CEOs das top15 editoras do Ranking Anual do PN fazem suas previsões para 2022
PublishNews, Leonardo Neto e Talita Facchini, 13/01/2022
Além de dar seus pitacos, diretores das maiores editoras brasileiras falam sobre tendências que poderão ganhar força em 2022

CEOs das top15 editoras do Ranking Anual do PN fazem suas previsões para 2022 | © Taylor / Unsplash
CEOs das top15 editoras do Ranking Anual do PN fazem suas previsões para 2022 | © Taylor / Unsplash
O PublishNews convidou os CEOs e representantes das 15 primeiras editoras a configurarem no Ranking Anual de 2021 para dar seus pitacos de o que o setor poderá esperar do ano que está começando. A redação fez duas perguntas para eles. Com a primeira, quisemos saber quais as previsões para 2022 e na segunda, do ponto de vista editorial, se eles enxergam alguma tendência que poderá ganhar força neste ano.

Rosely Boschini – Editora Gente

Aprendemos muito nesses últimos dois anos no quesito Humanidade. Podemos ficar em casa e ainda assim estarmos mais conectados do que nunca. Invertemos a escala de valores em relação a nossa atenção, pois valorizamos muito mais o humano. Saber quem você é, assumir 100% do seu jeito de ser, entender seus talentos e suas expectativas, suas experiências e principalmente suas escolhas. As escolhas serão mais importantes que as oportunidades. Serão privilegiados aspectos como a troca, a generosidade e a pluralidade. Tudo isso em nome da valorização da Humanidade. Afinal, pode-se ter acesso a toda a tecnologia disponível, mas é a Humanidade quem pode colocá-la a favor de todos, e não apenas de alguns.

Acredito que as empresas têm alma e que se souberem conjugar ética com verdade certamente vão criar e oferecer livros que têm valor para os seus leitores. Hoje temos um leitor cada vez mais consciente e exigente e precisamos sempre surpreendê-lo com conteúdo importante para sua formação, reflexão e desenvolvimento. Dinheiro pode ser escasso, mas a moeda mais valiosa ainda é tempo. Então, as empresas que oferecerem produtos ou serviços que possam ajudar os leitores a poupar tempo serão aquelas que estarão à frente. E uma parte muito importante disso são os colaboradores, que fazem a vida acontecer personificando os valores da empresa por meio do seu conhecimento e da sua dedicação aos produtos ou serviços que oferecem.

Luiz Schwarcz – Grupo Companhia das Letras

Prevejo um bom ano para o mercado, mas com o desafio do final do ano quando teremos eleições e Copa do Mundo no mesmo mês, justamente em novembro, um mês forte para o comércio livreiro, de preparação para o Natal.

Creio que o mercado continuará rico, com várias tendências. Não consigo apontar uma só. Acredito, no entanto, que uma área que estava mais fraca por anos, de ficção literária internacional, e que começou a crescer em 2021, terá sequência no ano que começa.

Sextante

Até o fechamento da edição, não tinha enviado as respostas

J.A. Ruggeri – Alta Books

Embora devêssemos evitar previsões, especialmente sobre o futuro, podemos traçar algumas constatações de ordem macro e micro:

1) Fusões e aquisições devem manter o ritmo acelerado. Editar é, cada vez mais, um processo tecnológico que exige investimentos vultosos. Poucos hoje têm fôlego humano e financeiro para prototipagem e experimentação, já que gerir conhecimento não é mais um processo linear;

2) No geral, deve ser um bom ano para as editoras, movimento já constatado nos relatórios dos últimos meses de 2021. Mas isso não quer dizer que os desafios tenham se reduzido, em especial pelo ambiente econômico desafiador, pressão inflacionária, desemprego alto e rupturas nas cadeias de suprimentos. São fenômenos globais, mas que trarão impactos nas vendas e na dinâmica comercial do mercado editorial;

3) As livrarias menores ou de bairro seguem brilhando. Ao atuarem em nichos, oferecem atendimento personalizado e profissional. Há uma geração nova de livreiros muito ligada à tecnologia e embebida em entusiasmo que se apega a detalhes e fideliza clientes. No fundo, entendem que as conexões emocionais serão sempre necessárias;

4) A descentralização dos canais de vendas se fortalece como estratégia: marketplaces e e-commerce seguirão mantendo o crescimento e equilibrando o ecossistema de vendas;

5) Audiolivros também seguem avançando, em especial pelo papel de inclusão social que representam, já que são soluções para pessoas com limitações cognitivas ou visuais;

6) Livros de ficção mantêm ganhos de escala e participação (share). Nos últimos anos houve um certo estado de torpor no segmento, mas a pandemia estimulou as pessoas a viverem em mais de um mundo, para usar uma expressão de Peter Drucker, movimento trazido pela realidade dura da pandemia;

7) O papel das redes sociais se intensifica tanto para autores/clientes, que seguirão se apropriando de uma relação mais intimista, quanto para editoras, que devem seguir aglutinando, engajando e fidelizando leitores. Clientes engajados hoje são mais propensos a consumir conteúdo no futuro.

As oportunidades pouco exploradas do ambiente virtual devem crescer. Cito duas: as realidades paralelas, escancaradas pelo Metaverso, e os certificados digitais de exclusividade e originalidade chamados NFTs. Divido a escala de maturidade tecnológica do mercado editorial em três estágios:

1º) digitalização e suporte multiplataforma;

2º) potencialização de negócios e produtos via BI, analytics, data Science, data analytics e AI;

3º) compreensão profunda do mundo paralelo com interação social via avatares e a tokenização de ativos cognitivos. Os estágios 1 e 2 estão minimamente superados ou em andamento, mas o 3, onde estamos agora, é mais complexo: quem vai abrir a primeira livraria no Metaverso? Como se divide o eixo gravitacional de poder entre editoras, autores e clientes em um mundo desregulamentado, mas que aproxima a todos como nunca visto? Como podemos explorar o papel da inteligência artificial de um mundo paralelo para criar mais valor ao mercado, ao produto e aos clientes? Onde se dá a intersecção entre direitos autorais e NFTs? Como o conteúdo pode ser extrapolado via NFTs? Com exclusividade, temos escassez e, portanto, impacto nos preços e maximização dos resultados. É uma questão de tempo até que a economia criativa e os setores culturais despontem nessas órbitas. Essas são apenas algumas questões que começam a surgir e que provocam editoras a se reinventarem.

Sonia Jardim – Grupo Editorial Record

Acredito que o ano de 2022 será um ano ainda de crescimento nas vendas de livros. A gente vem numa onda crescente em que os consumidores buscaram alternativas de lazer e encontraram isso nos livros. Então, eu acho que houve um ingresso de uma nova leva de leitores que descobriram o prazer da leitura e eu acho que isso continuará em 2022.

Esse crescimento é muito calcado no segmento dos jovens adultos. Essa geração que descobriu o livro na pandemia circula até mais pelo TikTok do que pelas outras redes sociais. Então, do ponto de vista editorial, vejo crescimento da participação de livros que possam ter uma trama em que o leitor se identifica, que permita que ele faça as suas participações nas redes, interagindo com a história. Esses booktokers e influencers vão impactar muito a venda de determinados livros.

Marcial Conte Jr. – Citadel

Acredito que temos margem para crescimento e espero um ano cheio de oportunidades. A pandemia de covid-19 ainda é um ponto preocupante e deve ser um fator determinante para as vendas de lojas físicas. Por outro lado, a venda online se estabeleceu e todos os formatos de livro se beneficiaram com isso. Nós da Citadel acreditamos em todas as formas de publicação, comercialização e distribuição de conteúdo, por isso temos grandes projetos para 2022 e acreditamos que será um ano de crescimento ímpar.

Livros infantojuvenis e de ficção serão as tendências em 2022. O movimento dos tik tokers mostrou a sua força em 2021 e acredito no crescimento deste seguimento. Na minha opinião, esta é a área com maior potencial atualmente.

Barbara Robles Panini

A previsão é de crescimento e uma retomada mais expressiva do setor que sofreu impactos da pandemia. Com a mudança de hábitos de compras do consumidor por conta da pandemia, esse é o momento de investirmos nos e-commerces, tornando-os uma plataforma mais efetiva na conversão de vendas e como meio para maior fidelização de leitores. É um canal que deve ter um crescimento muito expressivo nos próximos anos. Somado a isso, a concorrência pelo público leitor faz com que o mercado esteja sempre procurando por inovações nos produtos. Como é o caso do que fazemos aqui na Panini ao construir parcerias com grandes marcas de outras mídias e/ou pilares do entretenimento para juntos desenvolver um produto novo, com capacidade de proporcionar entretenimento, conhecimento e diversão.

Sobre tendências para esse mercado: A junção de duas marcas para trazer algo novo ao seu consumidor é um bom ponto de partida. O sucesso de produtos criados em conjunto, como no caso do Batman Fortnite, lançado em 2021 e oferece uma parceria das HQs junto com o jogo, mostra que isso é uma tendência de mercado, onde podemos agregar valor e entretenimento aos mais diversos públicos. Outra tendência que deve crescer no segmento editorial é a de produtos para colecionadores adultos. No caso da Panini, apostamos, principalmente, nas publicações de graphic novels da Disney e no lançamento da Biblioteca Maurício de Sousa, que vai começar pelas obras da MSP de 1970 da Mônica. E, por fim, com a popularização dos animes nas plataformas de streamings, consequentemente, o interesse do público brasileiro por mangás deve crescer bastante. Para esse público apostamos nas publicações One Piece 3 em 1, Bleach Remix, entre outros títulos. São estratégias que devem ser adotadas em um futuro pós-pandemia, criando um conjunto de ações que certamente devem trazer um gás ao setor.

Jorge Oakim – Intrínseca

Acredito que, com a reabertura das livrarias físicas, e por causa do interesse das pessoas por livros, será um ano muito bom.

Acho que temos uma tendência de livros-reportagens feitos por grandes jornalistas brasileiros, como Arrastados, de Daniela Arbex.

Cassiano Elek Machado – Planeta

O espírito do tempo tem apontado já há alguns anos, e este movimento só acentuou-se ao largo da longa pandemia, para uma tendência de consumo conservadora. O mercado tem se renovado pouco: os livros novos custam a acontecer. Exemplo disso é a constatação de que apenas um, dos 20 livros mais vendidos de 2021, foi lançado em 2021. O mercado vem se alimentando do que já conhece. E dificilmente esta tendência irá se reverter neste ano.

De outra parte, passada (esperemos) a pior parte do ciclone pandêmico o setor editorial está mais sólido do que no último par de anos. E, assim, deve haver espaço para empreitadas novas: livrarias, editoras, selos, plataformas digitais.

O maior fenômeno mercadológico do ano recém-dobrado foi a consolidação do TikTok como canal prescritor de ficção para públicos jovens. Pode parecer algo específico, mas os livros que se movimentaram bem nesta rede cresceram numa proporção poucas vezes vista, e de uma maneira muito peculiar: livros de cinco, seis, quatro, sete anos atrás subitamente foram alçados ao topo, e não pelas mãos de um ou dois ou três influencers, como no auge dos booktubers, mas em movimentos coletivos. Esta explosão conduziu boa parte das linhas mais comerciais de ficção das grandes editoras, que tentaram e seguirão tentando pegar carona, embora exista quase um consenso de que as ondas do TikTok não são facilmente domáveis. Fora da ficção mais comercial, deve crescer o livro de política, mesmo num país de tão pobre discussão política e com tão poucas publicações neste tema, em comparação com outros mercados.

Marcel Cleante – Ciranda Cultural

As previsões são otimistas: o setor vem em evolução, como provam os números em 2021. Com a retomada das livrarias, retorno dos eventos, crescimento do e-commerce e um maior espaço para os livros em outros segmentos do comércio, a nossa expectativa é de crescimento, tanto na distribuição por quantidade de livros, quanto no faturamento.

Claro, há desafios do ponto de vista social, econômico e de saúde pública que podem impactar. No entanto, o nosso planejamento é ampliar a nossa linha editorial e continuar diversificando os formatos e conteúdos; aumentar a nossa distribuição, e fazer com que os livros cheguem a mais pessoas, transformando vidas através de histórias.

Acredito que boa parte dessa resposta é apresentada na lista de mais vendidos do PublishNews: só observar os títulos que ficaram nas primeiras colocações e os temas abordados, como diversidade, racismo, feminismo, organização financeira, autoconhecimento e autoajuda. Há também os livros que inspiram séries, filmes e vice-versa. Ainda vejo essas temáticas bem fortes para 2022.

Leonora Monerat – HarperCollins

Todo ano traz oportunidades e desafios. O aumento constante das matérias primas e consequente ajuste de preços é o que chama atenção no início desse ano. Estamos vivendo um momento de recessão e as pessoas talvez tenham que escolher se compram itens básicos ao invés de livros, o que é grave para a nossa indústria e sociedade. Esse fantasma da inflação é o que nos deixa mais preocupados no ano de 2022. Por outro lado, houve um aumento do número de leitores no Brasil durante a pandemia e as pessoas se acostumaram a comprar online. Além disso, há uma retomada animadora das livrarias físicas com a abertura de novas lojas, mas ainda assim será um ano de crescimento moderado.

Representatividade e diversidade são os mais temas procurados e exigidos pelo leitor. As pessoas querem viver mais e num mundo melhor e estão procurando informação para isso, por esse motivo livros sobre saúde mental e sobre como viver bem estão em alta. As pessoas também querem olhar para o futuro de uma forma mais segura, por isso os livros de negócios, dinheiro e economia vão continuar crescendo, assim como livros de religião e sobre propósito de vida. O crescimento da fantasia como uma forma de você se transportar para outros mundos e viver novas realidades também é forte. O público jovem cresceu muito esse ano e deve manter esse crescimento no ano que vem.

Paulo Rocco – Rocco

Fazer previsão nesse momento é jogar com um sentimento, como editor sempre fui otimista, portanto vou ser coerente, vamos ter um bom ano para o mercado editorial.

Não vejo mudanças significativas de tendências para o mercado editorial, além do crescimento da ficção e dos livros infantojuvenis.

Globo Livros

Até o fechamento da edição, não tinha enviado as respostas

Anderson Cavalcante – Buzz

2022 ainda será um ano de grandes desafios. Não basta aguardar o leitor vir comprar o livro, vamos precisar criar pontos de encontro abrindo novas frentes de vendas.

As pessoas andam sem esperança, livros que tragam de volta esperança possuem grande potencial de venda. Além de livros escritos por mulheres que possuem uma visão mais conectada com esse novo normal.

Ediouro

Até o fechamento da edição, não tinha enviado as respostas

Mauricio Sita – Literare Books International

Em que pese todas as apreensões sobre novas variantes do vírus da Covid, gripes etc. vejo 2022 como um ano em que o humor da humanidade irá melhorar e isso nos inclui. Sentimos que temos mais controle sobre os efeitos e “defeitos” da pandemia. Temos de considerar que teremos eleições em vários níveis e que normalmente a economia deslancha nestes períodos.

O varejo de livros no Brasil está se rearranjando. Os melhores pontos de venda das redes que estão em recuperação judicial foram ocupados por novos players e isso garante a horizontalização das vendas físicas. As lojas digitais, tão beneficiadas durante a pandemia, continuarão crescendo.

A Literare Books International cresceu mais de 50% nos últimos dois anos. Isso incluiu as nossas vendas no mercado externo. Fortalecemos nossas vendas no Japão e temos planos bem agressivos para crescer ainda mais naquele e em outros mercados em 2022.

O atual calendário e programa de publicações já garante que vamos crescer em mais de dois dígitos. Começamos o ano emplacando quatro títulos na lista dos mais vendidos. Repito que o ano eleitoral e o controle mais eficaz sobre as pandemias são variáveis determinantes para melhorar o ambiente de negócios e embasar nossas boas expectativas.

[13/01/2022 10:30:00]