Julio Cesar Cruz e Roberto Novaes são os homenageados do Prêmio PublishNews 2020
PublishNews, Leonardo Neto, 06/05/2021
Os distribuidores estão à frente da Catavento desde os anos 1990 e receberão a homenagem em cerimônia virtual a ser realizada na próxima quarta-feira (12)

Julio e Roberto serão homenageados no Prêmio PublishNews 2020. Cerimônia acontece no próximo dia 12 | Divulgação
Julio e Roberto serão homenageados no Prêmio PublishNews 2020. Cerimônia acontece no próximo dia 12 | Divulgação
Fundada em 1964, a Catavento testemunhou muitos avanços – e crises – vividos pelo mercado livreiro nacional. Fundada por Waldir Martins Fontes, Raimundo Nonato, Ramiro Novaes e Manoel Augusto, a empresa se tornou uma referência e hoje é dirigida pelos filhos de Ramiro e Manoel, respectivamente Roberto Novaes e Julio Cesar da Cruz. Eles serão os homenageados pelo Prêmio PublishNews 2020 na categoria Contribuição ao Mercado Editorial. Antes deles, receberam o prêmio Paulo Rocco (2016), Alfredo Weiszflog (2017), Luiz Alves (2018) e Karin Schindler (2019).

“Em casa de ferreiro, espeto é de ferro”. Com essa frase, Julio se lembra da sua infância. Na casa, repleta de livros, a leitura era, antes de qualquer coisa, um prazer. Ele se recorda da descoberta de Karl May, o alemão que, sem sair da Alemanha, contou aos seus leitores a saga de cowboys no Velho Oeste americano, histórias do misterioso Oriente ou na distante África. Aquilo encantou o jovem leitor, que depois se embrenhou na leitura de clássicos e hoje diz preferir os thrillers (se diz apaixonado pela obra de Harlan Coben) e as biografias.

Roberto também lembra Karl May como um marco na sua infância, mas foi profundamente marcado pelos livros de arte. O Barroco, o Expressionismo, o Impressionismo... Aquilo encantava o leitor em formação. Mais tarde, um encontro com os livros de urbanismo, acabaram ditando a sua formação de arquiteto. Hoje, prefere ler ficção. “Biografias não são o meu forte”.

Julio foi o primeiro a entrar para o time da Catavento. A essa altura, Waldir Martins Fontes, que decidiu ser editor, e Raimundo Nonato, que foi para o varejo ao fundar a Farmalivros, já tinham deixado a sociedade. Ele se lembra de ir, ainda muito jovem para a empresa do pai, ajudar no manuseio dos livros, mas foi só em 1983, quando já estudava Engenharia, que entrou pra valer no negócio. Ingressou na área administrativa e financeira, capitaneada por Ramiro.

Já Roberto entrou para a Catavento mais tarde, em 1992 e foi para a área comercial, comandada por Manoel, pai de Julio. Essa troca era uma tentativa de não privilegiar demais os filhos recém-chegados à empresa.

Um engenheiro e um arquiteto, que podiam erguer edificações e repensar cidades, passaram a tocar a distribuidora de livros fundada pelos pais e se tornaram uma referência no ramo livreiro nacional. Ramiro deixou a empresa em 1994 e Manoel, em 99.

Rindo, Julio lembra que os desafios fazem parte do negócio e sua grande missão é perceber tendências e ver quais caminhos que o mercado vai seguir. Adaptação tem sido palavra de ordem. Uma das primeiras mudanças a que teve que se adaptar foi a da quebra de exclusividade por parte dos editores. “Foi uma mudança muito significativa, que alterou, inclusive, todas as políticas comerciais, envolvendo prazos e descontos”, se lembra.

Outra mudança importante apontada por ele foi o desafio imposto pelas livrarias de ampliar o leque de opções. A Catavento precisava representar mais editoras. “Isso exigiu um esforço muito grande!”, lembra.

Roberto volta aos tempos de inflação alta, pré-Plano Real. “O mimeógrafo rodava o tempo todo, tentando atualizar a lista de preços dos livros”, conta. Com o fim da inflação, veio a consignação e toma-lhe uma nova mudança nos negócios. Adaptar-se, bom repetir, é uma palavra de ordem no negócio.

O mimeógrafo aos poucos foi aposentado. A Catavento foi uma das primeiras empresas do setor editorial a se informatizar. Julio garante que foi a primeira distribuidora a fazer isso. Com os incipientes cartões perfurados, controlavam seus estoques e geriam, de forma rudimentar, mas informatizada, os seus metadados.

Em 2018, com o pedido de recuperação judicial da Cultura e da Saraiva, mais uma crise, mais uma ruptura. Conseguiram ampliar as livrarias atendidas, garantindo mais capilaridade. Depois, a crise do covid e aí inovar foi imperativo. A Catavento passou a dar apoio direto aos pequenos livreiros, com auxílio na criação de lojas virtuais, capacitação e um ferramental de marketing que pudesse ajudar seus clientes.

O grande desafio, na opinião dos dois homenageados, tem sido se adaptar às mudanças do perfil dos consumidores. E isso dá gancho para pensar no futuro. “Acreditamos muito no produto livro, como ferramenta de conhecimento, lazer, divulgação de ideias e da cultura. Ele nunca será esquecido”, diz Julio. “A experiência do consumidor está mudando e nós temos que acompanhá-los. Hoje muitas das vendas acontecem pela internet e isso tende a se ampliar. Por outro lado, acreditamos que uma das formas de vender o livro ainda é no ambiente físico. O ambiente da livraria propicia àquele leitor que já é leitor uma experiência, que não é atendida pelo e-commerce”, analisa Julio. “A exposição do livro, aliado ao atendimento, ainda tem um campo grande a ser explorado e pode crescer. O desafio hoje é fazer que o ponto físico tenha o que agregar aos leitores. Essa é uma questão de fé, mas não é uma fé irracional. É uma fé raciocinada”, completou.

Roberto levanta a questão do livro digital. “A sombra que o livro digital chegou a fazer no nosso mercado não se concretizou”, disse apontando que percebeu crescimento na movimentação de livros físicos agora durante a pandemia. Ele vê nos pontos alternativos (supermercados, lojas de conveniência, de brinquedos e até pet shops) uma forma de conquistar novos leitores. “Sempre ouvimos dizer que o produto livro está muito distante de grande parte da população. A gente passou a acreditar que se a gente conseguisse fazer o livro aparecer na frente do consumidor, teríamos a chance de fazer esse consumidor um leitor”, argumentou.

Julio, no entanto, salienta que não acredita que esses pontos alternativos podem concorrer com as livrarias. “A oferta é muito pequena. O consumidor vai ao supermercado comprar arroz e feijão e topa com o livro. O próximo exemplar poderá ser comprado na livraria. Temos que fomentar o nascimento de novos leitores”, disse.

O futuro estará ainda nas livrarias de bairro, defende Roberto. “Elas vão ter um potencial grande, praqueles que conseguirem passar por esse momento de pandemia”, profetizou. “A proximidade, o charme, o café, as obras de arte, tudo isso contribuirá para o retorno dos leitores às livrarias”, defendeu.

No entanto, uma preocupação se faz presente: a guerra pelo preço. “Não estamos valorizando o nosso produto, que é o livro. Derrubar o preço é prejudicial e perigoso”, alerta Julio.

Para arrematar a conversa, eles voltam a lembrar dos pais. “A nossa sorte foi manter o ensinamento que veio por parte deles. A escola veio de lá. Nós não nos desviamos do foco de manter a nossa integridade de mercado até hoje. Nossa raiz continua a mesma. Só buscamos correr atrás de tendências”, ressaltou Julio.

O Prêmio PublishNews será entregue na próxima quarta-feira (12). Na cerimônia, também será conhecido o ganhador do Prêmio Profissional de Vendas e de Marketing do Ano. Para votar no seu favorito, no fim dessa matéria tem uma cédula virtual de votação.

Para participar da cerimônia virtual, que contará com uma entrevista com os homenageados, é necessário se inscrever clicando aqui.

O Prêmio PublishNews tem patrocínio da Amazon e da MVB/Metabooks e apoio da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

[06/05/2021 10:10:00]