Apanhadão da semana: Felipe Neto, Cora Rónai e o racismo de 'Moby Dick'
PublishNews, Redação, 05/08/2022
Questionamento do influencer no Twitter sobre a obra de Herman Melville gera polêmica que chega à coluna de Cora Rónai no Globo. Estadão entrevista Zélia Duncan, que se lança como autora em 'Benditas coisas que eu não sei'

Felipe Neto | © Divulgação
Felipe Neto | © Divulgação
A semana foi atravessada por uma polêmica que nasceu nas redes sociais e transbordou para a imprensa escrita. O influencer Felipe Neto publicou no Twitter um questionamento sobre Moby Dick, a obra de Herman Melville (1819-1891). O post, na íntegra: “Queria perguntar uma coisa pra quem entende verdadeiramente de literatura. Vi parágrafos profundamente racistas em Moby Dick, continuei a leitura do livro de nariz torcido, estou realmente incomodado. O livro é de 1851, o que é recomendado em casos assim? Como vcs avaliam?”. A repercussão foi intensa. Uma busca pelo assunto nas redes abre uma lista enorme de opiniões contra e a favor da tese de racismo no livro, declarações de apoio ao questionamento de Felipe Neto ao lado de ataques a ele por supostamente criticar uma obra-prima da literatura.

O “ápice” da polêmica foi a publicação de Cora Rónai em sua coluna no Globo. “Não é a pergunta de uma criança inocente e angustiada; é a pergunta de um adulto astucioso feita para lacrar. Tem 34 anos. Alcançou fama e fortuna com provocações”, escreve Rónai. Ela defende que Moby Dick não é racista e prossegue: “A melhor forma de conseguir engajamento nas redes sociais é perguntando às pessoas o que acham, já que todos temos opinião sobre tudo e estamos sempre ansiosos em compartilhá-la”. A coluna provocou uma reação extensa de Felipe Neto no Twitter, afirmando estar “de saco cheio de alguns jornalistas cheios de mágoa”. Parece que o assunto ainda não se esgotou.

No Globo, uma das entrevistadas da semana foi a americana R.J. Palacio, adorada por jovens leitores. Depois do sucesso de Extraordinário, ela lança agora Uma jornada sem fim (Intrínseca), na qual mergulha nos EUA dos anos 1860. O livro é uma espécie de faroeste espírita, assombrado por fotografias de época garimpadas pela própria escritora que ilustram cada capítulo. Antes da glória literária, Palacio foi responsável pelo design das capas de autores como Paul Auster e Thomas Pynchon. A experiência lhe ensinou muito sobre o trabalho de escritora, já que ela interagia com autores e editores o tempo todo. “Trabalhando em manuscritos de outras pessoas, aprendi a ser um pouco mais implacável com minha própria escrita”, diz a autora.

O Estadão trouxe entrevista com a cantora Zélia Duncan, que se lança no mercado literário com Benditas coisas que eu não sei (Agir), livro de ensaios no qual entrelaça lembranças e opiniões sobre sua paixão primária: a música. "Hoje, mais madura, eu sinceramente desejo ficar feliz com o que faço, antes de mais nada”, afirma. “Cantar me faz gostar de falar, falar me faz gostar de escrever, vou inventando meus fluxos.”

Na coluna Um livro por semana, no Estadão, Maria Fernanda Rodrigues falou de Aprender a falar com as plantas (Dublinense), da catalã Marta Orriols. A protagonista, Paula, é uma mulher de 42 anos que perde o marido duas vezes no mesmo dia. Explicando: na mesa do almoço, Mauro, um editor de livros apaixonado por plantas, conta a ela que tem outra mulher e vai sair de casa. Ainda no mesmo dia, ela recebe a notícia que Mauro está morto. O livro mostra Paula lidando com um complexo processo de luto por alguém que, de qualquer modo, não faria parte de seu futuro.

A Folha publicou resenha de Não me pergunte jamais, da italiana Natalia Ginzburg (1916-1991), lançado pela Âyiné. O volume traz uma seleção das colaborações da escritora para o jornal La Stampa, entre dezembro de 1968 e outubro de 1970, um conto que saiu no Il Giorno em 1965, além de mais quatro inéditos até a organização da obra, em 1970. Quando o livro foi reeditado em 1989, dois anos antes de sua morte, Ginzburg acrescentou ainda um outro conto, que havia saído no Corriere della Sera em 1976.

Colaborador da Folha desde os anos 1980, atualmente colunista no caderno Cotidiano, o advogado Luiz Francisco Carvalho Filho lança Newton, seu novo livro de ficção. Ele criou um personagem com tons de Kaka, que é um escritor bem-sucedido que não tem sobrenome, não tem RG nem CPF , sem registros de sua idade e sua filiação nem sequer da cidade de nascimento. Newton vaga por São Paulo convivendo com o apagamento de sua memória em confronto com a burocracia da sociedade. Mostra o personagem enfrentando tribunais e delegacias na São Paulo atual. Carvalho Filho dirigiu a Biblioteca Mário de Andrade de 2005 a 2008 e, no ano passado, ao lado de Fernanda Diamant e Rita Mattar, fundou a Fósforo, editora pela qual o livro é lançado.

Tags: Apanhadão
[05/08/2022 09:00:00]