Coutinho na área
PublishNews, 20/07/2012
Coutinho na área

Futebol é coisa séria. O mundo para quando a bola rola. Aqui na cidade de Santos, de onde escrevo estas indecisas linhas, existe um sentimento especial com respeito ao esporte bretão. Foi aqui que nasceu e de onde partiu para o planeta o esquadrão mais cultuado e vitorioso de que se tem notícia.

No Rio se vê, volta e meia, um famoso ator num restaurante, ou na praia. Aqui vemos os boleiros, a maioria com seus cabelos brancos – ou sem, caso do José Macia, o Pepe, apelidado de Pouca Pena – como Coutinho, o apelido mais conhecido de Antonio Wilson Honório.

Sua mãe o chamava de Cotinho, de tão miudinho, lá em Piracicaba, sua cidade natal. O menino veio para Santos, foragido, saltando a janela e o muro de sua casa, enfeitiçado pelo time que o transformaria para sempre. Abraçado no alambrado ao lado do campo, o menino de treze anos viu Pagão, Pelé e Pepe, e a partir daí sabia o que queria: fazer parte daquele time, daquela vida que se mostrava pela primeira vez.

Antes dos quinze anos, ele estreou como profissional e jogou mal. Na sua principal jogada ele driblou um, dois, três, só daí notou que estava em sentido contrário, correndo para a defesa. Naquele tempo existia a vergonha, e o menino sofreu. Estava decidido a voltar pro interior, no que foi impedido pelos mais velhos.

Tempos de homens simples e futebol complexo, camaradagem e pouco dinheiro.

Estou sob o efeito desse clima e dessas histórias: acabamos de lançar a biografia do Coutinho pela nossa praiana editora.

Algumas histórias ouvi num botequim bem em frente à Vila Belmiro, local que recebeu novamente o nosso craque, agora para celebrar a sua história. Depois dos muitos autógrafos a sede tomou conta do pessoal, que não queria saber de vinho espumante e muito menos de água. Direto ao bar do Alemão – um torcedor raro do Santos, tão fanático que tatuou na testa o escudo do clube. No bar nos instalamos e recomeçamos a festa, agora entre sambas e boleiros.

Na mesma mesa: Negreiros, Mengálvio, Coutinho, Maneco e nós, os pernas-de-pau.

Estranhei o atraso do Pepe e resolvi ligar. Quando ele atendeu notei um tom de surpresa. Falei: “Pepe, meu best-seller! Tem alguém esperando por você... o Coutinho!”. E ele, “Ai, meu Deus, vai ser na livraria?”. “Não, Pepe, na Vila, pô!”

Quando o nosso querido Canhão da Vila entrou na sala de troféus foi uma alegria geral. Coutinho brincava: “Estava de pijama? Te acordaram?”.

Pepe o abraçou, os fãs se amontoaram com máquinas fotográficas e pedidos de autógrafos.

Eu entendo que alguém tenha de lembrar o Pepe a ir a mais um evento. Estas emoções de hoje, os autógrafos, as lembranças e os causos são muito menos emocionantes para eles do que as glórias vividas nos gramados dos quase oitenta países nos quais se apresentaram para reis e plebeus, presidentes e papas, como os melhores do mundo.

Nada se compara à comemoração de um gol, numa final, com uma multidão gritando o seu nome. Já para nós, foi o máximo!

[19/07/2012 21:00:00]