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Literatura

Ficção por ficção, o brasileiro prefere novela de TV a livro

Arte

Esta semana, na famosa Feira do Livro de Frankfurt, Tomás Pereira, da editora Sextante, lamentou a baixa disseminação da ficção comercial no Brasil. A lista dos dez mais vendidos em ficção é quase sempre dominada pelos estrangeiros, ao contrário do ranking de não-ficção. “Os melhores autores brasileiros estão escrevendo novela”, afirmou. À “Folha”, o editor explicou que o Brasil não consolidou um mercado de livros de massa, e que as editoras não conseguem competir com o mercado de TV, para onde migraram autores com habilidade para serem best-sellers: “Perdemos esses autores para a dramaturgia”.

Diante do tema, o crítico e ensaísta Italo Moriconi diz que é mais fácil sair do livro para a TV do que fazer o caminho inverso. “Nenhum editor pode criar um autor, embora possa ajudá-lo a aperfeiçoar-se. Talvez o que o leitor brasileiro de best-sellers busque seja justamente a ambiência ‘americanizada’ ou ‘globalizada’ desse tipo de livro”. Italo é otimista."Há, hoje, um potencial grande de vendagens na ficção de fantasia, na jovem, proveniente de celebridades youtubers, e nas diversas modalidades de fan fiction. O best-seller brasileiro ou sairá daí ou não sairá”. Para ele, a melhor maneira de editores criarem autores numa linha pretendida qualquer é pagando-lhes “polpudos adiantamentos”.

Beatriz Resende, outra critica literária, acha que a questão central é a falta de visibilidade, publicidade e divulgação, já que, para ela, a literatura brasileira vai muito bem. “Ela é múltipla, sintonizada com o contemporâneo e tem condições de circulação global. Tem-se renovado, com jovens autores interessantes surgindo, ao mesmo tempo em que os nossos decanos continuam excelentes. Nossa literatura tem tudo para atrair leitores de outros lugares do mundo, com autores que são, muitas vezes, pouco conhecidos entre nós”.

Já outro critico de destaque, José Castelo, prefere caminhar em outra direção. “Infelizmente, a maior parte da nova geração de ficcionistas brasileiros escreve, hoje, hipnotizada pelas seduções do mercado. O faz para se consagrar comercialmente”. Para ele, essa “literatura comercial”, como prefere chamá-la, não é um caso isolado, “mas um efeito dos tempos banalizados e obscuros em que vivemos”. Ainda assim, Castelo aponta grandes exceções como os escritores Carlos de Brito Mello, Julian Fuks e Rubens Figueiredo. “Todos movidos movidos pela ideia da resistência. Sem resistência, não há literatura que mereça esse nome”. Boa leitura.

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