Um dos livros, intitulado pelo autor de Caveira no campo de trigo e outros poemas inúteis, seria um inédito livro de poemas do pesquisador. “Meti o livro de versos num envelope e sepultei-o no 'inferno' da biblioteca", escreveu Cascudo em uma carta a Mário de Andrade em 1925.
Segundo o Instituto Câmara Cascudo, ao término da digitalização e acondicionamento das correspondências do autor, em 2016 – cerca de 15 mil correspondências que geraram 27 mil documentos –, iniciou-se uma pré-seleção de outros documentos do acervo, mais de 20 mil itens. Durante este trabalho, foram encontrados diversos fragmentos de livros que despertaram a curiosidade, além de algumas obras encadernadas, ora manuscritas, ora datilografadas. Com o fechamento temporária da instituição devido à pandemia, as buscas foram interrompidas e retomadas no início de 2023.
“É realmente um achado maravilhoso que precisa ser celebrado", diz o diretor-geral da Global, Richard Alves. "Já estamos ansiosos por trabalhar essas novidades. Claro que teremos todo o cuidado e respeito que a produção de um dos maiores intelectuais e produtores de conhecimento que o Brasil já teve merece. Essa é mais uma boa notícia que recebemos em 2023, ano que nossa editora celebra 50 anos”.
Para a presidente do Instituto Câmara Cascudo, Daliana Cascudo, é uma alegria poder divulgar novos textos do escritor 37 anos depois da sua morte. "Esse material de nove inéditos estão na sua totalidade, com conteúdo preservado. Foi aqui que nos sentimentos seguros para poder divulgá-los agora", diz ao PublishNews. "Em toda sua obra há uma grande diversidade de temas, obras locais, obras mais nacionais. Estamos agora em um momento de confrontação com o restante das obras, porque precisamos ver se trechos já foram utilizados em outras obras. Mas os poemas ele nunca publicou em livro. Vejo um valor muito grande apresentar agora uma incursão dele em outro gênero", explica.
As obras encontradas foram as seguintes, segundo a Global e o Instituto Câmara Cascudo:
- Caveira no campo de trigo e outros poemas inúteis
Em carta ao amigo Joaquim Inojosa (13/08/1926), Cascudo cita a obra e envia dois poemas, “Kakemono” e “Shimmy”, este último também remetido ao amigo Mário de Andrade (carta, 10/06/1925). Em carta posterior a Mário (09/12/1925), Cascudo comenta: “Meti o livro de versos num envelope e sepultei-o no “inferno” da biblioteca.”
- Buda é santo católico?
Cascudo comenta com Mário de Andrade sobre a obra em duas correspondências: 23/08/1925, quando envia o índice, e em 25/05/1926, quando conta ao amigo: “Já lhe disse que o Bispo de Natal pediu-me que não publique o Buda é Santo Católico? Pois é.”
- Olhando John Bull...
John Bull é uma personificação nacional do Reino da Grã-Bretanha criada pelo Dr. John Arbuthnot, em 1712. A obra é dedicada a Assis Chateaubriand, “Embaixador do Brasil na Inglaterra, cuja presença é inarredável nessas recordações.”
- No quotidiano brasileiro
Com o subtítulo “Pesquisas na Cultura Popular”, revela a presença sertaneja na obra do autor, que afirma no prefácio: “O Sertão estava em mim, como a Bretanha em Renan ou a Provença em Mistral.”
- História antiga do Ceará-Mirim
A obra tem como tema a história do município potiguar de Ceará-Mirim, no período de 1605 a 1958.
- História da literatura norte-rio-grandense
Registros da história da literatura potiguar, começando em 1832 até 1912.
- Ruas da Cidade do Natal
Obra cujos originais foram entregues pelo autor ao então prefeito Djalma Maranhão, em 30 de novembro de 1956.
- Livro de Linhagem
Obra onde o autor discorre sobre a genealogia de sua família, tanto pela linha paterna como pela materna.
- Índice dos Capitães-Mores e Governadores do Rio Grande do Norte
Capitães-Mores, Presidentes, Vice-Presidentes em exercício, Governadores, Vice-Governadores em exercício, Interventores e Governadores do Rio Grande do Norte, no período de 1598 a 1935, são o foco da obra.
Considerado o maior folclorista do Brasil, Luís da Câmara Cascudo nasceu em Natal/RN, no dia 30 de dezembro de 1898. Iniciou-se como jornalista em outubro de 1918, no jornal A Imprensa, de propriedade de seu pai. Colaborou em todos os jornais de Natal e em vários do país. Seu primeiro livro foi publicado em 1921, Alma Patrícia, crítica literária em torno dos poetas potiguares desconhecidos do resto do Brasil. Sua consagração como escritor, entretanto, ocorreu a partir de 1938-39 e, sobretudo, ao longo da década de 40.
Escreveu sobre os mais variados assuntos, com evidente especialização na etnografia e no folclore e predileção por história, geografia e biografias. Entre os mais de 200 livros, plaquetes e ensaios de Cascudo destacam-se: Dicionário do Folclore Brasileiro, Literatura Oral no Brasil, Vaqueiros e Cantadores, Canto de Muro, Rede de Dormir, Jangada, História dos Nossos Gestos, História da Alimentação no Brasil, Civilização e Cultura, Geografia do Brasil Holandês, Geografia dos Mitos Brasileiros, Contos Tradicionais do Brasil, Locuções Tradicionais do Brasil, Lendas Brasileiras, Superstições e Costumes, entre outros.
O Dicionário do Folclore Brasileiro, que teve a sua primeira edição em 1954, é considerada a primeira compilação acadêmica de temas ligados ao folclore. A obra, atualmente em sua 12ª edição, é uma referência nos campos da cultura popular e da etnografia, tendo sido escrito numa pesquisa solitária de mais de dez anos, aliado a extensa correspondência mantida pelo autor com diversos pesquisadores do Brasil e do exterior, o que fornece ao Dicionário um caráter enciclopédico.
Cascudo "encantou-se", como ele se referia à morte, no dia 30 de julho de 1986, em Natal. A Global Editora (São Paulo) publica sua obra desde o ano 2000.
Coleções, todo o acervo bibliográfico e documental do autor se encontram no Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo, em Natal, instituição voltada para a preservação, divulgação e gerência do patrimônio cultural do autor.