Setor editorial brasileiro apresenta queda real de 4% em 2021, aponta pesquisa
PublishNews, Talita Facchini, 17/05/2022
Em termos reais, queda do faturamento foi de 4%, com o subsetor de didáticos apresentando queda significativa. Já o Conteúdo Digital continua representando 6% do mercado editorial brasileiro.

Os resultados das pesquisas Produção e Vendas (PeV) e Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro foram divulgados na manhã desta terça (17). Coordenadas pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), e realizadas pela Nielsen BookData, as pesquisas apresentam os principais dados da indústria editorial do ano anterior e oferecem um panorama confiável de como anda o setor.

Nesta edição, 146 editoras - pequenas, médias e grandes - responderam ao questionário. Segundo a Nielsen, em termos de faturamento, a mostra equivale a 60% das editoras do país. Vale ressaltar que a pesquisa é um retrato da indústria, ou seja, das editoras, e não do varejo, e que analisa sempre os dados do ano anterior.

Em 2021, tanto a PeV quando a Conteúdo Digital mostram que o setor apresentou um movimento tímido de expansão, se comparado aos dados de 2020.

A pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro aponta que o faturamento das editoras com a venda de livros para todo o mercado registrou um crescimento nominal de 6% e, em termos reais, queda de 4%, considerando a variação do IPCA de 2021. Já o levantamento Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro revela um acréscimo nominal de 23% e em termos reais, 12%, no faturamento com conteúdo digital. Mesmo assim, continua representando 6% do setor editorial.

"O que a pesquisa Produção e Vendas mostra neste ano é que há um comportamento muito distinto no mercado para as editoras que produzem e vendem livros chamados 'de leitura por vontade própria' ou 'leitura obrigatória'. Existe um comportamento diferente entre as editoras de Obras Gerais e Religiosos e Didáticos e CTP", analisa Mariana Bueno, economista da Nielsen responsável pelo estudo. "Ainda que considere o resultado de CTP positivo – e eu acho que ele é –, ele claramente está aquém do apresentado por Religiosos e Obras Gerais”, conclui.

Produção e vendas

Em 2021 o setor produziu 391 milhões de exemplares – sendo 84% reimpressões – de 48 mil títulos.

Olhando para as vendas, o setor vendeu 409 milhões de exemplares – a maior parte (218 milhões) para o governo – e faturou R$ 5,8 bilhões. Comparando com o ano anterior, o crescimento foi de 15,4% em volume e de 12,9% em valor (não considerando aqui a inflação no período).

Puxando uma breve linha do tempo, a pesquisa de 2020 mostrou que, em 2019, o faturamento das editoras cresceu 10,7% em relação a 2018. No ano seguinte, já sob os efeitos do início da pandemia, a história foi outra: o faturamento das editoras brasileiras apresentou queda real de 10% em relação a 2019; o canal “Livrarias Exclusivamente Virtuais” apresentou crescimento de 84%; o subsetor Obras Gerais cresceu; e o de Didáticos caiu.

Subsetores

A pesquisa traz também os dados de quatro grandes subsetores: Obras Gerais, Didáticos, Religiosos e CTP (Científicos, Técnicos e Profissionais) e três deles apresentaram crescimento.

Obras Gerais segue a linha crescente vista nos últimos dois anos do estudo e mais uma vez merece destaque. Em 2021, o acréscimo foi de 14%, ou seja, acima da variação da inflação e do Produto Interno Bruto (PIB). Descontada a inflação, o aumento foi de 3%. Nos canais de distribuição, vale destacar nesse subsetor a força das Livrarias, Livrarias Exclusivamente Virtuais e Clubes do Livro. "Ainda que seja bem menor, a participação dos clubes deve ser acompanhada nos próximos anos", destaca Mari.

O subsetor de Religiosos voltou aos níveis pré-pandemia, com expansão de 14% (nominal) e 3% (real). Nesse subsetor, o destaque vai para o porta a porta. "Esse canal perdeu muito espaço nos últimos anos e vem tentando se recuperar, mas ainda não deu certo. Fiquemos atentos para ver o que acontece com esse canal", alertou Bueno.

Já o subsetor de CTP apresentou expansão nominal importante, de 7%, embora ainda com recuo de 3%, em termos reais (descontada a inflação do período). O resultado é considerado positivo, já que o CTP foi o setor que mais sofreu com a crise econômica. Nos canais de venda, destaque para força das Livrarias Exclusivamente Virtuais, sites próprios e marketplaces.

O subsetor de Didáticos, incluindo apenas as vendas ao mercado, é o único que apresenta queda significativa, de 14% em termos reais, e 5% (nominal), refletindo a retração das vendas em ano de pandemia. Outro ponto que explica o resultado é a migração de alunos da rede privada para a pública, em decorrência da crise econômica. "Ainda que tenha uma variação positiva do preço do livro, isso não foi suficiente pra garantir o resultado, muito decorrente da pandemia. O ano de 2021 foi determinante para conseguimos saber o impacto da pandemia pra esse setor", frisou Mari.

Livrarias

Com inúmeros esforços para se manterem abertas durante a pandemia, muitas livrarias buscaram alternativas para enfrentar o momento, tendo que se adaptar às vendas virtuais e usando a criatividade para tornar seus negócios atrativos. Hoje, o que vemos é um movimento interessante de abertura de lojas de rua. Em relação à Pesquisa Produção e Vendas, livrarias e as livrarias exclusivamente virtuais contribuíram com fatias similares no faturamento das editoras, com participação de 29,95% e 29,86%, respectivamente, e se mostraram importantes em todos os subsetores.

Conteúdo Digital

A Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro também é um retrato da indústria e não do varejo, sendo a única sobre o tema no país.

A pesquisa – que analisa três categorias: ficção, não ficção e CTP – registrou crescimento nas vendas de e-books, audiolivros e outras plataformas de conteúdo digital em 2021. O faturamento total teve um acréscimo nominal de 23% e em termos reais, 12%. O faturamento foi de R$ 180 milhões no ano passado, contra R$ 147 milhões em 2020. Mesmo com esse crescimento, o conteúdo digital continua representando 6% do mercado editorial brasileiro.

Do faturamento total com conteúdo digital em 2021, R$ 125 milhões foram de vendas de e-books individuais e R$ 56 milhões foram por meio de outras plataformas de distribuição, como biblioteca virtual e serviços de assinatura de leitura digital.

As vendas à la carte (da unidade inteira) representam 69% do faturamento das editoras. O preço médio do e-book apresentou alta de 12%; em termos reais, esse crescimento é de 1,4%.

Nessa pesquisa, vale destaque a importância de não ficção para o audiolivro, que ainda representa uma parcela pequena comparada com os e-books.

A pesquisa completa você confere clicando aqui.

[17/05/2022 11:00:00]