Diário de Frankfurt. Dia 1: Descobrindo as dimensões da maior feira do setor
PublishNews, Raissa Boniolo*, 19/10/2023
Raissa Boniolo, a Jovem Talento 2023, é a nossa marinheira de primeira viagem em Frankfurt em 2023; no seu primeiro dia no evento, ela conta o que viu, assistiu e as primeiras impressões sobre a maior feira do mercado editorial

Ao iniciar o dia, já sabia que seria corrido. O calendário montado pelo aplicativo oficial da feira foi essencial para me organizar durante o evento. O dia de hoje seria o mais cheio. Selecionei mais de dez palestras para assistir, um número alto para o curto período de tempo disponível. Muitas delas tinham horários conflitantes, então decidi deixar para escolher na hora, conforme minha intuição. Priorizei as apresentações relacionadas a dados e novas tecnologias do mercado. Ao final do dia, não poderia estar mais feliz com minha decisão. Com a correria e a longa distância entre os pavilhões, consegui assistir a apenas cinco apresentações. E posso afirmar que cada uma delas valeu a pena.

Antes de compartilhar os destaques do dia, preciso mencionar o prédio em que a feira está ocorrendo. Se já fiquei surpresa com o tamanho da Bienal do Rio de Janeiro, imagine só a dimensão deste lugar. Foi aqui que percebi que todas as dicas de "use sapatos confortáveis" e "você vai caminhar muito, esteja preparado" não eram à toa. Só agradeci por ter escolhido tênis em vez de botas.

Antes mesmo de chegar à feira, já tinha ouvido falar que o foco era mais voltado para negócios, acordos e compras de livros. Isso me fez questionar diversas vezes qual seria o meu papel aqui. As dicas eram muitas: vá aos happy hours, assista às palestras, converse com o autor X, não perca a oportunidade de visitar o estande Y. Quanta coisa! E ao chegar pela primeira vez na feira hoje, não foi diferente. Ela se mostrou um grande espetáculo, onde cada um desempenhava seu papel. Eu, como mera observadora e admiradora, pude testemunhar esse evento grandioso.

É estranho para mim dizer isso, especialmente porque sempre busco a lógica por trás das coisas, os dados por trás das informações. No entanto, estar naquele pavilhão com pessoas de países tão diferentes e culturalmente distintos, todos ali unidos pela paixão pelos livros, trouxe uma sensação única. Todos buscam uma oportunidade para serem ouvidos, para contar suas histórias, para expandir seus horizontes.

Às 10h da manhã, assisti à palestra de Nihar Malaviya, CEO da Penguin Random House. Ele falou sobre os desafios do mercado, com ênfase em audiolivros e inteligência artificial, o que só reforçou minha convicção de que preciso encarar de vez essa nova tecnologia. Os horários das palestras eram apertados e em pavilhões distantes uns dos outros. Portanto, precisei sair durante a apresentação de Nihar para correr para o outro lado da feira e assistir à conversa "Less Words, More Data: Data Insights into the Booming Audiobook Market", com Niclas Sandin, CEO do aplicativo BookBeat. Não existe palavra melhor para descrever essa palestra além de "sensacional". Não hesitei em fotografar todos os slides apresentados (literalmente). Foram abordados dados de crescimento, comportamento de consumo, perfil dos usuários e muito mais. Um prato cheio para futuras análises.

Logo em seguida, ao meio-dia, tive a oportunidade de assistir à palestra "Engaging the Next Generation of Readers", algo que me interessa muito, especialmente considerando nossos desafios atuais. Corri para garantir meu lugar. E quanto ao almoço? Bem, meus amigos, fiz a mesma pergunta. Acabei sobrevivendo à base de salgadinhos comprados no mercado no dia anterior.

O que achei interessante nessa palestra foi como todos os participantes citaram e enfatizaram o comportamento de consumo e os canais preferidos por cada geração, e como essas informações são fundamentais para a segmentação de campanhas, estratégias de lançamento, entre outras coisas. Foi um daqueles momentos em que você está tão imerso que não percebe o tempo passar. Por fim, parei para almoçar, o que talvez tenha sido um erro. O jet lag finalmente me acertou em cheio e bateu aquela vontade de voltar para o hotel. Acabei desistindo de uma outra palestra, e fiz uma pausa para descansar.

Valeu a pena, já que pude economizar energia para a palestra mais aguardada de todas: "Data and Reading and Publishing Research". Aqui, foi como estar em casa. Falaram sobre bancos de dados, pesquisas quantitativas, a importância de compreender o público leitor e seus hábitos. E mais do que isso: a importância de ter esses dados e compará-los com outros países, criando uma rede global de estudos sobre os hábitos dos leitores. Fiquei tão animada que não pude resistir e fui falar com uma das palestrantes, Owena Reinke, para compartilhar um pouco do trabalho que faço atualmente e minhas aspirações nessa área de pesquisa, assim como o que está sendo feito no Brasil.

O dia poderia ter terminado ali, já eram 15h, e meu cérebro dificilmente processaria mais alguma informação, mas a tentação foi grande. Estava começando uma palestra sobre acessibilidade e como isso está transformando o mundo dos livros. Não dava para perder. Consegui assistir pelo menos uns 20 minutos antes de declarar o dia encerrado.

No caminho de volta para o hotel, percebo que passei o dia inteiro sem internet e com o celular no bolso. Foi um momento de maior introspecção, e era disso que eu precisava. Talvez meu papel aqui seja o de aprender, observar coisas novas e, quem sabe, encontrar um pouco de clareza no meio desse turbilhão.

Estar em Frankfurt tem sido desafiador em muitos sentidos. Não é a primeira vez que me vejo viajando sozinha ou conhecendo outro país com um idioma diferente, mas é a primeira vez que faço isso sem a euforia do novo, da viagem, da aventura. Não porque não tenha ficado animada, mas porque esta viagem ocorre em circunstâncias inesperadas: faz uma semana que minha cachorrinha Nina faleceu, e falta uma semana para a defesa da minha monografia na pós-graduação. Ainda assim, acredito que tudo chega no momento certo. Estou em Frankfurt há apenas dois dias, e mesmo nesse curto espaço de tempo, a sensação de respirar fundo é o que melhor define como estou me sentindo. A feira, os autores, as palestras, a cidade, tudo me lembra a importância de voltar para aquele lugar de aprendizado, de ser uma mera observadora e de descobrir a calmaria no meio do caos.

Finalizo o primeiro dia da feira animada para os próximos.


* Raissa Boniolo é criadora e coordenadora do Centro de Dados e Estratégia do Grupo Companhia das Letras foi a sétima vencedora do Prêmio Jovens Talentos.

[19/10/2023 06:00:00]