Heróis do jornalismo na mira de um livreiro
PublishNews, 25/02/2011
Heróis do jornalismo na mira de um livreiro

Foi há duas semanas... Zé Carlos Marão e Zé Hamilton Ribeiro conversaram com jovens jornalistas a convite da editora Abril. Todos os anos uma nova safra de meninos e meninas chegam ao mercado de revistas. Neste dia se reuniram os melhores, do país todo. Olhavam para os dois senhores com respeito e curiosidade. Um de boina e cabelos branquinhos que escapavam pelas beiradas (por dentro da boina cabelos não havia mais). O outro, mais conhecido, aparece todas as manhãs nas casas dos meninos, no Globo Rural, quando eles chegam das baladas de sábado.

Recentemente a minha editora, a Realejo, lançou o Realidade re-vista, destes dois grandes jornalistas. O livro é um tributo à revista Realidade, uma seleção do filé da revista, somados aos textos escritos hoje, que rememoram as façanhas daquele tempo, com os olhos bem mais maduros.

Por conta deste livro a dupla foi convidada a falar sobre a história da revista para o Curso Abril de jornalismo, e lá fomos nós, eu na plateia, o terceiro Zé, como brincamos.

O Marão é mais quieto, de bastidores. Sua visão e entendimento do que acontece nas redações são enormes. Ele foi um motor na produção do nosso livro. Na palestra, foi mais discreto, mas sempre agudo.

O Zé Hamilton tem outro jeito, acostumado às câmeras, gosta de ficar em pé, gesticulando e contando causos que exemplificam passagens da própria história e da história do jornalismo brasileiro, o que no fundo são a mesma coisa.

Numa fala da palestra Zé Hamilton relembra o dia em que um jovem jornalista perguntou se era difícil exercer a profissão sendo ele um deficiente físico - ao cobrir a guerra do Vietnã para a Realidade, Zé Hamilton perdeu parte da perna numa mina - no que o Zé rebateu: “Sim, certamente ter uma perna é pior do que ter duas...mas melhor do que ter quatro!”. Risadas nervosas dos meninos. Em outro momento, eles deram uma aula sobre a chatura do são Google, fazendo uma analogia com as redações pedidas nas escolas. Se antes uma professora pedisse 30 redações para sua classe sobre a árvore, na segunda seguinte chegavam 30 textos diferentes, pois as fontes das crianças eram a mãe o pai, o avô, a tia, o vizinho. Vejam agora, um click no computador e chegam 30 textos quase idênticos. Uma boa imagem dos tempos atuais...

Foi uma experiência rica para mim, misto de livreiro e editor, na plateia com outros 70 privilegiados, roubando o dia destes heróis do jornalismo.

Ao final do papo fomos almoçar, mas o resto do dia conto mais adiante, não vou falar de boca cheia.

Abraços e até a próxima.

[24/02/2011 21:00:00]