Não é só o corona que preocupa o setor editorial brasileiro
PublishNews, Leonardo Neto, 18/03/2020
Às vésperas da explosão da pandemia, BNDES suspendeu linha de crédito a pequenos e médios editores. CBL entra em campo e tenta mediar situação.

No início do mês de março, editores foram surpreendidos com uma carta da Caixa Econômica Federal que dizia sobre a suspensão do Cartão BNDES Caixa, que oferece a empresários uma linha de crédito facilitada. A medida, explica a carta, seria parte de uma reestruturação do instrumento e, segundo descrito no site do programa, a suspensão não é exclusiva ao setor editorial.

Na indústria do livro, o Cartão BNDES é muito utilizado na compra de papel, sobretudo por pequenos e médios editores. Em conversa com o PublishNews, um editor comentou: “No meu caso é um baque e tanto. Perderei minha linha de R$ 500 mil e não sei como farei para comprar papel e produzir meus livros. Outros editores estão na mesma situação. É uma facada no setor”.

"A suspensão dessa linha de crédito em meio à crise resultante da pandemia de covid-19 pode ferir de morte parte da indústria", avaliou outro.

Diante desse cenário, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) entrou em campo na tentativa de suspender os efeitos dessa decisão. Enviou ofício a Eduardo Duarte Guimarães, presidente da Caixa, explicando as consequências no mercado do livro. “Tal medida implicará em danos irreparáveis para o setor, dado o desafio que já atravessamos, agravado pela pandemia de coronavírus que nos assola neste momento”, diz o documento. “Prescindir desta fonte de financiamento é inviabilizar a sobrevivência de pequenas e médias editoras, que formam imensa maioria do setor. Neste momento de pandemia do coronavírus, é certo que as já escassas receitas recorrentes serão comprometidas pela redução do consumo, em virtude das ações de isolamento impostas pelo poder público para o cumprimento dos protocolos de saúde”, completa o ofício.

A CBL segue os passos da Associação Italiana de Editores. No país com mais casos da covid-19 na Europa, o mercado estima perdas de 25% nas vendas de livros. Diante desse cenário, a entidade italiana também acionou o seu governo central para solicitar isenções fiscais, suspensão das contribuições à seguridade social e linhas de crédito facilitada.

Em conversa que vai ao ar na próxima segunda-feira (23), em um episódio especial do Podcast do PublishNews, Vitor Tavares, presidente da CBL, externalizou a sua preocupação: “É um momento bastante complicado. Estamos trabalhando muito forte para encontrar caminhos e levar sugestões a todas as esferas de governo e fazer com que a gente sofra um pouco menos em face a esse período difícil”.

Outra ação que a CBL está levando adiante é a abertura de uma conversa com o Ministério da Economia. “Escrevemos ao ministro Paulo Guedes solicitando postergar o recolhimento do imposto de renda de pessoa jurídica e a contribuição do INSS do segundo trimestre do ano, além da redução de taxas de juros, manutenção e ampliação de linhas de crédito, abertura de linha de capital de giro para o setor”, disse.

Além disso Vitor comentou que está em contato com estados e municípios na tentativa de derrubar o IPTU de editoras e livrarias e ainda de manter os programas locais de compras de livros o que, segundo o presidente, “oxigeniza o nosso setor e pode nos ajudar neste momento difícil”.

“Vamos passar por muitas dificuldades, mais um período difícil, mas vamos sair muito mais forte do que já somos”, finalizou o presidente.

[18/03/2020 09:00:00]