento. "Os leitores escrevem outro livro a partir do seu, a troca é incrível. Temos finalistas com trajetórias ilustres, mas a maioria deve se lembrar do dia que soube que seu livro estava numa livraria e alguém avisou. A gente pensa: 'imagina se um completo desconhecido compra meu livro'... Quero dizer para todos os finalistas que estão aqui, deu certo. Deu certo!", completou. Ela mencionou a necessidade da luta coletiva para que o país não perca talentos e para que se garanta o direito à literatura.

Em 2024, Mariana vai publicar pela Nós o livro infantojuvenil Violeta, e Se Deus me chamar não vou vai sair na França, pela Nossa Éditions, editora fruto da sociedade entre Simone Paulino e Márcia Tiburi.

Alexandre Alliatti, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2023 | © Ricardo Matsukawa / SP Leituras
Alexandre Alliatti, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2023 | © Ricardo Matsukawa / SP Leituras
Quando Alliatti subiu no palco, ele brincou dizendo que estava se sentindo na cerimônia do Oscar em que anunciaram o vencedor errado. "Ao mesmo tempo em que temos que brigar por mais e mais leitores, a literatura brasileira contemporânea parece estar num lugar tão pujante. Temos muito livros incríveis para ler", afirmou. Ele elogiou muito o trabalho da Editora Patuá. "O que vocês fazem pela literatura brasileira contemporânea é sem igual", disse.

"Acredito que estava na hora de um escritor branco escrever sobre isso", disse, sobre o tema central do livro, o racismo no Brasil. "Precisamos olhar da nossa perspectiva para tudo o que foi feito, e para tudo que nós fizemos com a população negra desse país. Não acho que meu livro seja um panfleto, mas quis que de alguma forma ele passasse uma mensagem", concluiu.

O Prêmio São Paulo de Literatura

Cada vencedor recebe R$ 200 mil, o maior valor individual entre as premiações literárias brasileiras. Além da estatueta e da premiação em dinheiro, os vencedores participam, em 2024, de uma programação cultural, que inclui a presença em eventos literários nacionais e internacionais.

Em 2023, a 16ª edição do Prêmio São Paulo de Literatura recebeu um recorde de inscrições com 453 candidaturas, um crescimento de 43% em relação ao ano anterior. O júri desta edição foi composto por Carlos Rogério Duarte Barreiros, Cida Saldanha, Claudia Abeling, Gênese Andrade, Ieda Lebensztayn, Jeferson Tenório, Karina Menegaldo, Luciana Araujo Marques, Luiz Rebinski e Whaner Endo. Já os curadores foram Fabio Silvestre Cardoso, Maria Cecília Closs Scharlach, Ricardo de Medeiros Ramos Filho, Rogério Pereira e Sandra Regina Ferro Espilotro.

“O Prêmio São Paulo de Literatura é um impulsionador da produção literária de qualidade, valorizando o setor editorial e favorecendo a formação de leitores e escritores, além de reconhecer o trabalho de autores consagrados e dar visibilidade aos novos talentos. Vale a pena conferir os livros finalistas e vencedores, todos disponíveis para empréstimo na Biblioteca de São Paulo e na Biblioteca Parque Villa-Lobos”, afirmou na cerimônia Pierre André Ruprecht, diretor executivo da SP Leituras.

A Secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, Marília Marton, explicou durante o evento que o desafio da Secretaria da Cultura é grandioso. “Quero convidá-los para nos ajudar na longa jornada de fazer deste país um lugar de leitores. No Brasil, há dados que mostram que existem menos pessoas lendo. Penso: qual estratégia vamos ter para mudar estes números? Dentre várias ações, temos o Viagem Literária, a BibliON, parcerias internacionais, como o Creative SP, por exemplo, com a Feira do Livro de Frankfurt. Acredito que a literatura é o alicerce da cultura, que traz identidade e senso crítico. Não há filme ou um jogo sem um bom roteiro. Precisamos ser transversais. Contamos com vocês para nos ajudar a criar métodos para fazermos deste encontro um local de desenvolvimento humano, também, na leitura.”

Os livros vencedores

A Todavia resume o livro de Mariana Salomão Carrara assim: "Uma tragédia acaba com uma família, um amor, uma história. Mas outra história também pode começar nela. Um absurdo acidente tem a possibilidade de unir as mulheres que restaram dele, num duro e ao mesmo tempo terno embate de isolamentos. Depois da morte de André, o lar de Ana fica dolorido. Sem o marido, ela passa a gestar a filha órfã e a lidar com Francisca, a babá que intervém com seus tentáculos de ajuda, e também Madalena, a vizinha, viúva do outro homem envolvido no absurdo acidente que vitimou André. Neste romance, com sua narrativa íntima que assombra pela concretude, a autora se consolida como uma das vozes mais urgentes da literatura brasileira de hoje".

A sinopse de Tinta branca é a seguinte: "Em um domingo de festa, moradores torturam um jovem imigrante na praça central de uma pequena cidade do interior gaúcho. O professor de História de uma escola local se vê diretamente envolvido no episódio enquanto também ajuda um homem recém-chegado a entender suas origens. O cruzamento de dois episódios, no passado e no presente, levará o narrador a repensar sua relação com a comunidade, a família e o amor – e a entender que a verdade, mesmo aquela mais íntima, também pode ser forjada por esquecimentos, por memórias apagadas".

[28/11/2023 09:20:00]