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Mais de 70 cartas desapareceram do acervo de Mário de Andrade na USP

Sumiço, descoberto em 2005, só foi investigado cinco anos depois pela universidade

Acervo de Mário de Andrade na universidade guarda as cartas recebidas pelo escritor
Foto: Reprodução
Acervo de Mário de Andrade na universidade guarda as cartas recebidas pelo escritor Foto: Reprodução

RIO - Setenta e oito cartas que faziam parte do acervo Mário de Andrade, sob a guarda do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP), desapareceram. A revelação foi feita em reportagem da revista “Época”, publicada no último fim de semana. Segundo a reportagem, as cartas constam no catálogo do acervo, elaborado entre 1995 e 2003. No entanto, em 2005, quando começou o processo de digitalização, missivas de Di Cavalcanti, Manuel Bandeira, Fernando Sabino, Ronald de Carvalho e Menotti Del Picchia, descritas no catálogo, tinham desaparecido das caixas. A informação foi confirmada pela universidade nesta quinta-feira. O acervo Mário de Andrade é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Apesar da descoberta, só quatro anos depois a chefia do arquivo designou uma estagiária para fazer uma varredura em busca das cartas desaparecidas. Ao todo, 78 sumiram, mas, de acordo com a revista, o caso foi tratado em segredo pela equipe do acervo Mário de Andrade e a direção do IEB não foi notificada. Só em 2010, após pressão de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que queriam ver as missivas de Ronald de Carvalho, é que o caso chegou à então diretora Ana Lúcia Lanna. Depois de uma nova varredura, que confirmou o desaparecimento, ela fez um registro de ocorrência na 51ª DP e instaurou uma sindicância interna.

Contudo, nenhuma das duas investigações avançaram. A sindicância, a qual “Época” teve acesso através de pedido pela Lei de Acesso à Informação, apontou que, no período referido, nenhum pesquisador externo à USP teve acesso ao material, só aqueles vinculados à equipe comandada pela professora Telê Ancona Lopes, além de funcionários e estagiários do arquivo. Parte das missivas desaparecidas permanecia inédita, como as de Di Cavalcanti (3), Ronald de Carvalho (9) e Menotti Del Picchia (13).

Procurada pelo GLOBO, a USP justificou a demora entre a descoberta do sumiço e a notificação da direção do IEB citando o relatório da comissão de sindicância: “a docente responsável [Telê Ancona Lopez] e a equipe técnica de pesquisadores acreditavam que as cartas não localizadas estivessem deslocadas dentro do acervo e que seriam encontradas durante os trabalhos de digitalização e troca de capas”, diz o texto.

Pelo mesmo motivo, alega a universidade, o Iphan não foi contatado em 2005, mas apenas em 2010, quando foi feito o registro de ocorrência. Por se tratar de um patrimônio tombado pelo órgão federal, o instituto deveria ter sido comunicado a fim de acionar a Polícia Federal (PF), responsável por incluir as cartas no Cadastro de Bens Procurados. O Iphan confirmou que foi notificado em 2010 e encaminhou o caso para a PF.

A USP defende que todas as medidas foram tomadas pela direção do IEB, “não tendo havido, portanto, nenhuma omissão da parte dos funcionários, dos docentes, dos pesquisadores e da direção deste instituto da USP, reconhecido nacional e internacionalmente”.