Proibição de livros ganha debate no New York Times
PublishNews, Thales de Menezes, 1º/08/2022
Jornalistas comentam o crescimento de tentativas de banimento de obras, protagonizadas por políticos, e relatam as fortes pressões sofridas pelos bibliotecários, vindas de fora ou mesmo de dentro das bibliotecas

The Morning newsletter | © The New York Times
The Morning newsletter | © The New York Times
Na área digital do New York Times dedicada a debates matinais, “The Morning”, divulgada por newsletter, a britânica Claire Moses conversou neste domingo (31) com suas colegas americanas Alexandra Alter e Elizabeth Harris, que cobrem o mercado editorial para o jornal. O resultado é um panorama preocupante sobre o movimento crescente de proibição de livros nos EUA.

As tentativas de proibição cresceram nos últimos anos, de batalhas relativamente isoladas, como questões escolares ou comunitárias, a uma ofensiva mais ampla voltada para trabalhos sobre identidade sexual e racial. Segundo Alexandra, antes os pais podiam ouvir falar de um livro porque seu filho trazia uma cópia para casa; agora, reclamações nas redes sociais sobre material impróprio se tornam virais, e isso leva a mais reclamações em escolas e bibliotecas em todo o país.

Os políticos assumiram protagonismo nessa questão. Um representante republicano no Texas elaborou uma lista de 850 livros que ele argumenta serem materiais impróprios nas escolas, incluindo livros sobre sexualidade, racismo e história americana. Na Virgínia, o governador Glenn Youngkin fez campanha sobre o assunto argumentando que os pais, e não as escolas, devem controlar o que seus filhos leem.

As jornalistas comentam que, às vezes, as disputas se transformam em algo mais ameaçador. Os Proud Boys, grupo de extrema-direita com um histórico de manifestações violentas de rua na Costa Oeste americana, apareceu para protesto agressivo em uma hora de contação de história para famílias em uma biblioteca em San Lorenzo, na Califórnia.

Em Virginia Beach, um político local processou a rede Barnes & Noble por dois livros, Gender queer, um livro de memórias de Maia Kobabe, e A court of mist and fury, um romance de fantasia. Ele exige que a Barnes & Noble pare de vender esses títulos para menores. Elizabeth acredita que o processo provavelmente não terá sucesso, mas é uma escalada. “A questão passou de pessoas pensando que seus filhos não devem ler certos livros para tentar impedir que os filhos de outras pessoas leiam esses livros.”

Além de livreiros e editoras, um grupo está sob pressão neste cenários: os bibliotecários. “Quando as pessoas estão tentando empurrar um livro para fora da biblioteca, elas estão tomando uma decisão para todos, para que ninguém tenha acesso a um determinado livro. Mas os bibliotecários são treinados para apresentar uma variedade de pontos de vista. Para eles, é uma questão de ética profissional garantir que o ponto de vista de uma pessoa ou de um grupo não esteja ditando o que todo mundo lê”, opina Elizabeth.

Alexandra cita casos de ameaças a bibliotecários, vindas de fora ou de dentro das próprias bibliotecas. “Os bibliotecários dizem que entraram nesse campo por causa do amor por ler e conversar com as pessoas sobre livros. Alguns deixaram seus empregos; alguns foram demitidos por se recusarem a remover livros. Outros, com mais de 20 anos de carreira, desistiram depois de serem alvo de uma enxurrada de insultos nas mídias sociais.”

[01/08/2022 09:00:00]