Cabeças saltando
PublishNews, Redação, 02/12/2022
Lançada pela Editora Unesp, biografia do rei Henrique VIII, escrita por Georges Minois, contextualiza a Inglaterra tudoriana e as reformas religiosas e políticas que perduram no país

Um rei que teve seis esposas e duas delas foram decapitadas: o caso é único nas monarquias ocidentais. Mas o fato aqui vai muito além dos assuntos matrimoniais do "Barba Azul de Hampton Court", como era conhecido o rei Henrique VIII (1491-1547). Suas atitudes estão na origem das reformas religiosas e políticas nas quais a Inglaterra atual ainda vive. É este personagem e o contexto em que reinou que o historiador francês Georges Minois apresenta em sua obra Henrique VIII (Editora Unesp, 482 pp, R$ 94, Trad.: Nícia Adan Bonatti). O rei foi um déspota em um país que nunca aceitou o absolutismo; ele foi um papa para súditos que sempre rejeitaram a autoridade de Roma. Em uma Inglaterra em plena mutação, saindo da Guerra das Rosas, o rei sabia usar o Parlamento para seus propósitos. Contando com os representantes das classes médias, ele lançou as bases para uma reforma religiosa, a reforma “Henriciana”, que sua filha Elisabeth iria transformar em anglicanismo. Fora, ele executou uma sutil política de equilíbrio entre Carlos V e François I, foi um príncipe renascentista, um verdadeiro "pai da Marinha Real" e o fundador de uma burocracia eficiente. O homem era temível em todos os campos, sua paixão por dominar eclodiu em execuções, que eram, para ele, um método de governo. Sob seu reinado, a Torre de Londres viu muitas cabeças saltando. As de Thomas More e Ana Bolena são apenas as mais ilustres. Henrique VIII, autor de um tratado teológico, jogador obstinado, fundador de uma religião, amante das guerras e das festas, confiscador dos bens dos mosteiros, é muito mais do que o rei com seis mulheres, como demonstra Minois, com sua envolvente prosa límpida e solidamente fundamentada.

[02/12/2022 07:00:00]