Cultura

Vencedor do Pulitzer, escritor Oscar Hijuelos morre aos 62 anos

Autor nascido nos EUA, filho de cubanos, ganhou o prêmio pelo romance ‘Os Mambo Kings tocam canções de amor’

O escritor Oscar Hijuelos
Foto: Stephen J. Boitano / AP
O escritor Oscar Hijuelos Foto: Stephen J. Boitano / AP

RIO —  O escritor Oscar Hijuelos, que ganhou o prêmio Pulitzer pelo best-seller "Os Mambo Kings tocam canções de amor", morreu aos 62 anos. Hijuelos, que em 1990 se tornou o primeiro escritor de origem cubana a vencer o Pulitzer de ficção, morreu em Manhattan após desmaiar em uma quadra de tênis, segundo a sua esposa, Lisa Marie Carlson.

Oscar Hijuelos não tinha nem cinco anos quando foi, em 1955, visitar Cuba — terra natal de seus pais, que haviam emigrado para os Estados Unidos. Até ali, só falava espanhol em casa. Na volta da viagem, teve uma infecção séria nos rins, que o deixou um ano internado em um hospital de Connecticut, nos EUA. Afastado da convivência diária com os pais, só ouvia o inglês da equipe médica, e ficou fluente no idioma. Mais tarde, Hijuelos atribuiu a esse episódio — médico e linguístico — o primeiro alheamento da língua espanhola e, como consequência, de suas raízes. Em 1990, ele foi o primeiro escritor de origem latina a ganhar o Pulitzer de ficção, por “Os Mambo Kings tocam canções de amor”. Escrevia em língua inglesa.

Nascido em uma ilha bem diferente da de seus pais — a de Manhattan, em 24 de agosto de 1951 —, Hijuelos dizia ser muito mais americano que cubano. Sua premiado livro foi adaptado para o cinema. “Os reis do mambo”, com Armand Assante e Antonio Banderas, baseado no livro ganhador do Pulitzer, foi lançado em 1992.

Os irmãos Castillo

Os dois atores representavam os irmãos Cesar e Nestor Castillo, protagonistas do romance, respectivamente. Livro e filme contam a história de como os dois músicos emigraram de Cuba para os Estados Unidos, tentando fazer sucesso com sua banda, os Mambo Kings. Num retrato comovente, Nestor passa a vida reescrevendo uma canção sobre um amor perdido em Havana. O romance, publicado no Brasil pela editora Virgiliae, virou um musical em 2005.

Diferente de outros escritores latino-americanos, os romances de Hijuelos não eram políticos. Falavam mais dos dilemas da assimilação dos imigrantes cubanos em uma cultura estrangeira. Ao mesmo tempo em que absorviam a cultura americana, seus personagens prendiam-se à sua identidade étnica e nacional. Nessas histórias, Hijuelos nunca aderiu ao realismo mágico, representado por nomes como Gabriel García-Marquez, mantendo uma prosa mais influenciada pela literatura anglo-saxã.

Seus últimos romances mantinham a mesma temática. “Beautiful Maria of my soul” (2010), retoma a história da mulher que partiu o coração de Nestor em “Mambo kings”. O anterior, “A simple Habana melody”, conta a história de um imigrante que volta a Cuba, depois de ser perseguido pelos nazistas na Europa. Prova que, apesar daquele ano no hospital, nunca se desligou totalmente de suas raízes. “Cheguei a um ponto de, ao ouvir o espanhol, sentir meu coração se aquecer”, disse, em uma entrevista. Com a literatura, dizia o autor, apesar da perda de sua primeira língua, ele havia “finalmente voltado para casa”.