Poeta Laura Redfern Navarro lança na Casa das Rosas projeto literário vencedor do ProAC/2022
PublishNews, Redação, 12/09/2023
Em 'O corpo de Laura', escritora usa o duplo para abordar o papel da linguagem no resgate da voz de um eu-lírico feminino ferido desde a infância; lançamento terá bate-papo com autora e escritoras Geruza Zelnys, Isabela Penov e Rebecca Loise

O livro O Corpo de Laura, da poeta e jornalista paulistana Laura Redfern Navarro, é fruto de um exercício experimental e poético que, junto de uma plaquete, compõe o projeto homônimo vencedor do edital ProAC 2022, promovido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. A obra conta com a orelha assinada por Luizza Milczanowski, escritora e mestranda na linha de Sociedade, Direitos Humanos e Arte pela UFRJ, e prefácio da poeta e doutoranda em literatura pela UFRN Maíra Dal’Maz.

O evento de lançamento está marcado para o dia 16 de setembro, sábado, a partir das 15h, na Casa das Rosas (Av. Paulista 37, – São Paulo / SP). O encontro contará com uma roda de conversa focada no movimento de desconstrução e reconstrução do corpo por meio da linguagem poética, principalmente sob a perspectiva da literatura contemporânea escrita por mulheres. Para isso, também estarão presentes as escritoras Geruza Zelnys e Isabela Penov. A roda terá mediação da escritora, psicanalista e artista do corpo Rebecca Loise. O evento também contará também com leitura de poemas da obra O Corpo de Laura.

Um Corpo que se desintegra e se interroga

De caráter essencialmente poético, O Corpo de Laura é organizado em uma estrutura narrativa e explora um processo de evolução da personagem que desemboca no resgate da própria voz pelo encontro com a palavra. Construída a partir de uma mescla de experiências autoficcionais, de uma atmosfera onírica inspirada na estética da cinematografia de David Lynch — principalmente no que diz respeito ao encontro com a personagem Laura Palmer, do seriado Twin Peaks — e, até mesmo, da escuta e a leitura de outras mulheres, a obra trabalha a linguagem como acontecimento do corpo a partir da perspectiva feminista contemporânea.

Luizza Milczanowski evoca essa questão ao dizer, no texto de orelha, que “Com sua poesia sensorial, a autora explora um corpo que é linguagem e matéria, possibilidade, espaço e passagem. A presença do plástico, essa série de moléculas artificiais que podem ser moldadas em diversos objetos, parece aludir a tudo de superficial que existe em um corpo de menina para se coisificar mulher. Um corpo que se desintegra e se interroga. Laura se contempla, ora desnorteada, ora fascinada: quem sou eu?”, analisa.

Essa presença plastificada relacionada à existência feminina se mescla ao empréstimo de recursos visuais e estéticos próprios da geração da autora, compondo ainda mais camadas ao trabalho, que se situa em um espaço assumidamente contemporâneo. Isso se vê, por exemplo, a partir da utilização de um artifício cyberestético conhecido como Liminal Spaces, cujas imagens se propõem a captar o vago e o vazio em objetos e lugares reconhecíveis, produzindo uma sensação dupla de nostalgia e estranhamento.

Assim como na plaquete, a autora explora o recurso do duplo para, em suas palavras, compor de maneira subjetiva uma textualidade mais plural, que, mesmo tendo um nome próprio, abrange um coro de experiências e angústias coletivas que atravessam as subjetividades e os corpos das mulheres. “A ambiguidade que o título do livro carrega, podendo se direcionar a mim, à Laura Palmer ou a qualquer "Laura", ou seja, qualquer mulher comum, me interessou por dar conta de abarcar o que busco na obra, já que transmite tanto a ideia de uma identidade subjetiva quanto reflete a opressão e a subversão dentro do contexto do corpo feminino”, afirma.

[12/09/2023 08:00:00]