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Concurso Brasil em Prosa revela seus três vencedores

Disputa literária consagrou os autores Eduardo Sabino, Irka Barrios e Bruno Ribeiro

O mineiro Eduardo Sabino venceu o concurso Brasil em Prosa com o conto “Sombras”
Foto: Divulgação
O mineiro Eduardo Sabino venceu o concurso Brasil em Prosa com o conto “Sombras” Foto: Divulgação

RIO — O grande vencedor do concurso Brasil em Prosa, promovido pelo GLOBO e pela Amazon, com o apoio da Samsung, é mineiro, tem 29 anos, e trabalha como jornalista. Nascido na cidade de Nova Lima em 1986, Eduardo Sabino superou milhares de concorrentes com o conto “Sombras”, que conquistou os jurados com uma narrativa que investiga a memória a partir de sentimentos como perda, rompimento e assombro. Nos outros degraus do pódio ficaram a gaúcha Irka Barros, com “O coelho branco” (segundo lugar), e o também mineiro Bruno Ribeiro, autor de “A arte de morrer ou Marta Díptero Braquícero” (terceiro lugar). Os três finalistas terão os seus contos publicados a partir da próxima edição do Prosa. Além disso, a premiação inclui a tradução dos textos para o inglês, a assinatura digital do GLOBO por um ano e um tablet da Samsung.

Ao longo de um mês, o concurso recebeu a inscrição de quase 6,5 mil contos. Os três vencedores saíram de um grupo de 20 finalistas, cujos contos também foram premiados: cada selecionado ganhará uma assinatura digital do GLOBO por três meses, um Kindle e assinatura de um ano do programa Kindle Unlimited. De forma geral, a qualidade dos candidatos chamou a atenção do júri final do concurso, formado pela escritora Carola Saavedra, um dos importantes nomes da nova literatura brasileira; pelo crítico José Castello, colunista do Prosa; pelo repórter Guilherme Freitas, e por Mànya Millen, editora do caderno. A premiação acontecerá dia 6 de setembro, às 11h, na Bienal Internacional do Livro do Rio. Para marcar o evento, o debate “Criação e distribuição da literatura contemporânea: do papel às plataformas digitais”, mediado por Mànya, vai reunir os jurados e a escritora niteroiense FML Pepper, fenômeno editorial que nasceu justamente na plataforma de autopublicação da Amazon.

Para Castello, os contos dos finalistas, e em particular os três vencedores, comprovam, mais uma vez, de que já não se pode apontar “tendências” na melhor literatura produzida no país.

— Não é mais possível falar em escolas, em grupos, em descendências — avalia o crítico. — A pluralidade de caminhos e de vozes se afirma como a principal marca da boa literatura brasileira em nosso século XXI. Infelizmente, grande parte de nossos escritores contemporâneos (talvez a maioria) se deixou vencer pelo desejo de padronização, pensando apenas no mercado e no sucesso. O Brasil em Prosa mostra que, ainda assim, temos vigorosas exceções, e que esses escritores que se arriscam (e não os que limitam a se enquadrar e a repetir) são os que realmente importam.


Irkia Barrios: flerte com surrealismo com “O coelho branco”
Foto: Divulgação
Irkia Barrios: flerte com surrealismo com “O coelho branco” Foto: Divulgação

Carola Saavedra, autora de romances como “O inventário das coisas ausentes” e “Toda terça”, publicados pela Companhia das Letras, lembra que a seleção dos vencedores foi um desafio.

— Foi difícil escolher o melhor entre os vinte selecionados, mas, no final, “Sombras” foi unanimidade — diz Carola, ela mesma finalista de uma das edições do concurso Contos do Rio, promovido pelo Prosa entre 2003 e 2010.

Em “Sombras”, o narrador de Eduardo Sabino pincela episódios de uma vida pontuada por inquietações existenciais e religiosas, costurando infância e adolescência.

— É um acúmulo de tentativas de tratar um tema difícil para mim e que em determinado momento ganhou o formato do conto. Tem a ver com o efeito que algumas posturas religiosas mais radicais têm sobre mim e o incômodo de viver em um país onde o fundamentalismo parece ganhar força a cada dia — observa o autor.

Feliz com o prêmio, Sabino o considera uma vitrine importante:

— Um prêmio como o Brasil em Prosa é sempre uma chance de dar visibilidade ao que escrevemos. É uma referência importante de que nossos textos agradam a bons leitores.

Sabino lançou seu primeiro livro de contos, “Ideias noturnas sobre a grandeza dos dias” (Novo Século), em 2009. Desde então, vem publicando textos em algumas revistas literárias, participando de antologias (como a “Literatura Futebol Clube”, de 2012). O autor, porém, diz que quer buscar o aprimoramento do texto antes de publicar o segundo livro. O prêmio deu “mais coragem de tirá-lo da gaveta”, conta.

Segunda colocada, Irka Barrios — pseudônimo de Bibiana Simionatto — flerta com o surrealismo em “O coelho branco”. Dentista no município de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre (RS), Irka escreveu o conto para a oficina de escrita que fazia em 2014. Exercício sobre mise en abyme , técnica que conta histórias dentro de histórias, a narrativa se inspira em uma situação intrigante do cotidiano: a de se olhar em uma foto do passado e não se reconhecer.

— Acabei me identificando com a situação, fiquei pensando nas vezes em que eu quis voltar no tempo, voltar a viver uma situação, ou sentir o que a pessoa da foto sentiu — diz a autora, que acabou de terminar um romance que mescla “causos” de família e tem como pano de fundo fatos importantes da História do Brasil. — Nada me pareceu mais propício que remeter ao coelho branco, de “Alice no país das maravilhas”. A ideia de que o tempo nos escapa é fascinante e assustadora. Por isso quis usar a narrativa angustiante, que dá ao leitor a sensação de atropelar as palavras.

Nascido em 1989, o mineiro Bruno Ribeiro ficou em terceiro lugar com o conto “A arte de morrer ou Marta Díptero Braquícero”. Tradutor, escritor e roteirista, ele tem um livro de contos, “Arranhando Paredes” (Bartlebee), que acaba de ser lançado em espanhol pela editora argentina Outsider. Também é autor do romance “Febre de enxofre”, que dialoga com “Fausto”, de Goethe, budismo, música eletrônica e surrealismo. Ele ainda busca uma editora para o livro, fruto do trabalho de conclusão de seu mestrado em Escrita Criativa, em Buenos Aires.


Bruno Ribeiro: universo tragicômico de casais estranhos em “A arte de morrer...”
Foto: Divulgação
Bruno Ribeiro: universo tragicômico de casais estranhos em “A arte de morrer...” Foto: Divulgação

— Eu gosto de ressignificar histórias de amor com finais felizes — diz. — “A arte de morrer...” opera dentro de um universo tragicômico de casais estranhos. A ideia de usar a biologia das moscas como representação de pessoas que estão definhando por dentro faz parte do meu jogo ambíguo de ressignificar os relacionamentos.

Premiação

A cerimônia acontecerá dia 6 de setembro, às 11h, no Auditório Lapa (Pavilhão Verde da Bienal do Rio), com debate.