Economia Negócios

Bienal do Livro: editoras apostam no evento para compensar ano ruim

Com mercado em queda, empresas investem na feira com expectativa de segurar os resultados de 2015

Para a 17ª edição da Bienal, no Riocentro, esperam-se 600 mil visitantes. Em 2013, foram vendidos no evento 3,5 milhões de livros
Foto: Mônica Imbuzeiro / Monica Imbuzeiro/8-9-2013
Para a 17ª edição da Bienal, no Riocentro, esperam-se 600 mil visitantes. Em 2013, foram vendidos no evento 3,5 milhões de livros Foto: Mônica Imbuzeiro / Monica Imbuzeiro/8-9-2013

RIO - Para um setor que enfrenta uma crise, a pergunta que mais se faz atualmente é se 11 dias são capazes de compensar os problemas de um ano. O mercado editorial brasileiro vem sofrendo com os cortes nas vendas para os governos e também com a queda de faturamento no varejo, indícios de um horizonte nebuloso para fechar as contas de 2015. As grandes editoras, por isso, vêm alimentando a expectativa de que a Bienal do Livro do Rio, que vai se realizar entre os dias 3 e 13 de setembro, no Riocentro, possa ajudar a reverter o quadro negativo — não simplesmente pela venda de exemplares, mas sobretudo por recuperar o interesse do brasileiro pelo livro.

A esperança em torno da Bienal é proporcional ao número de visitantes aguardados para esta que será sua 17ª edição: 600 mil pessoas, boa parte jovens, que têm na feira seu primeiro contato com o livro. No último ano do evento, em 2013, foram 3,5 milhões de obras vendidas, contra 2,8 milhões em 2011.

Daí a aposta de casas editoriais como o Grupo Companhia das Letras em aumentar sua participação na Bienal. Será a primeira vez do grupo no evento depois da integração entre Companhia das Letras e Objetiva, anunciada em 2014 e consolidada em abril deste ano.

— Em quatro anos, dobramos nosso faturamento na Bienal, e isso não pode ser ignorado. Por isso aumentamos nosso estande — diz Lilia Zambon, gerente de marketing da Companhia das Letras. — Também guardamos grandes lançamentos para a Bienal, como os livros da Kéfera Buchmann e da Sarah Dessen. A venda durante o evento é muito boa, e ainda há um contato grande com o público.

R$ 60 MIL POR 100 METROS QUADRADOS

Mas apostar na Bienal do Livro não é exatamente simples. Além de ser preciso contratar serviços e mão de obra, que não são baratos no Rio, o aluguel do espaço para um estande de 100 metros quadrados custa em torno de R$ 60 mil. Com a montagem de prateleiras e da estrutura básica para receber o público, o valor pula para R$ 72 mil.

Em alguns casos, o valor fica ainda maior graças ao investimento das editoras em estrutura, convidados e outros atrativos para o público. A Zahar terá um espaço desenhado pela arquiteta e apresentadora de TV Bel Lobo. A Intrínseca estará na Bienal do Rio com 280 metros quadrados (na última edição, foram 180 metros quadrados) e uma programação que inclui autores nacionais e estrangeiros, como Míriam Leitão, Edney Silvestre, David Nicholls e Josh Malerman. Já a Leya terá uma reprodução do Trono de Ferro, da série de sucesso “Game of Thrones”, para os fãs se sentarem e tirarem foto durante a Bienal.

— Todo mundo só vem falando em crise, e isso cria um clima muito ruim para o mercado. A Bienal, por outro lado, cria a possibilidade de podermos celebrar o livro, a leitura e os autores — afirma Martha Ribas, editora da Leya. — A crise está aí, e não será vencida de uma hora para a outra. Mas temos de trabalhar para reverter esse panorama negativo, e a Bienal é o melhor momento para isso. Não estamos num momento de fazer investimentos luxuosos malucos, mas podemos gastar com mais originalidade.

A expectativa da Leya é que o livro de um autor brasileiro como Affonso Solano venda, durante a Bienal, mais de 1.500 exemplares, o que equivale a uma tiragem média de editoras pequenas. A expectativa faz sentido quando se consideram sucessos anteriores: na Bienal de 2011, por exemplo, a Globo Livros vendeu 2.200 cópias de “Ágape”, do padre Marcelo Rossi, em apenas um dia.

— Não vamos encontrar uma solução para a crise de uma hora para a outra, mas vamos ter um momento de reverter um pouco dessa situação negativa em que nos encontramos. Tudo isso já pensando nas vendas de Natal — completa Martha Ribas.

No total, a Bienal levará para o Riocentro mais de 200 escritores, sendo que 27 estrangeiros, para participar de alguma de suas atividades oficiais. Serão mais de mil lançamentos literários. Entre os nomes mais aguardados, estão Jeff Kinney (“Diário de um banana”, da V&R Editores) e Sophie Kinsella (“Os delírios de consumo de Becky Bloom”, da Record).

— Vamos ter o maior estande da nossa vida na Bienal, com 300 metros quadrados, porque entendemos que o evento se tornou um símbolo de venda e de público — avalia Tomás da Veiga Pereira, sócio da Sextante, uma das editoras que menos sofreu com a crise graças ao sucesso dos livros de colorir, como “Jardim secreto”. — É um ano de fato difícil. Junho e julho foram meses bem fracos.

MELHORAMENTOS NÃO TERÁ ESTANDE

A queda no mercado editorial já vinha se desenhando desde o ano passado. Como mostrou a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, feita pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel), o faturamento do setor caiu 5,16%, em valores reais (já descontada a inflação), de 2013 para 2014 — o pior índice desde 2002. A redução se deu sobretudo na venda de livros para governos, que foi de R$ 1,474 bilhão para R$ 1,239 bilhão, uma redução de 15,98% (21%, ao se descontar a inflação).

— Apesar do bom desempenho dos livros de colorir, o número deste ano está pior do que no ano passado — afirma Sonia Jardim, sócia do Grupo Editorial Record. — Mas minha preocupação não é só com a venda deste ano, e sim com a formação de novos leitores. A grande vantagem da Bienal é ela coloca o livro sob os holofotes. Mesmo se não forem ao Riocentro, as pessoas lembrarão de ir às livrarias.

Por outro lado, enquanto algumas casas esperam o incentivo da Bienal para recuperar as vendas, a crise também afastou algumas editoras tradicionais do evento. A Melhoramentos, que sempre se destacou na Bienal pelo tamanho de seu estande e por levar autores como Ziraldo, não terá um espaço próprio este ano. O motivo, naturalmente, é a crise.

— É uma decisão que nos machucou muito, porque sabemos da importância da Bienal — afirma Breno Lerner, superintendente da Melhoramentos. — Mas tivemos alguns cortes fortes este ano. A queda na venda para os governos nos afetou bastante, além das dificuldades do mercado. Então resolvemos que estaremos representados na Bienal apenas em estandes de livrarias e distribuidoras parceiras. O Ziraldo também estará lá, na área de autógrafos. Mas nosso estande, desta vez, não.