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Livro apresenta histórias de princesas guerreiras

Ilustradora Janaina Tokitaka desconstrói padrão eurocêntrico dos contos de fadas
Retrato da Mãe de Ouro, personagem do folclore mineiro Foto: Janaina Tokitaka / Divulgação
Retrato da Mãe de Ouro, personagem do folclore mineiro Foto: Janaina Tokitaka / Divulgação

RIO — Há, segundo a escritora e a ilustradora Janaina Tokitaka, um grande mal entendido em relação aos contos de fadas. Para quebrar a convenção ocidental de que toda a princesa precisa ser frágil, romântica, e estar sempre à espera de um príncipe encantado para salvá-la do perigo, ela acaba de publicar “Princesas guerreiras” (Pallas), que busca, na tradição mítica de vários povos e continentes, histórias de heroínas autônomas, fortes e poderosas. O livro traz seis contos ilustrados protagonizados por figuras femininas das culturas asiática, viking, africana, grega e brasileira, que a autora descobriu em suas pesquisas sobre folclore e contos de fadas.

— Todo mundo entende muito errado os contos de fadas — diz Janaina, que no dia 30 de agosto realizará a palestra “A mulher no Conto de Fadas", no centro cultural Tapera Taperá, em São Paulo. — Me falam: “Ah, você que é uma autora feminista, como pode gostar dessas histórias com mulheres frágeis?”. Mas acontece que esse é um dos tipos de conto de fadas. Estamos acostumados a ver tudo num recorte mais eurocêntrico. Quando saímos dele, esses valores absolutos já não funcionam mais. Outros registros, principalmente africanos, apresentam mulheres com muita agência. Às vezes, são elas que salvam os heróis no final!

Oyá, da rica mitologia iorubá Foto: Janaina Tokitaka / Divulgação
Oyá, da rica mitologia iorubá Foto: Janaina Tokitaka / Divulgação

Entre as princesas revisitadas pela escrita e pelos traços de Janaina estão Oyá, rainha dos ventos e das tempestades da mitologia iorubá; Brunhilde, geniosa valquíria viking; Ártemis, eterna guardiã da caça, da luta e das mulheres; Jingu, antiga imperatriz japonesa; e Yennenga, fundadora do povo Mossi, de Gana, uma guerreira que não deseja mais guerrear. Há, também, uma personagem do imaginário popular mineiro, que a autora descobriu em uma conversa de bar com uma amiga: a Mãe de Ouro, eterna defensora das mulheres, cuja aparição pode trazer fortuna ou desgraça.

De origem nipo-germânica, Janaina misturou em seus desenhos elementos das duas tradições familiares. Seu traço absorve tanto a estética do conto de fadas europeu quanto a do sumi-ê, técnica de pintura oriental que mistura desenho e caligrafia usando uma tinta parecida com o nanquim.

— O livro é essa mistura de culturas, tem o padrão mais geometrizado, com blocos de cor acrílicos, que é da cultura ocidental, e essa coisa mais fluida, mais aquática e molhada do sumi-ê, que representa melhor a iconografia africana e indígena — explica a autora, que morou um tempo na Irlanda e trabalhou esse estilo em uma oficina da Bienal de Bratislava, na Eslováquia.

Autora do infanto-juvenil “Tem um monstro no meu jardim” (Escrita Fina Edições, 2010), Janaina acha que o novo trabalho pode ser inspirador para crianças, embora tenha sido produzido para leitores de todas as idades.

— É importante mostrar para crianças e jovens que há outros modelos femininos. Nem todas as crianças precisam imitar as princesas da TV, que são bonitas, usam vestido cor de rosa e não respondem. Nada contra se quiserem, claro, mas quanto mais opções tiverem  tiverem para se inspirar, melhor.

A vida selvagem de Ártemis, filha de Zeus Foto: Janaina Tokitaka / Divulgação
A vida selvagem de Ártemis, filha de Zeus Foto: Janaina Tokitaka / Divulgação