Coluna
Raphael Montes Raphael Montes

O escritor de romances policiais Raphael Montes
Foto: Camilla Maia / Agência O Globo

Boulevard literário

Por muito tempo, me perguntei por que o Rio de Janeiro não possuía qualquer evento forte voltado para a literatura

Foi com muita alegria que fiquei sabendo da primeira edição do LER — Salão Carioca do Livro. O evento começa nesta quinta-feira, dia 24, e vai até domingo, das 10h às 21h, no Boulevard Olímpico, com acesso gratuito ao público e com uma programação incrível em pleno Pier Mauá. Sinceramente, fiquei tão animado que, bem, este é o tema da coluna de hoje.

Por muito tempo, me perguntei por que o Rio de Janeiro não possuía qualquer evento forte voltado para a literatura, com debates literários pertinentes, interação com o público jovem, fazendo um movimento de aproximação do leitor com o mundo dos livros. Sem dúvida, a Bienal do Livro cumpriu esse papel por muito tempo, mas a distância física do evento — em geral, no Riocentro —, a periodicidade, o preço dos ingressos e a espetacularização de alguns lançamentos acabaram levando a Bienal do Livro para outros rumos, também válidos e essenciais para o cenário editorial, mas bem diferentes dos povoados pela minha imaginação.

Eu ansiava por algo mais próximo de uma Balada Literária, festival organizado anualmente pelo querido Marcelino Freire em São Paulo, com uma programação diversificada que mistura literatura, teatro e música em diversos espaços estratégicos da cidade. Parecia impossível. No Rio, o evento mais próximo dessa ideia era a Primavera Literária, que acontece anualmente no Museu da República, com exposições de editoras pequenas e médias e uma pequena programação de debates.

Finalmente, o LER parece querer entregar o evento literário que faltava ao Rio de Janeiro. Para isso, contará com espaços destinados a variados públicos, como o “Era uma vez”, voltado para crianças, com contação de histórias e atividades interativas; o “Espaço geek” e o “Espaço jovem”, para a galera antenada que acompanha youtubers e booktubers, e o “Café do livro”, com bate-papos e debates com autores contemporâneos. Nos espaços “Auditório” e “Talk show literário”, acontecerão as palestras mais voltadas a debates do mercado literário, aspectos da produção do livro, principalmente de pequenas e médias editoras. Por fim, alguns espaços inusitados, como o “Sebo”, para compra, venda e troca de livros usados (uma chance de renovar sua biblioteca), o “Jardim literário”, com declamação de poesias, e o “Espaço de roteiro e dramaturgia” com oficinas dedicadas à escrita de roteiro para TV e cinema.

Desde logo, acessei a programação do evento e fui anotando um roteiro imperdível de conversas e debates que compartilho com vocês a seguir. Para começar bem a quinta-feira, não dá para perder, às 11h, Elisa Lucinda declamando poesias no “Jardim literário”. Dali, basta correr ao encontro de Suzana Vargas, criadora da Estação das Letras, que ministra uma oficina literária sobre leitura e criação poética no mesmo horário. Às 15h, é a hora de Ninfa Parreiras tratar sobre o ofício de escrever para crianças. Às 16h, os escritores Janda Montenegro, Carlos Voltor e Miguel Paes conversam sobre literatura de terror no “Espaço geek”. Praticamente no mesmo horário, Bruna Beber, poeta que publicou o incrível “Rua de padaria”, se apresenta no “Café do livro”.

Outras três mesas imperdíveis nesse dia acontecem também em horários próximos. Às 17h30m, as jornalistas Malu Gaspar e Consuelo Dieguez formam o talk show literário “Como se faz reportagem na Piauí”, enquanto às 18h, no “Café”, Alberto Mussa divide a mesa “Histórias componentes” com o escritor Paulo Lins, dois mestres da literatura contemporânea, geniais e bons de papo. No “Jardim literário”, aprendemos “A arte de escrever contos” com o imortal Antônio Torres, às 18h. Para fechar o dia agitado, no espaço de dramaturgia, acontecem a oficina sobre fazer novelas, às 16h, com Claudia Souto, e o diálogo no roteiro televisivo, às 19h, com Daniel Berlinsky, ambos roteiristas experientes na TV Globo.

Na sexta, dia 25, o “Café do livro” recebe os escritores João Paulo Cuenca e Rafael Cardoso com um debate às 16h sobre autoficção. Logo depois, às 17h30m, é hora de Cora Ronai tratar de um dos assuntos de que mais entende: o fazer do cronista nos dias de hoje. No espaço “Jovem autor”, Bruno Miranda, autor de “Azeitona”, falará sobre o equilíbrio entre ser youtuber e escrever livros. No sábado, dia 26, o Café do Livro bomba com uma sequência de debates imperdíveis: às 14h45m, Braulio Tavares e Heloísa Seixas conversam sobre ficção científica, um gênero ainda pouco explorado na literatura brasileira; e às 16h, Ana Miranda e Joaquim Ferreira se encontram na mesa “Vidas”. No espaço “Jovem autor”, estarão presentes Affonso Solano, autor de fantasia, e Babi Dewet, autora de romances românticos.

No domingo, os debates começam às 14h30m, para tratar de romance histórico com os autores Pedro Doria e Mary Del Priori e passeiam entre temas atuais, como as vozes na literatura, com Vinicius Grossos e Ana Paula Lisboa, e questões de identidade, com Thammy Miranda. Por fim, para quem desejar encontrar este que vos escreve, participo de duas mesas. Na quinta, às 16h30m, converso com leitores na tenda “Jovens autores” e no sábado, às 17h15m, participo da mesa “Crime e castigo”, sobre literatura policial, ao lado de Ana Paula Maia, autora de romances viscerais e bastante duros. O sucesso de qualquer evento literário — assim como o sucesso de qualquer escritor — depende dos leitores. Não deixem de comparecer ao Boulevard Olímpico nos próximos dias para participar do LER. Vida longa ao festival!

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