Adultos que foram crianças reprimidas e criadas com severidade tornam-se pais "frouxos"? Liberdade é ausência de limites ou, como diria o compositor Renato Russo, disciplina é liberdade? Questões como essas e muitas outras são levantadas e analisadas pelo pediatra Aldo Naouri, do alto de seus 40 anos de trabalho com crianças e seus pais, no livro Pais e Mães: Culpados ou Inocentes? (Campus, 244 pp., R$ 45). "Assim estão as coisas e a criança, guindada ao ápice da pirâmide dos valores, tornou-se o tirano doméstico cujas façanhas alimentam as conversas (...)", diz ele em um trecho do livro. Para o pediatra, o mundo moderno trouxe avanços científicos e médicos, gerando melhor qualidade de vida e longevidade para as pessoas. Mas, se as crianças de hoje gozam de mais saúde que as de 50 anos atrás, apresentam problemas de comportamento muito mais sérios. Naouri tenta responder à inevitável pergunta: por que isso acontece? "Porque podemos nos perguntar, afinal, se, ao rejeitar em bloco um conjunto de regras consideradas globalmente ultrapassadas, não teremos jogado fora, involuntariamente, um elemento sem o qual não seremos capazes de realizar mais nada e muito menos de construir alguma coisa", argumenta ele, em outro trecho. Naouri chega a sugerir que, ao contrário do que se imagina, filhos de pais que vivem juntos, mesmo em conflito constante, alcançam um equilíbrio melhor que os filhos de pais separados e criados em "plena liberdade".