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Aos 72 anos, morre o escritor Antonio Carlos Viana

Acadêmico e contista sergipano foi vítima de um câncer na medula
O escritor Antônio Carlos Viana Foto: Paulo Henriques Brito / Divulgação
O escritor Antônio Carlos Viana Foto: Paulo Henriques Brito / Divulgação

RIO — O escritor sergipano Antonio Carlos Viana morreu na manhã deste sábado em um hospital de Aracaju, capital do Sergipe. O autor de 72 anos foi vítima de um mileoma, tipo de câncer que ataca a medula óssea. O seu corpo será cremado neste domingo. O escritor deixa um filho, o também escritor André Viana, e sua atual companheira, Maria Carolina Barcellos.

Ao longo de quatro décadas de carreira, o escritor sergipano Antonio Carlos Viana construiu uma obra de poucos títulos, mas de grande força expressiva. A concisão era um elemento importante na sua relação com a literatura, e se refletiu no número de obras publicadas (seis, ao todo) e no apreço pela narrativa curta, que o tornou um dos mais respeitados contistas do país. Sua precisão e poder de síntese estavam a serviço de uma prosa seca, que iluminava a humanidade de figuras marginalizadas em contos que transitam entre a sordidez e a exuberância.

Sua estreia na ficção foi em 1974, com a coleção de contos “Brincar de manja”. Depois, publicou quase uma obra por década: “Em pleno castigo” (1981), “O meio do mundo” (1993), “Aberto está o inferno” (2004), “Cine privê” (2009) e “Jeito de matar lagartas” (2015) — os dois últimos, lançados pela Companhia das Letras, conquistaram o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) de melhor livro de contos.

Nascido em Aracaju, Viana graduou-se em Letras pela Universidade Federal do Sergipe, fez mestrado em Teoria Literária na PUC-RS e doutorado em Literatura Comparada na Universidade de Nice (França) e exercitou a leitura e a escrita como professor, autor e tradutor.

Em reportagem publicada no GLOBO, em 2015, Juliana Krapp escreveu que, desde “Brincar de manja”, a literatura de Viana apesenta histórias “colhidas da rotina das ruas e de seus cantos secretos, em rincões agrestes, periferias mal iluminadas, favelas, casas de classe média, mangues, prostíbulos, terrenos baldios, escolinhas de subúrbio, cortejos fúnebres do interior”. Revelando tais lugares a partir de uma prosa seca, o autor passava por temas como infância, perda da inocência, sexo e morte, com personagens “às voltas com as perturbações do corpo, o desejo, as doenças e a decrepitude”, desvelando “um Brasil negligenciado pela prosa contemporânea”.

Em entrevista ao GLOBO, o autor analisou a relação entre velhice, desejo e sexo: “A maioria dos meus personagens, hoje, é de pessoas idosas, marcadas pela degradação física e pela aflição do desejo carnal que, afinal, não morre. Por isso cheguei a uma sensualidade tão sombria, cheia de desassossego”.