Expatriados em Londres e reunidos em Paraty, os chineses Xinran e Ma Jian lotaram a tenda dos autores na tarde desta quinta-feira. À sombra da revolução cultural chinesa e do massacre da Praça da Paz Celestial, os escritores partilharam com o público as memórias de um passado violento e as perspectivas de futuro para os jovens chineses. Há quase duas décadas fora da China, a jornalista e o romancista já estão convictos da, talvez, mais perversa consequência das revoluções: o silêncio de uma geração inteira de chineses. Essa dificuldade em absorver os drásticos acontecimentos recentes na história da China está retratada em Pequim em coma (Record), de Ma Jian, e Testemunhas da China (Companhia das Letras), da Xinran. Após ler um trecho de seu mais recente livro, Ma Jien confessou que demorou mais de 10 anos para escrevê-lo. Além de ser um relato árido sobre o massacre de 4 de junho de 1989 na Praça da Paz Celestial, o que já torna a escrita uma catarse de sofrimento, o livro teve uma motivação pessoal muito forte. “Escutei as primeiras notícias do massacre, ao lado do leito de morte do meu irmão. Percebi que o mais significativo a ser relatado deveria ser justamente o sacrifício”, comentou Ma Jien. Foto: Walter Craveiro