Foi numa conversa com um autor, quando trabalhava longamente no seu livro de crônicas de viagem, feito luz de farol no “mar das ideias”, que me ocorreu: um título é espécie de farol, pois mostra ao leitor mais do que o autor pensa estar mostrando, e ao leitor o que ele mesmo pensa estar lendo. Talvez soe clichê, não sei, porém puxou uma curiosa linha neste labirinto de pensamentos sobre o mundo editorial.
Sistemas como os da Amazon, Bibliomundi, Hotmart e outros tantos, que se somam às várias editoras a oferecer serviços de autopublicação, e ao fato de muitos considerarem o formato PDF como livro (algo bem discutível), estão provocando espécie de onda tsunâmica (palavra da moda e boa de escrever), a devastar e não menos confundir, o mundo da leitura e do conhecimento.
Pois para todos esses parece muito fazer falta um editor, e como. Faz falta aprender a ajudar o inadvertido autor que sobe, imediatamente, um e-book à venda e ao público, ou se utiliza da impressão por demanda, sem ter qualquer mediação de um editor ou de um terceiro, pouco mais conhecedor dos meandros editoriais. E como prova, basta um olhar nas capas e títulos autopublicados, quanta coisa boa desperdiçada.
Pode-se alegar que o autor se esmerou, revisou inúmeras vezes, e o que temos autopublicado é ainda a matéria primeira, como bem observa a crítica genética literária (recomendo estudos no assunto, é bárbaro) sobre os manuscritos de autores reconhecidos. Mas retrabalho por retrabalho, não basta. Retrabalho com criatividade e substancialmente em direção ao leitor é indispensável e exclusivo do mundo do livro. Aliás, Charles Kiefer, grande professor e muito bom escritor, certa vez nos repassou um mantra: devemos escrever e publicar o melhor possível para que a lei da gravidade não vença, ou seja, um texto ou livro mal escrito e mal editado, sim derruba o livro da mão do leitor.
E impressiona a quantidade de boas ideias atiradas ao lixo até em órgãos da imprensa comercial e da oficial, que, em tese, deveria ter revisores e copidesques ativos. Certo, a precarização do trabalho jornalístico e a pressa do digital vem gerando esse tipo de coisa. Mas, raios, porque não aprendemos ainda nas escolas primárias a importância de um editor e um copidesque, de um revisor crítico? Porque, novamente, raios, achamos que muitos dos grandes títulos de livros de literatura foram criados somente pelo autor do livro? E quem disse que o escritor de qualquer assunto saiu a escrever e publicar sem cometer absurdos contra a língua, e muito depois foi endireitar com a ajuda de editores e outros autores?
Perdoe, fui longe. Não era a intenção. O objetivo era nada mais do que falar do título como farol da leitura e da opinião de um editor sobre um texto, para quem anda às voltas com seus livros em criação. Um título precisa iluminar ou até guiar o leitor mais desatento, e, com frequência, esse título é melhor dado por uma leitura externa. Logo, se mesmo excelentes criadores nem sempre, ou raramente, acertam em seus melhores títulos, porque insistimos acreditar pia e exclusivamente em nós mesmos?
Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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