Auditoria se recusa a emitir opinião sobre situação da Saraiva
PublishNews, Redação, 16/06/2020
‘Não há como estimar quais seriam os impactos com a normalização das vendas e a situação econômica e financeira da Companhia vem se deteriorando’, diz a Grant Thornton, contratada para revisar as informações contábeis da Saraiva

Auditores apontam que a situação econômico-financeira da Saraiva vem se deteriorando | © Humberto Sousa / Divulgação
Auditores apontam que a situação econômico-financeira da Saraiva vem se deteriorando | © Humberto Sousa / Divulgação

A Saraiva divulgou, na tarde desta segunda-feira (15), os resultados referentes ao primeiro trimestre de 2020. No período, a empresa registrou receita bruta de R$ 141,3 milhões, 33,6% menor do que a apurada em igual período de 2019. A queda da receita bruta nas lojas físicas foi de 24,6% na mesma base de comparação, enquanto que no e-commerce a diminuição foi de 48%. No período, o EBITDA (Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) ficou negativo em R$ 26,9 milhões, apresentando um ganho de R$ 20,2 milhões em relação ao primeiro trimestre de 2019. O prejuízo líquido no período foi de R$ 41,3 milhões.

Da sua parte, a empresa justificou os números pela crise econômica iniciada em 2015 e explicou que adotou várias iniciativas para reverter os efeitos negativos provocados por ela. No entanto, os “impactos causados pela crise econômica, associados aos efeitos dos acontecimentos no tempo, tais como o aumento do preço médio dos livros abaixo do esperado, o encolhimento de alguns segmentos de produtos que tinham representatividade relevante no faturamento; as dificuldades enfrentadas para a realização de créditos tributários; a dificuldade de contratação de novas linhas de crédito; e a importante queda de faturamento gerada por problemas originados na implementação do novo sistema de gestão, comprometeram a obtenção dos resultados almejados”.

Mas, o que chamou a atenção foi o parecer da Grant Thornton Auditores Independentes, contratada pela Saraiva para revisar as informações contábeis intermediárias individuais e consolidadas da empresa. A consultoria explica que a administração da empresa é a responsável pela elaboração dos números e que a sua responsabilidade é a “de expressar uma conclusão sobre essas informações”.

No entanto, a auditoria preferiu não expressar uma opinião. “Não nos foi possível obter evidência apropriada e suficiente para fundamentar nossa conclusão sobre as informações contábeis intermediárias individuais e consolidadas”, diz o relatório.

A auditoria faz um alerta importante. Depois de resgatar o histórico recente da empresa, desde o pedido de recuperação judicial da empresa até a elaboração de um plano de viabilidade econômica, apresentado pelo ex-CEO Luis Mario Bilenky, em fevereiro passado, a Grant Thornton alertou: "Com base nos procedimentos de revisão realizados até a emissão de nosso relatório, identificamos que a expectativa de faturamento, geração de caixa e ajustes de custos considerados no novo plano de viabilidade econômica anteriormente mencionado não se concretizaram”. Além disso, a auditoria aponta que o plano de viabilidade econômico foi significativamente impactado pelos efeitos da pandemia da covid-19. “Como consequência, até a presente data, não há como estimar quais seriam os impactos com a normalização das vendas e a situação econômica e financeira da Companhia vem se deteriorando", conclui.

A auditoria observou ainda que a Saraiva recorreu à Justiça para apresentar um novo plano de recuperação judicial. “Até a presente data a Companhia continua em um processo de consumo de caixa e aumento do prejuízo do período e do prejuízo acumulado”, ressalta a Grant Thornton.

Os auditores independentes dizem no seu parecer que a continuidade da Saraiva dependerá de eventos futuros como a mensuração dos impactos da pandemia na operação da empresa; a aprovação do novo plano de viabilidade econômico-financeira por parte dos credores e a eleição de novos membros para o Conselho de Administração, já que quatro dos cinco membros pediram para sair no último dia 05.

Por fim, a Grant Thornton afirma que “não foi possível, através dos procedimentos de revisão, concluir sobre a viabilidade da continuidade operacional da companhia na presente data, tendo em vista a impossibilidade de evidenciar quais seriam as fontes de recursos que serão geradas, sejam operacionais ou de terceiros, para suportar a continuidade mínima”.

[16/06/2020 10:00:00]