Experimente perguntar a alguém quais são os planos para o feriado. Viajar, ficar em casa, descansar, beber, maratonar séries, ir ao cinema (sim, alguns em São Paulo já funcionam), correr, andar de bicicleta, academia, família, filhos, amigos, namorar. Claro, há muito mais coisas que podemos fazer, mas o ponto aqui é: quantas pessoas que você conhece responderão ler? Não há aqui um julgamento se poucas ou muitas, o que há é o fato de o hábito de leitura se tornar realmente um hábito. O cardápio é amplo e as possibilidades são muitas. Como colocar a leitura na sua vida e na vida de pessoas de quem você gosta e quer que se tornem leitores? Passa por muitas variáveis, mas é preciso estar atento a algumas delas.
Lembro que quando eu dava aula de literatura pra uma turma do 9º ano do fundamental, eles precisavam ler Dom Casmurro. Quando eu disse isso na sala, os narizes torceram e os bufos foram altos. Não ler o Bruxo não era uma opção. Montei um esquema de leitura dos contos do Machado em sala de aula, de um jeito um tanto teatral. Cada personagem era lido por um aluno e por mim. Lemos muitos contos. Eles nunca tinham lido nada do nosso maior autor e adoraram, depois disso ler Dom Casmurro foi mais interessante, porque líamos na sala alguns trechos também. É preciso conhecer. É preciso oferecer de maneira leve e mostrar que ler pode ser muito prazeroso.
Outro exemplo que me lembro ocorreu quando eu trabalhava na editora Saraiva e precisávamos treinar os atendentes da livraria Saraiva para eles venderem nossos livros de administração e negócios. Eles entravam na sala de treinamento com cara de entediados. Claro, ver um editor falar dos seus livros com o intuito de treiná-los a vender? Poxa, que coisa mais chata. Eu preparava o material antes de todas as reuniões. Separava trechos com as maiores curiosidades e com casos de empresas de sucesso. Contava histórias dos personagens do livro (claro que eu inventava um pouco) e os fazia entender por conta dessas histórias.
São exemplos que eu usei para tentar incutir o livro na vida das pessoas. Claro, um deles tinha um fundamento comercial, mas o importante aqui é a maneira em como faremos pra mostrar o livro. Mostrar no sentido de revelar, abrir e ler para as pessoas. Contar histórias, pegar na mão e dizer “venha comigo”. Funciona, pode ter certeza de que funciona. Não pode haver pressão por prazo nem por tempo de leitura. Não precisa estipular número de páginas diárias nem “leia até o capítulo tal”. Não pressione, só mostre o quão interessante pode ser ler a leitura.
Na primavera de 1998, Bluma Lennon, professora de Cambridge, está lendo um livro de poemas de Emily Dickinson quando é atropelada. Depois que ela morre, um colega recebe um exemplar de A linha da sombra, de Joseph Conrad, em que Bluma escreve uma misteriosa dedicatória. Intrigado, ele parte numa busca que o leva a Buenos Aires. Bom, aí... Mas me diz, e no feriado? ;)
Marcio Coelho começou sua carreira como revisor na antiga editora Siciliano, passou por muitas editoras como Saraiva, Nova Fronteira e Ediouro. Trabalhou na TAG – Experiências Literárias, prestou consultoria para clubes de assinaturas de livros, é professor de cursos voltados ao mercado editorial e gerente de projetos especiais do Grupo Editorial Pensamento. Além de viver de livros há mais de duas décadas, é apaixonado por eles.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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