No último dia 9, houve um encontro, ou melhor, uma teleconferência, que pode definir novas bases para o livro na Europa. A ideia é “aproveitar” a disruptura provocada pela pandemia para afinar a legislação e “consertar” a economia da indústria editorial, além de pleitear apoio financeiro (principalmente) e institucional. De um lado estava a Federação dos Editores Europeus e Internacionais (EIBF), do outro lado (ou, em outra tela) estava a comissária da União Europeia para Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude. A EIBF reúne editores de 28 países da Europa e oito estrangeiros e, quando fundada, em 2017, estava mais preocupada com questões de direitos autorais (e a “ameaça” digital), mas agora concentra seus esforços para defender um “ecossistema livreiro, sustentável e competitivo.”
Mas, apoios (e verbas) institucionais à parte, qual é a situação das editoras e livreiros no espaço europeu, e como elas podem ser “sustentáveis” (ou minimamente viáveis) em tempos de vírus?
Na França, uma sondagem do Livres Hebdo prevê quebra de 27% no faturamento em 2020, após as livrarias registrarem que venderam apenas metade no mês de março, em relação ao ano anterior. A pesquisa também calcula em 30% a perda de receita total das editoras. Lembrando que a França ainda está sob estado de emergência com sérias restrições ao comércio. Os números um pouco mais brandos talvez reflitam a proibição da Amazon de vender livros durante a pandemia. Um tribunal francês obrigou a gigante varejista a se limitar a vender “produtos essenciais” (uma lista que não inclui livros), em respeito à saúde de seus trabalhadores locais.
Após um mês fechadas, as livrarias na Alemanha poderão abrir a partir do dia 20. A Börsenverein, associação do livro alemã, estima que este mês de portas fechadas custou à economia do livro teutão meio bilhão de euros.
Já na Itália, já foi permitida reabertura das livrarias mas… elas não querem abrir, aparentemente. A Librai Editori Distribuzione in Rete, uma plataforma digital de 247 livrarias, afirmou que seus associados se manterão com as portas fechadas até tempos mais seguros. “Como livreiros, estamos felizes com a atenção repentina dada a nosso trabalho… mas não temos intenção nenhuma de nos expor somente para fingir uma recuperação cultural das almas, que só será obtido quando a segurança de todos for assegurada.”
Na Letônia, as livrarias foram reabertas, mas só nos dias de semana, e alguns varejistas falam em perdas de 45% do faturamento.
Na Holanda (ou, como querem agora, nos Países Baixos), as livrarias nunca ficaram muito tempo fechadas, mas as que ficavam no aeroporto e estações de trem, e que respondiam por parte significativa das vendas, acabaram fechando por falta de público, dada a proibição de viajar. Por sinal, os editores estão preocupados com a possível proibição de viagem nas férias de verão (que sempre puxa as vendas) e se perguntam se os holandeses que forem forçados que passar as férias em casa terão disposição para ler.
Na Espanha, a grande expectativa era em torno deste dia 23 de abril, quando se comemora o dia de São Jorge (Saint Jordi) na Catalunha e, as ruas e ramblas de Barcelona se enchem de barraquinhas de flores (que os homens compram para oferecer às mulheres) e… de livros (que as mulheres oferecem aos homens). O dia 23 de abril, por sinal, é o Dia Internacional do Livro, e a data sempre foi considerada a “partida” para os grandes lançamentos (e festas) editoriais. Porém, uma vez o vírus foi especialmente cruel com a Espanha, dessa vez nem São Jorge deu um jeito, e a festa foi mesmo adiada para dia 23 de julho.
Julio Silveira é editor, escritor e curador. Fundou a Casa da Palavra em 1996, dirigiu a Nova Fronteira/Agir e hoje dedica-se à Ímã Editorial, no Brasil, e à Motor Editorial, em Portugal. É atual curador do LER, Festival do Leitor.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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