Há pouco tempo escrevi um artigo no PublishNews falando do caminho inevitável da segmentação dos agentes mais simbólicos do mercado editorial: editoras e livrarias. Quando coloquei o fato como inevitável já deixei subentendido que o caminho já vinha sendo trilhado por algumas empresas há algum tempo como opção, mas que estava e está se tornando um caminho praticamente obrigatório.
Sou favorável e acredito em políticas públicas que protejam os meios de manutenção da bibliodiversidade, pois a dinâmica do mercado sempre vai no sentido puro e simples da lucratividade e precisamos mais que isso, é necessário ter à disposição do público opções variadas que em muitos casos não tem escala suficiente para dar lucro. Vejam bem, me refiro a políticas e ações públicas que protejam os meios, e não empresas específicas que não se sustentem por má gestão ou equívocos na seleção dos livros a publicar. Políticas públicas que além da pluralidade de conhecimento sejam ferramentas de desenvolvimento não só do negócio do livro, mas de uma nação.
Essa questão já aventada em algumas ocasiões por profissionais de forma independente, e também por algumas empresas e entidades de classe, quero crer, visa muito além dos seus empregos ou sobrevivência de suas empresas. Há um idealismo concreto de que o acesso ao conhecimento seja pleno; porém, devido a diversos fatores as parcas ações governamentais feitas nesse sentido nunca foram profundas o suficiente ou levadas a cabo de forma que atingissem de fato os objetivos pretendidos.
Não cabe aqui julgar se esse insucesso é por causa da omissão ou morosidade dos órgãos governamentais competentes (não estou mencionando gestões, o processo dos órgãos públicos é moroso desde sempre) seja em que nível for ou falta de unidade ou consenso entre os agentes do mercado editorial (diretamente ou através de suas entidades de classe), mas o fato é que se perdeu o bonde no momento que ele passava. Agora mesmo que se tome alguma providência concreta e efetiva o estrago está feito e agravado por um momento de retração econômica e caos político, fará vítimas.
Como em qualquer cadeia produtiva, aqueles com menos poder ou com menos fôlego financeiro, quando não as duas coisas, são as primeiras vítimas. Minha percepção de quase 30 anos de mercado me diz que essas vítimas serão os pequenos ou até os médios que não se encontraram nesse novo cenário da segmentação.
No final de 2008 e início de 2009, no começo da crise mundial, uma onda semelhante tomou conta do mercado com onda de demissões, dúvidas, fechamento de empresas etc., mas o mercado sofreu um impacto muito menor que o previsto e alardeado.
Agora o cenário é outro, há uma forte influência do clima político, que independente de outras questões deixa as pequenas empresas à deriva. Nesse ponto reforço a importância do que disse anteriormente que tivessem as políticas públicas sido implementadas plenamente possivelmente teríamos um cenário diferente. Por tudo isso, as empresas que nesse cenário não pensaram em um plano B ou em ramificações para seu negócio ou não optaram em tempo pela segmentação bem planejada estão vivendo o seu outono, e com perspectiva de um inverno rigoroso pela frente, ou se reinventam urgentemente, se ainda for possível ou sucumbem de vez.
