Vendedor da Cultura de Porto Alegre sai de ‘licença maternidade’
PublishNews, Leonardo Neto, 12/01/2016
Peterson Rodrigues adotou Lucas e Livraria Cultura estendeu a ele os mesmos benefícios dados a mães biológicas

O dia 25 de setembro de 2015 foi um dia marcante na vida de Peterson Rodrigues, funcionário da Livraria Cultura de Porto Alegre. Ele saía de “licença maternidade”. Homossexual e solteiro, Peterson, aos 34 anos, encarou a missão de adotar uma criança. A decisão começou a ser tomada exatamente dois anos e um mês antes, no dia 25 de agosto de 2013, quando conheceu o pequeno Lucas, então, com sete anos. “A minha ideia, na verdade, era fazer um trabalho voluntário”, disse Peterson ao PublishNews. Ele conta que procurou o Instituto Amigos de Lucas, ONG que lida com a prevenção do abandono na infância e encampa a bandeira do Apadrinhamento afetivo, processo que promove a convivência familiar àquelas crianças que vivem em abrigos e com poucas chances de serem adotadas.

Lucas e o pai Peterson, funcionário da Livraria Cultura em Porto Alegre | © Simone Uriatt
Lucas e o pai Peterson, funcionário da Livraria Cultura em Porto Alegre | © Simone Uriatt

O processo para se qualificar como “Padrinho afetivo” incluía oito oficinas e culminaria com uma festa em que os candidatos a padrinhos e crianças de diversos abrigos da capital gaúcha se encontrariam pela primeira vez. “Na noite anterior, tive um sonho horrível. Sonhei que nenhuma criança me escolheria para padrinho. Achava que alguém ia me barrar por ser gay, solteiro e sozinho. Aos poucos fui aprendendo que o preconceito era meu mesmo”, disse.

Aos poucos, uma criança se aproximou. Era Lucas, com sete anos na época. “Ele chegou e me entregou um balão. Era uma criança agitada. Corria muito... Depois de correr, voltou até onde eu estava e me entregou um casaco. Pela terceira vez, ele chegou e eu perguntei: ‘tu já tem Dindo?’ e ele me respondeu: ‘eu tenho. É tu!’”, relembra Peterson. “Eu não escolhi o Lucas. Ele me escolheu”, disse.

Licença Maternidade

A Livraria Cultura, onde Peterson trabalha desde 2008, estendeu a ele os mesmos direitos dados às mães. “O nome do benefício é mesmo Licença Maternidade, por falta de um nome melhor”, disse o pai ao PublishNews. Como a Cultura é uma Empresa Cidadã, oferece às mães licença de 180 dias (60 dias além do previsto em lei) e Peterson teve os mesmos benefícios. Às mães, a Cultura oferece ainda um kit bebê, com um enxoval básico. “No dia que eu saí de licença maternidade, entrei no Fala Cultura [canal de comunicação interna da livraria] e sugeri que a empresa revisse o kit, já que meu bebê veio com nove anos”, disse rindo. Como resultado, a Livraria Cultura passou a oferecer às mães e pais adotivos um cartão com um valor para que os pais comprem o kit conforme o seu desejo. “Eu e o Lucas somos um modelo de família diferente, que já nem é tão diferente mais. A empresa se adequou a esse novo modelo”, disse. “Para nós, da Cultura, foi muito mais um aprendizado do que uma inovação”, disse Juliana Brandão, responsável pelo RH da empresa. O direito está assegurado pela lei: pais solteiros que adotam têm os mesmos direitos da licença maternidade. “Foi a primeira vez que a gente passou por isso, então, tivemos que aprender juntos”, disse Juliana.

Se a rotina de uma mãe com um bebê recém-nascido é de idas a médicos, pediatras, clínicas de vacinação e amamentações de hora marcada, a rotina de uma criança adotada tardiamente também não é das mais calmas. A “licença maternidade”, na opinião de Peterson, está sendo fundamental para a adaptação da criança à sua nova realidade. “Querendo ou não, são vários cortes. Ele foi para o abrigo com quatro anos e hoje está com nove”, observa Peterson. Lucas é acompanhado por uma equipe multidisciplinar formada por psicólogo e pedagogo e a nova família recebe a visita frequente de representantes do juizado de menores.

Peterson participa do blog Elo – Conversando sobre adoção no qual são reunidas histórias e vivências de pais que resolvem adotar crianças.

[12/01/2016 11:22:02]