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Qual o papel da mídia na promoção da leitura?
PublishNews, Volnei Canônica, 26/05/2017
Em sua coluna, Volnei Canônica busca dar uma resposta a essa pergunta

Recentemente, li a seguinte matéria publicada pelo Jornal Estadão Busca por livros cai em 70%. Uma análise sobre a consulta aos livros nas bibliotecas paulistanas no período entre 2007 e 2016. O número de consultas caiu de 2,3 milhões para 733 mil conforme dados do relatório;do Sistema Municipal de Bibliotecas.

Inicio o artigo com a pergunta: "qual o papel da mídia na promoção da leitura?" Posso dar algumas respostas:

- Informar e divulgar projetos, eventos, livros, prêmios, etc.

- Criar ou reforçar o valor simbólico do livro, da leitura, das bibliotecas, da família na promoção da leitura.

- Criticar e formar opinião sobre obras, políticas públicas para a área, etc.

- Contribuir no controle social e mobilizar a população nesse sentido para cobrar melhorias das gestões públicas

- Dar estímulos para que a sociedade tenha um papel mais participativo na formação de leitores.

Se a mídia tem esses e outros papéis me pergunto sobre os dados acima da queda de 70% em busca dos livros nas bibliotecas. Como a mídia poderia ter contribuído mais para não chegarmos a estatísticas tão desestimulantes como essas? A mídia? Sim, isso mesmo! A promoção da leitura é responsabilidade de todos e a mídia tem um papel fundamental.

Sempre que leio matérias que apresentam dados negativos na promoção da leitura, me pergunto qual o interesse em dar esse tipo de matéria já que é tão difícil que as bibliotecas públicas, comunitárias, escolares e universitárias consigam espaço nos veículos de comunicação para mostrar os seus projetos?

Conheço muitas bibliotecas que possuem belos projetos de promoção da leitura, mas que jamais foram divulgados nos jornais, na televisão, na rádio, nos websites. Isso não contribuiria para que a população tivesse acesso a mais informações sobre as bibliotecas brasileiras e fariam com que elas saíssem de suas casas em busca destes projetos, em busca dos livros? Não seria importante noticiar esses projetos para que, no futuro, não publiquemos dados tão tristes como os citados na matéria do Jornal Estadão?

Volto para a pergunta: qual o papel da mídia na promoção da leitura? Atuar na causa ou divulgar um efeito? Vamos deixar claro que a mídia dá espaço, mas os espaços são muito pequenos, descontinuados e por isso reverberam pouco na sociedade. Porque a mídia não faz, toda semana, uma matéria de um projeto relevante de leitura nas bibliotecas? Não faltam projetos! Posso indicar projetos acontecendo nos mais de cinco mil municípios.

Precisamos da mídia analisando o comportamento da sociedade em relação à cultura e à educação. Precisamos da mídia cobrando políticas consistentes dos governos na promoção da leitura e escrita. Mas precisamos que a mídia, em cada município, troque as matérias sobre artistas de Hollywood por matérias sobre bibliotecários, professores, contadores de histórias, mediadores locais. Do que adianta a população saber da separação do artista global x ou y se ela não sabe dos novos livros que chegaram nas bibliotecas, dos encontros de contação de histórias, do horário do atendimento das bibliotecas, dos bate-papos com os escritores, ilustradores e especialistas que estão acontecendo na cidade?

A valorização dos artistas locais e das bibliotecas deveriam ser pauta toda a semana para esses veículos. A população precisa criar valor simbólico e a mídia é um poderoso veículo para ajudar nisso. Não falo em criar heróis - algo que a mídia adora fazer. Falo em criar referências. Em pessoas e espaços que as pessoas possam procurar.

Vimos nos últimos tempos a diminuição de espaços na mídia para a divulgação e a promoção da leitura. Cadernos de jornais impressos deixando de existir, outros reduzindo drasticamente suas páginas. Sem patrocinadores, programas de televisão e rádio acabando. Sabemos da crise que atingiu todos os setores. Mas sabemos que está na mão dos veículos a escolha das pautas, da linha editorial, do serviço e do papel social que quer oferecer para a sociedade. Portanto, os veículos brasileiros podem sim contribuir para a formação de um país com mais bibliotecas e mais leitores. Como sempre afirmei a promoção da leitura e da escrita é um trabalho conjunto de diferentes atores. Precisamos nos unir. Precisamos nos conectar. Vamos divulgar o que precisa ser revisto, replanejado, reestruturado. Mas vamos divulgar de forma mais insistente e continuada o que existe de melhor em nosso país. Sempre vamos encontrar uma pessoa disposta a entregar um livro, a ler uma história, a tirar o livro da estante e colocar na mão de uma criança. Um Brasil mais justo, mais participativo passa pelo acesso à informação, ao conhecimento e à ficção. Não tenho dúvida que sem a participação mais efetiva da mídia promovendo as nossas bibliotecas brasileiras será muito difícil mudar esses dados. Vamos lá: Um por todos e todos por um Brasil de leitores!

Volnei Canônica é formado em Comunicação Social – Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul, com especialização em Literatura Infantil e Juvenil também pela Universidade de Caxias do Sul, e especialização em Literatura, Arte do Pensamento Contemporâneo pela PUC-RJ. É Presidente do Instituto de Leitura Quindim, Diretor do Clube de Leitura Quindim e ex-diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, do Ministério da Cultura. Coordenou no Instituto C&A de Desenvolvimento Social o programa Prazer em Ler. Foi assessor na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Na Secretaria Municipal de Cultura de Caxias do Sul, assessorou a criação do Programa Permanente de Estímulo à Leitura. o Livro Meu. Também foi jurado de vários prêmios literários.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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