Conhecendo o mercado editorial brasileiro
PublishNews, Roberta Campassi, 13/10/2011
Confira como foi a 25ª International Rights Directors Meeting, que debateu o mercado editorial brasileiro

A 25ª International Rights Directors Meeting, uma das conferências mais importantes da Feira de Frankfurt, colocou em pauta dois focos de crescimento do mercado editorial. De um lado, o Brasil, e, de outro, o segmento digital no mercado americano.

O Brasil esteve sob os holofotes primeiro. Tomás da Veiga Pereira, sócio da Sextante, explicou a um auditório cheio o contexto atual do mercado de livros no país. A agente literária Lúcia Riff, por sua vez, expôs o panorama editorial brasileiro das últimas duas décadas e Eduardo Blücher, da editora Blucher, apontou as características do mercado nacional de livros técnico-científicos, bem como as tendências do segmento.

As principais mensagens foram: não se esqueçam de que o Brasil é um mercado onde ainda há muito a fazer, mas olhem seriamente para o país, para vender títulos e também para comprar.

Lúcia Riff ressaltou as mudanças positivas por quais o mercado editorial brasileiro passou nas últimas décadas, e destacou o papel positivo dos programas governamentais de compra de livros, a criação de eventos como a Flip e o desenvolvimento de novos canais de venda, como o catálogo da Avon. E deixou um recado para os editores internacionais: “A nova geração de autores brasileiros quer muito ser lida e traduzida”. “Nos anos 80, os autores brasileiros precisavam ter algum outro trabalho para se manter. Hoje, muitos conseguem ser autor em tempo integral e passam metade do tempo divulgando seu trabalho.”

Pereira, da Sextante, chamou atenção para best-sellers lidos no Brasil nos últimos anos, embora as tiragens médias ainda sejam pequenas, entre três mil e cinco mil exemplares. Ele lembrou a força de um mercado editorial em que “o livro de um famoso padre alcançou vendas de seis milhões de exemplares em um ano, segundo a editora que o publicou”, fazendo referência à obra Ágape, do padre Marcelo Rossi, lançada pela Globo Livros. “Mas ainda tem muita coisa básica para se fazer no Brasil”, ponderou. “Temos uma população enorme que não tem acesso a inúmeras coisas e existe um caminho longo a ser percorrido no mercado tradicional de livros”, afirmou, após uma pergunta sobre a situação dos livros digitais no país.

Blucher, por outro lado, é veemente ao dizer que livros eletrônicos são uma realidade mais próxima no mercado universitário e citou o programa Pasta do Professor. “O mercado digital é, sem dúvida, o futuro, e algumas universidades brasileiras já estão começando a compilar o material das aulas digitalmente para entregar aos alunos. Cabe às editoras criar esse conteúdo”, afirmou.

Outros livros digitais

O assunto ganha outro patamar quando se fala das experiências com livros digitais de gigantes como as americana HarperCollins e Simon & Schuster, que vêm trabalhando para diversificar o lançamento de títulos digitais e explorando modelos diferentes, que passam por e-books tradicionais, enhanced e-books e aplicativos.

Para Robert Baensch consultor as editoras de mercados maduros como o americano estão preparadas para suprir a demanda dos leitores de livros digitais, que, segundo ele, crescerá com o desenvolvimento de tablets e e-readers cada vez mais baratos. “No Brasil, as editoras ainda não estão tão preparadas, mas acredito que a demanda não será concentrada em tablets, e sim nos celulares, que estão ao alcance de milhões de pessoas que, por uma questão econômica, não vão comprar um aparelho para ler livros”, afirma. “O mesmo acredito que vai acontecer com a China, onde há 960 milhões de celulares em operação”.

Para Trini Vergara, sócio da Vergara & Riba, que tem escritórios na Argentina, Brasil e México, há ainda muitas barreiras de acesso à leitura na América Latina. Sobre as mudanças no mercado, ela disse: “temos que estar incrivelmente bem informados e incrivelmente realistas em relação a essas barreiras no nosso mercado”. A editora crê que o segmento digital vai passar por muitas transformações nos mercados americanos e europeus, até alcançar uma maturidade e uma padronização. “Aí, sim, acredito que as editoras na América Latina vão investir pesadamente. Mas até lá temos, no mínimo, que estar atualizados sobre as discussões.”
[13/10/2011 00:00:00]