Com a venda de livros suspensa, Editora da Imprensa Oficial de SP faz pausa pra repensar seu futuro
PublishNews, Leonardo Neto, 24/09/2021
Depois de incorporada pela empresa de processamentos de dados de SP, Imesp se desfaz de seu parque gráfico e promete uma editora ‘inserida no universo digital’

Em agosto, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp) foi oficialmente incorporada pela Prodesp, estatal de processamento de dados do governo paulista.

A justificativa para a incorporação é que, de acordo com estimativas do governo, a Imesp passaria a operar no vermelho a partir de 2022 por conta da Lei Federal 13.818/2019, que desobriga a publicação de balanços no Diário Oficial, a maior fonte de receita da empresa.

E isso agora impacta o braço editorial da Imesp, que, nas palavras da própria empresa passa por “reformulação editorial e de formato”. A proposta é que a editora seja “inserida no universo digital”, sem detalhar o que isso realmente possa significar. A estatal nega que seja o fim da editora e sim um processo de modernização e que, em breve anunciará o plano para seu futuro.

Já há relatos de demissões nos quadros que faziam parte da editora e o site da Livraria da Imprensa Oficial informa que não faz mais venda de livros.

Ao PublishNews, representante da Prodesp informou que a suspensão da loja é apenas uma questão contábil relacionada ao processo de incorporação e que será, em breve, reestabelecida.

Mesmo atuando como editora desde a sua fundação, em 1891, foi só em 2003 que se adequou o seu objeto social que previa a atuação como gráfica e passou a ser legalmente uma editora. A mudança foi feita na gestão de Hubert Alquéres, que presidiu a empresa até 2011. Nesse período, a editora da Imesp viveu seus tempos áureos: lançou cerca de 600 livros, ganhou mais de duas dezenas de Jabutis (incluindo Resmungos, de Ferreira Gullar, Livro do ano de 2007) e criou coleções como Aplauso, Paulista, Uspiana e Gilberto Freyre.

Em 2019, sob o comando de Nourival Pantano Jr., a Imesp prometeu retomar a produção de livros. A inauguração dessa nova fase foi com o primeiro tomo da série Escritor por escritor – Machado de Assis por seus pares (408 pp, R$ 80), que mostra faces do Bruxo do Cosme Velho reveladas por outros escritores como Rui Barbosa, Mário de Andrade, Lima Barreto, Monteiro Lobato, Euclides da Cunha e Olavo Bilac.

Na época, Cecília Scharlach, que segue como a responsável pelos projetos editoriais da casa, disse ao PN que a ideia era “voltar com a essência da Editora da Imprensa Oficial”. Nourival completou: “Queremos levar ao público o melhor da literatura paulista, livros que alcancem nichos específicos e mais difíceis de se alcançar. É uma obrigação do poder público garantir isso”. Durou pouco.

Além disso, a Imprensa Oficial construiu um parque gráfico de respeito, tornando-se referência na impressão de livros, mesmo atendendo exclusivamente o poder público (municipal, estadual e federal) e instituições de interesse público, como fundações e organizações não-governamentais (ONGs). A mudança na vocação da gráfica se deu por conta da extinção, em julho de 2007, da versão impressa do Diário Oficial. Isso também poderá ser desmanchado. A Prodesp estuda leiloar seus equipamentos usados na confecção de livros. Em junho, o UOL noticiou uma demissão em massa que afetou, segundo o portal, 154 funcionários.

Confira a íntegra da nota enviada à redação do PN:

Com a incorporação entre a Prodesp e a Imprensa Oficial, prevista na Lei Estadual 17.056 e oficializada em agosto de 2021, a Editora passa por reformulação editorial e de formato. Por meio da expertise da Prodesp em tecnologia, a Editora será inserida no universo digital. A venda de maquinário utilizado para impressão de livros físicos está em estudo e, se houver, o processo será transparente para a população e contará com publicação no Diário Oficial.

A incorporação inédita entre duas empresas públicas do Governo de São Paulo teve como objetivo a melhoria dos serviços prestados e a otimização de recursos públicos. Sem isso, a Imprensa Oficial enfrentaria prejuízo a partir de 2022, principalmente após Lei federal 13.818/2019, que desobriga a publicação de balanços no Diário Oficial, a maior fonte de receita da empresa.

** Nota atualizada em 24/09/2021, às 13h40, com mudança no título a inclusão de informações adicionais trazidas pela Prodesp depois da publicação da matéria.

[24/09/2021 09:00:00]