Livro enfurece comunidade hispânica nos EUA
PublishNews, Lorenzo Herrero, 03/02/2020
‘American dirt’, de Jeanine Cummins, retrata uma livreira mexicana que foge para os EUA depois que a sua família foi dizimada por traficantes

‘American dirt’, de Jeanine Cummins, tem causado muita polêmica nos EUA ao retratar uma livreira mexicana que foge para os EUA depois que a sua família foi dizimada por traficantes. Turnê de divulgação do livro foi cancelada.
‘American dirt’, de Jeanine Cummins, tem causado muita polêmica nos EUA ao retratar uma livreira mexicana que foge para os EUA depois que a sua família foi dizimada por traficantes. Turnê de divulgação do livro foi cancelada.
O romance American dirt (Flartiron Books), escrito por Jeanine Cummins, foi anunciado como “um novo clássico americano”. E, sim, o objetivo da campanha de marketing foi alcançado: estão falando muito da obra, mas não pela sua qualidade. O romance aplaudido por Stephen King e Don Winslow abriu um interessante debate sobre a marginalização dos escritores hispânicos por parte da indústria editorial norte-americana.

Mais de 120 escritores – entre os quais se destacam Daniel Olivas, Myriam Gurba e a premiada mexicana Valeria Luiselli – assinaram uma carta aberta a Oprah Winfrey para que reconsidere a sua decisão de recomendar American dirt para seu clube de leitura.

O livro narra a história de uma livreira mexicana que se muda para os EUA, acompanhada de seu filho, depois que a sua família inteira foi assassinada por traficantes de drogas. O mexicanista e professor de estudos latino-americanos da Universidade Washington, de Saint Louis, no Missouri, declarou à France Press que “este é um livro que simplifica o México, que utiliza mal o espanhol, é um livro no qual a protagonista, que é mexicana, faz coisas que não fazem sentido para um mexicano”.

Depois do debate, a Flaritron Books decidiu suspender a turnê de promoção do livro, alegando que a liberdade da autora e as livrarias estão em perigo. Bob Miler, presidente da editora, se mostrou orgulhoso da publicação pela qual teve que desembolsar uma importante quantia em adiantamento para a autora. No entanto, ele reconheceu que talvez o erro tenha sido apresentar o livro como um romance que define a experiência de um migrante. “Lamento que uma obra de ficção bem-intencionado tenha se tornado vítima de um rancor tão cáustico”, declarou.

Liberdade de expressão à parte, o que está claro é que o escritores hispânicos levantaram suas vozes e não só para criticar a perpetuação dos estereótipos sobre os migrantes nos EUA, mas também para reivindicar o papel de suas vozes no mercado editorial norte-americano.

Os direitos de American dirt foram vendidos para Dinamarca (Strawberry), Suécia (Strawberry), Noruega (Gyldendal), Portugal (LeYa), Turquia (Epsilon) e Brasil (Intrínseca).

[03/02/2020 10:00:00]