Cultura
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Passados 20 anos do sucesso de “Trainspotting” nos cinemas, a frase mais célebre do filme precisa de um novo complemento: “Escolha a vida, escolha um emprego, escolha uma carreira, escolha uma família, escolha a porra de uma televisão grande...” e escolha passar as tardes fazendo ginástica em Miami!

Autor do livro homônimo que deu origem ao longa-metragem e de outras histórias sobre sociopatas e suas obsessões, praticamente todas elas passadas na Escócia, Irvine Welsh optou por uma mudança gigante de ares em seu nono romance. Intitulado “A vida sexual das gêmeas siamesas” (semana que vem nas livrarias brasileiras, pela editora Rocco), o livro é ambientado numa Miami consumista, com suas beldades de corpos esbeltos e bronzeados e seus artistas querendo vender vanguarda em shopping center. As drogas são outras, o clima é outro, mas no fundo Welsh, uma das grandes estrelas da 14ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa no fim do mês, segue escrevendo sobre vícios.

— O exercício físico é um tipo de vício, sim. Você entra numa rotina, se sente mais satisfeito, mais motivado e gera endorfina — contou Welsh, em entrevista por telefone ao GLOBO, com seu carregadíssimo sotaque escocês. — Eu comecei a me exercitar para combater o estresse e meio que me tornei um viciado. O bom é que, quando você se exercita regularmente, pode comer o que quiser. É péssimo quando eu me machuco e tenho que parar de fazer exercício, porque aí eu tenho que controlar a alimentação. Gosto dessa mistura de ginástica com liberdade para comer. Espero conseguir me exercitar no Brasil ou então vou voltar gordo de tanta cerveja.

No caso, o declarado apreço por cerveja é o que mais se aproxima da imagem que se tem de Welsh. Entre as décadas de 1970 e 1980, ele viveu os excessos típicos daquela época: de origem proletária, pulou entre dúzias de trabalhos, foi usuário de drogas, chegou a ser preso e tocou em banda punk. Mas, depois, acabou escolhendo “a vida, um emprego, uma carreira...”, esses conselhos dados em seu primeiro romance, “Trainspotting”, lançado em 1993. O livro narra a vida destrutiva de um grupo de amigos viciados em heroína e se tornou extremamente popular graças à sua adaptação para o cinema, sob direção de Danny Boyle.

Dali em diante, Welsh tornou-se um ídolo da cultura pop. Outros de seus livros, como “Ecstasy” (1996) e “Filth” (1998), também já foram adaptados para o cinema, e muitos repetem personagens e a temática de violência, drogas e perdição presente em “Trainspotting”. “Pornô” (2002), por exemplo, narra o que aconteceu dez anos depois com os pirados do primeiro livro, enquanto “Skagboys” (2012) mostra o que aconteceu antes.

Mas, em seu nono romance, o autor escocês quis deixar a fria e formal Edimburgo e se virou para a quente e despojada Miami. As protagonistas de “A vida sexual das gêmeas siamesas” são Lucy e Lena, a primeira uma professora de academia bissexual e fissurada pelo corpo, praticamente uma nazista da boa forma, a segunda uma jovem artista insegura e acima do peso. O livro começa com um encontro casual entre as duas: Lucy enfrenta um sujeito armado, e Lena acaba filmando a cena com seu celular, uma imagem que depois vai parar em todas as TVs e torna Lucy uma celebridade passageira. Na história, enquanto uma fica obcecada pela outra, a mídia acompanha atentamente o caso de uma irmã siamesa que quer sair com um namorado, mas obviamente não consegue fazer isso sozinha.

— Lucy e Lena são dois opostos, quase extremos. As pessoas tendem a dizer que Lucy é terrível, é quase uma nazista, e Lena é tão legal. Mas você pode enxergar o contrário. A ideia era polarizar essas duas mulheres. Quem adora fazer ginástica costuma adorar a Lucy — diz Welsh. — Já as irmãs siamesas eu vejo como uma tragédia de duas pessoas que não podem fazer nada separadas. Talvez um dia eu escreva uma história só sobre isso.

As muitas descrições sobre Miami que estão presentes no livro vêm de um período em que o próprio Welsh viveu na cidade. Ele mora há sete anos nos EUA, a maior parte do tempo em Chicago, cidade natal de sua mulher:

— Miami é muito diferente de onde eu venho. Na Escócia a cultura é mais verbal, em Miami as coisas são mais visuais. Lá as pessoas têm mais consciência do corpo e têm um vício no consumismo americano. É tudo mais físico, você fica mais preocupado com a forma do que em Edimburgo e até Chicago, em que as pessoas acabam ficando presas atrás de laptops. Você sai na rua e vê as modelos da Condé Nast e os artistas. Acho que o clima quente ajuda a criar esse comportamento de rua que não há em outras cidades. Há muitos brasileiros lá. E vocês gostam de festas.

“TRAINSPOTTING 2” A CAMINHO

Welsh, contudo, passa de dois a três meses por ano em sua Edimburgo, exatamente onde estava durante esta entrevista:

— Sempre, quando venho para cá, eu reparo no quanto sou escocês. Gostaria de ter uma daquelas máquinas de teletransporte de “Jornada nas estrelas”, para poder me materializar mais rápido do outro lado do Atlântico. Mas não acho um grande problema viver nos Estados Unidos. Neste ano haverá eleição e será divertido. Trump e Hillary são as pessoas mais odiadas da América. Se houvesse um concurso para escolher o pior, seria duro.

No início de 2017, mais ou menos quando um novo presidente assumir o governo americano, está previsto o lançamento de “Trainspotting 2”, novamente com Danny Boyle na direção. Aguardado há anos, o projeto está sendo rodado neste momento, com os atores do primeiro filme, entre eles Ewan McGregor. O ponto de partida é o livro “Pornô”, em que Welsh oferece a seus velhos personagens um novo vício, o da pornografia.

— O “Pornô” serve como ideia, mas haverá mudanças, até porque a indústria pornográfica mudou muito desde que escrevi o livro, por causa da internet — explica Welsh, que vai reprisar o personagem que interpretou no primeiro filme, um traficante de drogas. — Eu terei que ir até o set para rodar. É uma participação apenas.

Já na Flip, a participação de Welsh será maior. Um dos mais populares nomes do evento, ele estará na mesa “Na pior em Nova York e Edimburgo”, no dia 30, às 21h30m, ao lado de Bill Clegg, autor americano que já escreveu relatos autobiográficos sobre dependência química. A venda dos ingressos começou ontem.

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