O trabalho de apresentar a nova literatura brasileira ao mundo ganha o Prêmio Jovens Talentos
PublishNews, Leonardo Neto e Talita Facchini, 24/08/2021
Anna Luiza Cardoso é a primeira agente literária a ganhar o prêmio. A profissional acompanhará a Feira do Livro de Frankfurt em 2022.

Essa história começa com um e-mail, entre outros tantos na caixa de entrada de uma agência literária. No remetente, um nome desconhecido: Martha Batalha. O conteúdo? Uma joia. Do outro lado da tela, Anna Luiza Cardoso, uma jovem profissional que mais tarde se tornaria sócia de uma das principais agências literárias do país – a Villas-Boas & Moss – e hoje é anunciada como a vencedora do Prêmio Jovens Talentos 2020/2021.

O manuscrito que chamou a atenção era o de A vida secreta de Eurídice Gusmão, hoje já publicado em 20 territórios, além do Brasil, onde saiu pela Companhia das Letras. O livro também virou filme de muito sucesso pelas mãos de Karim Aïnouz, indicado pelo Brasil para concorrer ao Oscar 2020 e finalista do Frankfurter Buchmesse Film Awards 2019.

Para o júri – composto por Carolina Rocha, vencedora da edição de 2019; Lu Magalhães, sócia do PublishNews, e Marifé Boix-García, vice-presidente da Feira do Livro de Frankfurt – o trabalho de fazer a literatura brasileira viajar, apesar de todas as dificuldades, contou pontos na hora de escolher Anna Luiza. “Acho muito importante tornar a literatura brasileira conhecida pelos brasileiros e também internacionalizá-la. Numa época em que não há apoio ou incentivos por parte do governo, isso se torna ainda mais importante”, destacou Marifé em sua defesa.

A escolha foi feita entre outros quatro finalistas que participaram de um pitching na tarde desta segunda-feira (23). Em inglês, eles defenderam a sua candidatura diante das juradas. Concorreram: André Fonseca, editor da Citadel; Taty Leite, booktuber e coordenadora do Vá Ler um Livro; Kim Doria, gerente de comunicação da Boitempo, e Verena Alice Borelli, gestora estratégica da Belas Letras. Cada um deles teve 15 minutos para a defesa (confira os principais destaques de cada uma das defesas no fim desta matéria).

Cena do filme 'A vida invisível de Eurídice Gusmão', inspirado no livro de Martha Batalha e indicado ao Oscar 2020
Cena do filme 'A vida invisível de Eurídice Gusmão', inspirado no livro de Martha Batalha e indicado ao Oscar 2020
Em sua defesa, Anna resgatou a história de A vida secreta de Eurídice Gusmão. "Quando li a obra, sabia que tinha uma joia nas minhas mãos". Ela e Luciana Villas-Boas acreditaram tanto na obra que decidira apresentá-la a editores internacionais antes mesmo de o livro sair no Brasil. Confiaram no instinto e a primeira a apostar foi a alemã Suhrkamp. Ela reconhece que esse caso foi uma exceção e defendeu que, "para conseguirmos vender no exterior, precisamos criar o sucesso primeiro no Brasil", disse. Anna falou ainda sobre a perda de espaço da literatura brasileira no cenário internacional e sobre a importância de se reconquistar esse espaço.

Ela destacou ainda o trabalho da VB&M em se aproximar do leitor final por meio de suas redes sociais e também sobre o novo fazer do agente literário: "Tem um universo de obras literárias sendo escritas e o trabalho do agente é fazer essa triagem. Acho que o trabalho do agente é fundamental", defendeu.

Lu Magalhães frisou que a decisão não foi fácil. Ao longo de 40 minutos, as juradas debateram intensamente sobre quem deveria ganhar o prêmio. “É importante ressaltar que a gente tinha um panorama que mostra a diversidade da indústria do livro. Todos representariam muito bem o Brasil, mas acabamos chegando na Anna”, resumiu a sócia do PN.

Carol Rocha, que agora passa o cetro para Anna, fez uma recomendação para quando 2022 chegar: “Eu descobri uma outra feira na edição em que eu participei como Jovem Talento. Tive a oportunidade de descobrir uma visão do mercado totalmente distinta, participar de outros debates e conhecer outras pessoas. Então a dica que eu tenho é para ela liberar ao máximo a agenda para ela aproveitar esse outro lado da feira. Acho uma oportunidade muito especial de descobrir uma nova Frankfurt”.

O Prêmio Jovens Talentos é realizado pelo PublishNews com o patrocínio do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e apoio da Feira do Livro de Frankfurt. A ganhadora seguirá com todas as despesas de passagens e hospedagens custeadas pela organização, além de uma ajuda de custo no valor de 500 euros. Mas, isso só em 2022, para quando está prevista uma nova edição do Prêmio.

Além de estarem para sempre inscritos na história do Prêmio Jovens Talentos, os outros quatro finalistas terão acesso à Frankfurt Conference, a programação profissional da Feira do Livro de Frankfurt, que acontecerá de forma híbrida (presencialmente lá na Alemanha e transmitida ao vivo pela internet). Além disso, caso embarquem para Frankfurt em 2022, poderão participar de parte da agenda dos Jovens Talentos (há programas semelhantes em países como EUA, Reino Unido, Alemanha, Suíça e China).

Confira como foi a defesa dos outros Jovens Talentos:

O primeiro a defender a sua candidatura foi André Fonseca. Em sua apresentação, o editor da Citadel falou sobre sua trajetória e focou no trabalho por trás do sucesso de Mais esperto que o diabo, livro mais vendido de 2020. Falou sobre o “novo” papel do editor e os vários papeis atribuídos a esse cargo hoje em dia: “Quando ele erra, é o maior culpado, mas quando acerta é o maior recompensado”. Explicou também como o best-seller da editora chegou às mãos da Citadel e como foi trabalhado até chegar ao público. “Reforçamos a parceria [com o Instituto Napoleon Hill] e trabalhamos para pegar os direitos de quase todas as outras editoras”, concluiu.

Depois da vencedora, quem apresentou a sua candidatura foi Kim Dória. O gerente de comunicação da Boitempo apresentou dados da última Pesquisa Retratos da Leitura – entre 2015 e 2019, o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores – e defendeu a importância de se criar novos leitores e contextualizou o momento atual que o mercado editorial brasileiro enfrenta. Ele mostrou ainda o seu trabalho à frente da tour de Angela Davis no Brasil, que reuniu mais de 22 mil pessoas no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. “Pude ver a semente que foi plantada nesse evento”, disse. “Gostaria de dizer que minha carreira é permeada por amor: amor pelo trabalho, por mudança e pelas pessoas com quem eu trabalho, além do amor pelas ideias”, finalizou.

A quarta a defender a sua candidatura foi Taty Leite. Ela falou da sua missão de fazer as pessoas se apaixonarem pela literatura. Com o seu projeto Vá Ler um Livro, que inclui o canal no YouTube e perfis em redes sociais, ela apresenta livros clássicos e populares para o público em uma linguagem simples e interessante. Ela ressaltou o seu trabalho voltado para alunos do ensino médio. Através de videoaulas gratuitas, ela tem por objetivo despertar o interesse desses alunos para a literatura brasileira.

Verena Alice Borelli, gestora da Bellas Letras, finalizou o pitching. Ela apresentou os principais dados e metas alcançadas pela editora nos últimos anos. Por exemplo, em 2019, a editora venceu o National Innovation Prize e adotou também um modelo diferente de trabalhar, focando no relacionamento com o consumidor. A partir disso, 52% dos produtos desenvolvidos pela editora vieram das ideias do time e consumidores. Na sua defesa, ela, que é responsável pela gestão de pessoas na editora gaúcha, ressaltou o cuidado emocional que a empresa tem com seus funcionários e a comunicação franca com os leitores. “Foi um desafio muito grande alinhar a estratégia da empresa com as necessidades dos clientes”, encerrou a finalista.

Os cinco JTs tiveram a oportunidade de defenderem ideias e debaterem teses no PublishNews+, área exclusiva para assinantes do PN. Para reler os respectivos artigos, clique aqui e clique aqui para conferir um perfil de cada um dos finalistas.

Confira a galeria de vencedores do Prêmio Jovens Talentos nos anos anteriores:

Carolina Rocha (2019)

Diana Passy (2018)

Gustavo Lembert (2017)

Guilherme Filippone (2016)

Daniel Lameira (2015)

[24/08/2021 10:40:00]