Brasil perde 4,6 milhões de leitores entre 2015 e 2019, aponta Retratos da Leitura
PublishNews, Leonardo Neto, 11/09/2020
Perda mais significativa foi entre os leitores das classes A e B, com ensino superior. Disputa do tempo por redes sociais e serviços de streaming pode ser a resposta.

Brasil perdeu mais de quatro milhões de leitores nos últimos quatro anos | © Monkey Business / Shutterstock
Brasil perdeu mais de quatro milhões de leitores nos últimos quatro anos | © Monkey Business / Shutterstock
Em 2015, os brasileiros superaram a média mundial dos usuários do Instagram. Foi nesse ano também que começou a escalada do Spotify, lançado em versão beta em 2014. Junto com isso, a Netflix, que aportou no Brasil em 2011, se tornou popular. Serviços que só existem no virtual se proliferaram e se tornaram parte importante do dia a dia do brasileiro médio. E isso acabou impactando no índice de leitores do país.

A pesquisa Retratos da Leitura, o mais importante medidor da hábito de leitura do brasileiro, mostra isso. Entre 2015, ano da última edição, e 2019, o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores. O estudo considera leitor aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses. A definição segue critérios internacionais definidos pelo Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe (Cerlalc).

Entre os enquadrados como leitores, apenas 31% declararam ter lido um livro inteiro nos últimos três meses. Extrapolando este número, o Ibope Inteligência concluiu que apenas 60 milhões de brasileiros atingiram este patamar.

A média de livros lidos nos últimos três meses foi de 2,6. Este número cresce entre aqueles considerados leitores e chega a 5,04. O número é superior ao registrado em 2015, quando os a média de livros lidos foi de 4,54. A média de livros lidos no ano é de 4,95.

Entre as respondentes que se identificam no gênero feminino, 54% são leitoras. Já entre os do gênero masculino, esse índice é de 50%. Quando olhada a distribuição por faixa etária, somente os leitores de cinco a dez anos cresceram, de 67% para 71%. Todas as demais sofreram variações negativas.

A divisão por escolaridade demonstra perda também em todos os níveis educacionais, com destaque para o nível superior, que perdeu 14 pontos percentuais entre 2015 e 2019.

Observando apenas os que estão em idade escolar, somente os estudantes do Ensino Fundamental I e os do Ensino Médio apresentaram crescimento do número de leitores. Entre os estudantes da primeira categoria, o crescimento foi de quatro pontos percentuais. Já entre os estudantes do Ensino Médio, o crescimento foi de um ponto percentual. Entre os estudantes do Ensino Fundamental II, a perda foi de nove pontos percentuais e entre os do Ensino Superior, a queda foi de sete pontos percentuais.

Marcos da Veiga Pereira, vice-presidente do Instituto Pró-Livro (IPL), presente na coletiva de imprensa que aconteceu na manhã desta sexta-feira (11) lembrou a suspensão das compras de livros de literatura pelo governo federal em 2015 e só retomadas em 2019. “O custo disso a gente está vendo aqui”, comentou.

Para 26% dos respondentes, a principal motivação para se ler um livro é o gosto. Este índice sobe para 38%, quando considerados aqueles “leitores de literatura”. Na sequência aparecem “crescimento pessoal” (17%) e “distração” (14%).

O "tema ou o assunto" (33%) do livro é o principal fator que influencia na hora da escolha de um livro. "Dicas de outras pessoas" (12%), "título do livro" (11%) e "capa" (11%) também são importantes nesta decisão.

Uma boa notícia é que aumentou o número de pessoas que responderam que gostariam de ter lido mais. Em 2015, 77% dos respondentes disseram sim para esta pergunta. Em 2019, o número cresceu para 82%. No entanto, a falta de tempo é a principal razão para não ter lido mais. Esta foi a resposta dada por 47% dos respondentes.

Corroborando a tese da competição pelo tempo do leitor, Zoara Failla, coordenadora da pesquisa pelo IPL, ressaltou o aumento significativo do uso da internet no tempo livre dos respondentes. Se em 2015, 47% dos respondentes disseram usar esse tempo navegando pela web, em 2019, o índice chegou a 66%. Foram substanciais também os crescimentos do tempo gasto usando o WhatsApp (de 43% para 62%); assistindo vídeos ou filmes em casa (de 44% para 51%) ou usando Facebook, Twitter ou Instagram (de 35% para 44%).

Para 26% dos respondentes, a falta de paciência é o principal fator apontado como dificuldade para ler. Três respostas ligadas diretamente ao analfabetismo funcional têm relevância nas respostas: “Lê muito devagar” (19%), “Não tem concentração suficiente para ler” (13%) e “Não compreende a maior parte do que lê” (9%).

A Bíblia continua sendo o livro mais marcante. A cabana, de William P. Young, ficou em segundo, e O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, aparecem na sequência.

Machado de Assis, Monteiro Lobato e Augusto Cury são os autores mais populares entre os respondentes da pesquisa.


Metodologia

Neste ano, a pesquisa Retratos da Leitura ganhou o suporte do Itaú Cultural, o que permitiu a ampliação da sua base de respondente e o alcance de todas as capitais brasileiras. O estudo é conduzido pelo Ibope Inteligência, que colheu informações de 8.076 entrevistados em 208 municípios entre outubro de 2019 e janeiro de 2020. Responderam à pesquisa pessoas com cinco anos e mais, alfabetizada ou não. A pesquisa tem 95% de confiança e margem de erro de um ponto percentual.

Clique aqui para acessar a íntegra da pesquisa.

Mais sobre a pesquisa

O Podcast do PublishNews desta sexta-feira trouxe uma edição especial, com a participação de Zoara Failla e Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.

Além disso, a pesquisa será apresentada ao grande público na próxima segunda-feira (14), às 19h, pelas redes sociais do Itaú Cultural: Facebook e YouTube.

Além disso, um ciclo de debates, a partir do dia 21 de setembro, vai trazer a participação de diversos especialistas para esmiuçar os números apurados pela Retratos da Leitura.

[11/09/2020 13:00:00]