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"O Mago" foi a obra mais difícil, diz Morais
DA FOLHA RIBEIRÃO
O jornalista e escritor Fernando Morais, experiente em
escrever biografias, diz que "O
Mago", sobre Paulo Coelho, foi
a obra mais difícil. Ele estará no
Salão de Ideias de amanhã, às
19h, na Feira do Livro. A seguir,
trechos da entrevista.
(JC)
FOLHA - Qual biografia exigiu mais
seu esforço?
FERNANDO MORAIS - Venho da
primeira experiência de escrever para alguém vivo. Foi a mais
difícil. Não é bom, por uma série de razões. Primeiro, porque
ele está vivo, você não está escrevendo sobre uma vida, mas
sobre uma parte de uma vida.
Depois, porque no caso do Paulo [Coelho], trabalhei por quatro anos com ele, grudado nele.
Por mais que você busque manter um distanciamento crítico,
essa relação gera laços afetivos.
FOLHA - Houve uma crise?
MORAIS - Sim, acabou me trazendo conflitos de consciência,
éticos, porque eu comecei a
descobrir coisas da história dele que não são exatamente virtudes: drogas, homossexualismo, satanismo. Tive dúvidas se
eu tinha o direito de expor de
uma maneira tão crua fraturas
de alguém que abriu a sua vida
para mim. Então, descobri o
óbvio: eu não podia submeter o
meu leitor a uma censura que o
Paulo não tinha pedido. Em nenhum momento, ele exigiu nada. Agora, quando é um morto,
o objetivo do autor é colocá-lo
para andar de novo o mais parecido possível com o que ele
era quando vivo, como em
"Chatô -O Rei do Brasil".
FOLHA - Quais erros devem ser evitados em uma biografia?
MORAIS - Os dois maiores riscos estão em algum tipo de envolvimento do autor com o personagem, canonizá-lo ou crucificá-lo. Com "Olga", por exemplo, tive dificuldade de manter
distanciamento porque é um
personagem apaixonante. Precisa ter cuidado para não fazer
a biografia de um santo. Nem o
oposto. Por exemplo, eu, de esquerda, falei de Chateaubriand,
um capitalista.
FOLHA - As pessoas têm mostrado
mais interesse por biografias?
MORAIS - Não sei. Procuro fazer da biografia um instrumento de revelar algo além do personagem. Então, se o personagem permite que você conte
um pouco da história do Brasil,
certamente será candidato a
ser um livro de sucesso.
FOLHA - Qual autor ou livro foi
uma referência para o sr.?
MORAIS - Minha geração se inspirou no chamado "new journalism" norte-americano: Truman Capote, Gay Talese, Tom
Wolfe. São jornalistas que decidiram escrever livros de não-ficção mas com um tratamento
estético literário.
FOLHA - Qual o maior entrave para
formar um público leitor?
MORAIS - Falam que livro vende pouco porque é caro, outros
que é caro porque vende pouco.
Na verdade, você resolve esse
problema com educação, investimento em biblioteca pública,
como nos países civilizados. A
maioria não tem uma biblioteca pública.
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